A mudança de ocupante da cadeira presidencial parece ter alterado o foco da artilharia da Operação Lava Jato. Se antes, a cúpula petista, ligada a presidente afastada Dilma Rousseff, estava na linha de frente das investigações, agora, sob a gerência do interino Michel Temer, políticos do PMDB passaram a protagonizar o noticiário do petrolão. Em média, a cada quatro dias um peemedebista foi alvo de denúncias. Isso em quase um mês de governo Temer.
LINHA DO TEMPO: Em 27 dias, novo governo sofreu ‘ataque’ em massa da Lava Jato
O impacto mais significativo ocorreu com a divulgação de áudios gravados pelo ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, em que caciques do PMDB aparecem em falas comprometedoras conspirando contra a Lava Jato. As gravações fazem parte do acordo de delação premiada de Machado homologada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki.
O então ministro do Planejamento, Romero Jucá, foi o primeiro a se complicar. Logo no 12.º dia do governo Temer, Jucá se viu obrigado a deixar o cargo após a repercussão do áudio em que fala em firmar um “pacto” para deter a Lava Jato.
Uma semana depois, no 18.º dia de Temer, o governo sofreu outra baixa provocada pelos áudios: a do ministro de Transparência, Fiscalização e Controle, Fabiano Silveira, flagrado criticando a condução da Lava Jato e orientando Machado e o presidente do Senado, Renan Calheiros, sobre como se defender de possíveis acusações. Apesar de não ser peemedebista, Silveira foi indicado ao posto por Renan.
Nos dias seguintes novas gravações implicaram o presidente do Senado e o ex-presidente José Sarney. Ao ponto de o procurador-geral da República (PGR), Rodrigo Janot, solicitar a prisão de Jucá, Renan e Sarney, além do presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha, que já vinha sofrendo as consequências das investigações da Lava Jato mesmo antes da votação do impeachment que afastou Dilma.
E a artilharia do petrolão não deve parar por aí. Ministros peemedebistas, como Henrique Eduardo Alves (Turismo) e Geddel Vieira Lima (Governo), também são investigados pela PGR. Mesmo assim, foram prestigiados por Temer, que decidiu mantê-los no governo.
Investigações afetam a imagem do PMDB perante a opinião pública
Peemedebistas paranaenses apontam que o ataque ao partido – e de aliados – com o avanço das investigações da Lava Jato logo no primeiro mês de governo desestabiliza a linha de frente do presidente interino Michel Temer (PMDB) perante o Congresso Nacional. “Isso prejudica, fragiliza o governo perante a opinião pública. E a opinião pública influencia muito no comportamento dos parlamentares”, aponta o deputado federal João Arruda.
O parlamentar acredita que é possível que a instabilidade política possa chegar ao ponto de desestabilizar a votação definitiva do impeachment de Dilma Rousseff (PT) no Senado. “E quanto mais toma lá, dá cá, mais desgastada fica a imagem do governo. É um ciclo vicioso. É o mesmo dilema que vivia a Dilma. O Temer agora tem a caneta nas mãos, mas negociar com a caneta também é complicado”, avalia.
O deputado Osmar Serraglio destaca que o presidente interino virou refém do chamado “centrão” do Congresso, o que o comprometeu a nomear indicações partidárias em seu primeiro escalão, incluindo investigados da Lava Jato. “Se virar as costas para o ‘centrão’, não aprova mais nada. Ele precisa de tato, tolerância, paciência, fica engolindo cobras e lagartos para tocar o governo. Esse é o grande problema da nossa estrutura política”, observa.
O deputado Sérgio Souza tem uma visão mais positiva da atuação de Temer no Congresso, apontando a aprovação em massa da Desvinculação de Receitas da União (DRU) e do plano de urgência de outros projetos de interesse do Planalto. “Mas, de fato, fica um constrangimento muito grande com o desenrolar das investigações, com a citação de ministros [na Lava Jato]. Lógico que haverá vários companheiros, inclusive aliados, criticando o governo”, diz.