Fabiano Silveira: críticas à Operação Lava jato levaram à sua demissão.| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

Mesmo a contragosto, o governo interino de Michel Temer começa a sofrer uma “faxina ética”. O ministro da Transparência, Fiscalização e Controle, Fabiano Silveira, pediu demissão do cargo na noite de segunda-feira (30), poucas horas depois de receber um telefonema de apoio do presidente em exercício. A pressão de centenas de servidores da antiga Controladoria-Geral da União (CGU), que ameaçaram entregar os cargos caso ele permanecesse, pesou na decisão do ministro. A saída foi anunciada em uma carta, na qual Silveira diz a Temer ter sido “alvo de especulações insólitas”.

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Silveira foi flagrado em gravações criticando a Operação Lava Jato e orientando o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), sobre como agir perante as investigações da Procuradoria-Geral da República (PGR). Na época dos áudios, divulgados pela TV Globo no domingo (29), o agora ex-ministro da Transparência era conselheiro do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), órgão que fiscaliza o Poder Judiciário, indicado pelo próprio Renan.

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Em sua carta de demissão, Silveira disse que jamais intercedeu junto a órgãos públicos em favor de terceiros. “Observo ser um despropósito sugerir que o Ministério Público possa sofrer algum tipo de influência externa, tantas foram as demonstrações de independência no cumprimento de seus deveres ao longo de todos esses anos”, afirmou.

Silveira é o segundo ministro demissionário de Temer em uma semana – o primeiro foi o senador Romero Jucá, que deixou o Ministério do Planejamento no último dia 23, acusado de conspirar contra a Lava Jato em conversa gravada com Sérgio Machado.

“Decepcionante”

O áudio que derrubou o ministro Fabiano Silveira causou indignação na Transparência Internacional, que atua em mais de cem países no combate à corrupção. Em forma de protesto, a ONG “suspendeu” o diálogo com o Ministério da Transparência do Brasil. No texto, o diretor para a América da organização, Alejandro Salas, afirma que “ninguém deve estar acima da lei”.

Chance perdida

Nas duas situações, Temer perdeu a oportunidade de demonstrar à opinião pública que não será conivente com tentativas de barrar as investigações da Lava Jato. Podendo demitir sumariamente os ministros sob suspeita, o presidente interino optou por delegar aos acusados a tarefa formal de pedir demissão.

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Em telefonema, feito à tarde, Temer disse ter confiança em Silveira e minimizou a gravação divulgada no domingo (29). Contudo, deixou o ministro à vontade para tomar a decisão que julgasse melhor.

Segundo a reportagem apurou, o ministro ficou preocupado com a reação dos funcionários públicos da pasta, que protestaram ao longo do dia exigindo a sua saída.

Pelo menos dois servidores que ocupam cadeiras de comando em seus estados ameaçaram deixar as posições: Adilmar Gregorin, chefe de unidade na Bahia, e Roberto Viégas, que ocupa o mesmo posto em São Paulo.