No coração de Brasília, quase em cima do cruzamento que dá o formato de avião ao Plano Piloto, fica um posto de combustíveis. O lugar é conhecido pela gasolina barata, pela lanchonete que serve kebab (sanduíche árabe) e por uma lavanderia (aparentemente, só de roupas). Lá, nunca houve serviço de limpeza de automóveis – mas é o inexistente lava jato que colocou o estabelecimento como referência do maior escândalo de corrupção do país.
Do Posto da Torre, como é chamado, irradiaram as investigações da Polícia Federal (PF) sobre o escândalo de corrupção na Petrobras que estremeceram a Praça dos Três Poderes, a 3,5 quilômetros de distância. A poucos metros, há ainda a churrascaria preferida dos parlamentares e alguns dos hotéis mais procurados por lobistas e políticos.
Onde a Lava Jato começou
Posto de combustíveis que inspirou a operação fica na área central de Brasília e é famoso por lavanderia.
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Leia a matéria completaDificuldade financeira
Veja o depoimento de Chater em que ele diz que a preocupação era manter o negócio funcionando.
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A história do posto é uma síntese da Lava Jato. Narrativa que começa com o dono do estabelecimento, Carlos Habib Chater, 46 anos, preso logo no início da operação, em março do ano passado, na penitenciária de São José dos Pinhais. Até poucos meses antes, Chater comandava outro empreendimento dentro do posto, uma casa de câmbio que há anos despertava atenção das autoridades.
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Nos anos 90, Chater foi denunciado pelo Ministério Público Federal por operar casa de câmbio sem autorização do Banco Central. Em 2008, o empresário voltou a ser citado em uma investigação da PF sobre o ex-deputado paranaense José Janene (PP), morto em 2010. Mais tarde, escutas da Lava Jato evidenciaram a parceria de Charter com o doleiro Alberto Youssef.
Os dois praticavam uma modalidade ilegal de transação financeira conhecida como “dólar-cabo”. Segundo as investigações, Chater disponibilizava dinheiro vivo em reais para Youssef e recebia compensações em dólares, inclusive em contas no exterior. “Para alguns pagamentos que o Youssef precisava fazer a políticos em Brasília, ele utilizava o Posto da Torre. Principalmente para dinheiro em espécie”, diz o procurador do MPF, Diogo Castor de Mattos.
Na prática, ambos estão envolvidos no mesmo esquema de lavagem de dinheiro da Lava Jato. Em depoimento ao juiz federal Sergio Moro, em dezembro do ano passado, Chater mencionou que os negócios com Youssef e outros doleiros eram na verdade “um favor”. “Eu fazia já pensando em tomar dinheiro emprestado no outro dia, essa que é a verdade”, declarou.
Segundo Mattos e o delegado da PF Marcio Anselmo, pelo menos dois deputados do PP receberam dinheiro vivo no posto: o pernambucano Pedro Correa (que já não exerce mais mandato e foi condenado na semana passada pelo juiz Sergio Moro) e o paranaense Nelson Meurer, que nega a acusação. As situações de entrega de dinheiro vivo foram descritas pelo ex-gerente-geral do posto, Ediel Viana da Silva, em depoimento à PF.
Na semana passada, a reportagem da Gazeta do Povo foi ao posto, que vem sendo gerido pelo cunhado de Chater. Havia filas para abastecer. O atual gerente e os demais funcionários não têm autorização para falar sobre a Lava Jato. Não há rastros da casa de câmbio. A lavanderia (de roupas) continua um sucesso.
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