O advogado Antônio Mariz de Oliveira pode ter pela segunda vez a nomeação para o Ministério da Justiça inviabilizada por causa do posicionamento em relação a Operação Lava Jato. Em abril do ano passado, o criminalista já havia sido convidado para assumir a pasta no governo provisório do então vice-presidente Michel Temer (PMDB), mas acabou tendo o nome descartado depois de críticas à condução da força-tarefa e sugerir que a Polícia Federal (PF) deveria ter outras prioridades além do combate à corrupção.
Agora, mais uma vez, Temer afirma que procura colocar à frente do Ministério da Justiça alguém “com o perfil de Mariz” para substituir Alexandre de Moraes, que foi indicado pelo presidente para o Supremo Tribunal Federal (STF). A força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, porém, já mostra preocupação com a possível indicação de Mariz.
A PF está subordinada ao Ministério da Justiça, o que aumenta a apreensão a respeito do nome que vai comandar a pasta. Três integrantes da força-tarefa citam as críticas do criminalista à operação e à delação premiada como razões para não o desejarem na liderança do combate à corrupção.
Em janeiro do ano passado, Mariz assinou um manifesto ao lado de mais de cem advogados contra a Lava Jato. Os profissionais classificavam a investigação como uma espécie de “inquisição”, que desrespeitava os princípios de ampla defesa e presunção de inocência. Mariz também deu entrevistas criticando o uso das colaborações premiadas e interceptações telefônicas.
Mariz já atuou na defesa de Temer na Lava Jato no STF. Também defendeu o executivo da Camargo Correa Eduardo Leite na operação e só deixou o caso quando ele decidiu firmar um acordo de colaboração premiada.
Em 2009, Mariz de Oliveira já havia atuado na defesa da Camargo Correa na Operação Castelo de Areia, em que a empreiteira era acusada de crimes financeiros e lavagem de dinheiro. Temer também aparecia entre os investigados da época – ele era deputado federal. A operação acabou sendo anulada por obtenção de provas ilegais.
O advogado também atuou no mensalão, quando conseguiu a absolvição de Ayanna Tenório, do Banco Rural, e participou da defesa do marqueteiro Duda Mendonça, responsável pela campanha de Luiz Inácio da Silva à Presidência em 2002. Na lista de clientes de Mariz de Oliveira também estão Paulo Maluf e o jornalista Pimenta Neves.
Perfil
Mariz atua como advogado criminalista há quase 50 anos e é considerado um profissional “à moda antiga”, que impede os clientes de falar com a imprensa antes do julgamento e é contrário aos acordos de colaboração premiada.
A imprensa, inclusive, é apontada como vilã pelo criminalista em seu site oficial. “Em face da sanha punitiva que tomou conta da sociedade, repita-se, capitaneada pela mídia sensacionalista e irresponsável, o sagrado direito de defesa vem sendo considerado inconveniente, inoportuno, motivo de atraso das punições e, portanto, fator de impunidade”, diz um trecho do texto de apresentação do escritório Mariz de Oliveira, assinado pelo criminalista.
“Nos difíceis dias da atualidade, a figura do advogado, especialmente o criminal, tem provocado a ira pública estimulada pela má imprensa. Esta faz questão de nos confundir com o cliente e se esforça para passar a ideia de que somos defensores do crime e não porta-vozes dos direitos constitucionais e processuais do acusado”, diz outro trecho do material.
A página oficial de Mariz também conta sobre o primeiro cliente do criminalista: um carregador autônomo do Mercado Municipal, preso em flagrante por furto de uma saca de arroz.
“Naquela época, delitos punidos com reclusão não permitiam a concessão de fiança e por isso, mesmo alegando inocência, o homem ainda estava preso quando foi interrogado. Feito o requerimento de relaxamento da prisão, conquistou-se a primeira vitória: o pedido foi deferido pelo Juiz, levando às lágrimas não só o réu, mas os dois advogados que o defendiam, Antonio Cláudio Mariz de Oliveira e o hoje Desembargador Alberto Viégas Mariz de Oliveira”, diz um trecho do texto.
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