Sede da Odebrecht: mais um indicativo de pagamento de propina.| Foto: Pilar Olivares/Reuters

A força-tarefa da Lava Jato identificou 135 telefonemas entre o operador de propinas Bernardo Freiburghaus e o diretor da empreiteira Odebrecht Rogério Araújo, afastado do cargo depois que foi preso pela 14.ª etapa da operação, em 19 de junho. As ligações ocorreram entre 1.º de julho de 2010 e 27 de fevereiro de 2013. Apenas alguns dias depois de vários desses contatos foram realizados depósitos milionários em contas de offshores na Suíça controladas pelo então diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa – primeiro delator da Lava Jato.

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Costa confessou ter recebido US$ 23 milhões da Odebrecht. Ele apontou Freiburghaus como o operador de propinas da maior empreiteira do País na estatal. Para os investigadores, as datas coincidentes entre os telefonemas de Freiburghaus e Araújo e depósitos nas contas do ex-diretor da Petrobras representam um dos mais fortes indicativos do envolvimento da Odebrecht no esquema de corrupção – Marcelo Odebrecht e Araújo estão presos por ordem do juiz federal Sergio Moro.

Os dados constam de documento entregue pela Procuradoria da República à Justiça para reforçar a “necessidade da manutenção da prisão” de Marcelo Odebrecht e de outros três executivos, inclusive Araújo.

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Defesas

A Odebrecht alegou que “desconhece completamente os fatos e o teor dos supostos telefonemas apontados e mais uma vez questiona o vazamento seletivo de informações, vício que compromete o exercício do direito de defesa”. A defesa de Freiburghaus não foi localizada na segunda-feira (6). A defesa de Paulo Roberto Costa alega que ele colaborou plenamente com as investigações.

Foram 111 ligações do terminal atribuído a Araújo para Freiburghaus, com duração total de 1 hora, 41 minutos e 17 segundos. Freiburghaus efetuou 24 ligações para Araújo, com duração total de 21 minutos e 13 segundos. “Na análise do cruzamento desses dados foi possível identificar correlação entre, de um lado, as ligações telefônicas entre Araújo e Bernardo e, de outro lado, os créditos nas contas de Paulo Roberto no exterior”, afirmam os procuradores da República da Lava Jato.

Transferências

A investigação mostra que, considerando o lapso de até oito dias entre as ligações de Araújo e Freiburghaus e as transferências para Costa no exterior, foram identificados 28 conjuntos de ligações/operações. “Tais evidências, consubstanciadas na correlação entre as ligações telefônicas de Araújo e Bernardo e os créditos nas contas de Paulo Roberto corroboram a colaboração deste e demonstram que Bernardo efetivamente era o operador utilizado pela Odebrecht para efetuar repasse de vantagens indevidas para funcionários da Petrobras no exterior”, afirmam os procuradores.

“Havia, de fato, uma relação triangular: Odebrecht [Rogério Araújo e Marcelo Odebrecht] - Bernardo - Paulo Roberto, fartamente demonstrada em documentos.”

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A força-tarefa identificou, por exemplo, dois telefonemas no dia 17 de maio de 2011 entre Araújo e o operador de propinas. No dia seguinte foram depositados US$ 750 mil em uma conta de Costa. No dia 19 de maio mais US$ 240 mil caíram na conta do então diretor da Petrobras. No dia 23 de maio, novo depósito, de US$ 1 milhão.

Os procuradores estão convencidos da participação de Marcelo Odebrecht. “Embora as ligações telefônicas identificadas demonstrem que Araújo era o interlocutor com o operador da Odebrecht, tal conduta é também imputável a Marcelo Odebrecht. Não temos dúvidas de que este, na condição de presidente da Odebrecht, tinha conhecimento e concordância dos sofisticados meios de lavagem de dinheiro utilizados pela empresa no repasse de propinas para dirigentes da Petrobras.”

A “alternativa”, afirmam os procuradores, seria crer que Araújo “tenha pago, de seu bolso, mais de US$ 23 milhões para Paulo Roberto”. “É certo que os pagamentos, que beneficiavam a empresa, saíam dos cofres desta. Não é crível que pagamentos dessa dimensão não tivessem a concordância de seu principal gestor, Marcelo Odebrecht. Não é crível ainda que os pagamentos, na quantidade e volume em que se deram, ocorressem sem o conhecimento e concordância de Marcelo Odebrecht. Tanto é assim que, mesmo depois de revelados os fatos, não houve qualquer censura, apuração ou punição em relação ao comportamento de Araújo. Pelo contrário, a empresa, instruída por seu presidente, insiste em negar os fatos.”