O esquema de lavagem de dinheiro desviado de contratos da Petrobras ficou mais “sofisticado” do que o apurado até agora. Um dos motivos seria a figura do “lavador”. Antes, os acusado se valiam de empresas de fachada brasileiras para lavar dinheiro – principalmente por meio do doleiro Alberto Youssef. Já na 14.ª fase da Operação Lava Jato, deflagrada na sexta-feira (19) e que prendeu excutivos das empreiteira Odebrecht e Andrade Dutierrez, os operadores montaram um intrincado esquema de remessas ao exterior por meio de offshores.
Para os investigadores, a mudança de um patamar para o outro se explica como uma exigência “mercadológica”. Enquanto algumas empresas ficariam satisfeitas com o modelo mais “simples” de esquentar propina, outras demandariam mais segurança para seus negócios – e por isso pagariam mais caro, como clientes “premium”.
“Todo operador ganha uma porcentagem. Quando trabalhávamos no [caso] Banestado, era 0,5%, 1%, 2%. Hoje estamos trabalhando com margens que chegam a até 20%”, diz o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima.
“A lei valerá para todos”
A 14ª fase da Operação Lava Jato, foi batizada de Erga Omnes. O termo jurídico em latim significa que uma norma ou decisão “valerá para todos” – uma referência aos executivos presos das duas maiores empreiteiras do país, a Odebrecht e a Andrade Gutierrez, que não haviam sido alvos da Lava Jato até agora.
Ele diz que os pagamentos subiram porque “as leis de lavagem se tornaram mais rígidas e ficou mais fácil pegar o lavador”. Portanto, as pessoas que se interessam por esse tipo de serviço “conseguem um trabalho mais bem feito do que simplesmente pegar uma empresa fantasma”.
Para o delegado Igor Romário de Paula, um dos responsáveis pela Lava Jato, as empresas escolhem a maneira como querem esquentar o dinheiro desviado de contratos com estatais. “Talvez a empresa informe [ao operador]: ‘Olha, a gente quer que esse recurso vá para o exterior”, diz.
O delegado afirma que a propina enviada para outros países é mais difícil de ser encontrada do que a permanece no Brasil, mas ainda assim “deixa rastros”. “O problema é identificar o rastro, se não tiver um indicativo de onde está a conta [usada para a lavagem]”.
Nesta 14.ª fase, os investigadores utilizaram principalmente depoimentos de delação premiada, que depois foram corroborados com documentos colhidos na Suíça, em Mônaco e no Panamá.
Empreiteiros presos fazem exame no IML em Curitiba
Segundo Polícia Federal, parte dos 12 presos na nova fase da operação devem começar a depor ainda neste sábado (20)
- Da Redação, com agências
Os doze presos da 14ª. fase da operação Lava Jato, entre eles os presidentes das empreiteiras Odebrecht e Andrade Gutierrez, realizaram exames de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML) de Curitiba na manhã deste sábado (20). O procedimento é padrão após a prisão.
Os novos investigados chegaram ao instituto por volta das 9h45 de sábado e deixaram o local pouco antes do meio-dia. Nenhum deles falou com a imprensa. Segundo a Polícia Federal (PF) os depoimentos dos detidos nesta nova fase da investigação, deflagrada na sexta-feira (19), começarão a ser ouvidos na tarde deste sábado.
Alvos
Marcelo Odebrecht e Otávio Marques de Azevedo foram quase os últimos a passarem pelos exames. Eles presidem, respectivamente, as empresas Odebrecht e Andrade Gutierrez, consideradas as duas maiores empreiteiras do país e que aparecem como alvos centrais na 14ª. fase da Lava Jato.
Conforme informações da PF, tanto a Odebrecht como a Andrade Gutierrez são acusadas de participar do esquema criminoso de cartel, fraude à licitação e pagamento de propinas em contratos da Petrobras.
Investigações apontam que estas empreiteiras utilizariam contas no exterior para lavar os recursos ilícitos, principalmente das diretorias de Abastecimento e Serviços e que teriam “domínio de tudo o que acontecia”.
A PF classificou ainda o esquema destas empresas como mais “sofisticado” que o da anterior. Isso porque, ao invés de usar empresas fantasmas no Brasil, as empreiteiras investigadas teriam usado remessas ao exterior e offshores para lavar ativos.
Carceragem
A carceragem da Polícia Federal em Curitiba tem capacidade para 18 prisioneiros. Com a prisão de 12 executivos ligados à Odebrecht e à Andrade Gutierrez, a lotação máxima foi atingida. As seis celas estão divididas em duas alas. O doleiro Alberto Youssef fica sozinho numa delas. Os demais seriam distribuídos pelas outras: três em cada. Quem sobra dorme em colchonetes num corredor.
Cada cela tem entre 16 e 20 metros quadrados, com beliches de cimento presos às paredes. Há o que é chamado de “boi”, um vaso sanitário rente ao piso, sem divisória. Dois presos são obrigados a dormir em colchões no chão. Pelo regulamento interno, todos têm direito a uma hora diária de banho de sol. Não há TV ou rádio. É proibido fumar.
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