O médico-legista Daniel Muñoz contestou a tese de suicídio e afirmou que a namorada de Paulo César Farias, Suzana Marcolino, morreu assassinada. Em seu depoimento, nesta quinta-feira (9) durante o julgamento dos quatro réus acusados de envolvimento na morte do casal. Muñoz repetiu a versão do perito Domingos Tochetto, com quem trabalhou na revisão das provas técnicas do crime feitas pela perícia alagoana.
Segundo Muñoz, Suzana morreu em posição de defesa, o que descartaria o suicídio, como sugere o laudo oficial da perícia feita na época do crime. O legista baseia sua tese na quantidade de resíduos de pólvora encontrada na palma da mão de Suzana. Para ele, caso ela tivesse cometido suicídio, os resíduos ficariam em maior quantidade entre o indicador e polegar. "O local onde os resíduos estão indica que ela estava com a arma entre as mãos, como se quisesse se defender do tiro", explicou.
O médico-legista disse ainda que a distância entre o revólver e o corpo - de três centímetros - leva à hipótese de homicídio. "O suicida quer morrer, mas não quer sofrer. Então ele encosta a arma no corpo, para ter certeza de que não vai sofrer", disse.
O legista questionou também o fato de a arma usada no crime não ter impressões digitais. Em testes balísticos feitos por ele com 20 pessoas indicaram que todas deixaram suas impressões na arma. "O revólver utilizado no crime não tinha nem mancha de sangue nem impressões digitais, numa clara evidência que alguém limpou a arma", ressaltou. "Isso leva a hipótese de que Suzana Marcolino foi assassinada."
Em depoimento anterior, o perito Domingos Tochetto também questionou o resultado da perícia. Na época do crime, ambos foram convidados pela Justiça alagoana para fazer uma revisão das provas técnicas feitas pela perícia do Estado.
Policial nega participação em crime
Um dos quatro ex-seguranças acusados de envolvimento nas mortes de Paulo César Farias e de sua namorada, Suzana Marcolino, o policial Josemar Faustino dos Santos disse à reportagem nada ter a ver com o ocorrido na casa de praia de PC, em junho de 1996.Ele afirma, porém, que não tem como dizer se a namorada de PC se matou ou se foi assassinada.
A única tese adotada pela defesa dos ex-seguranças, cujo advogado é patrocinado por um irmão de PC, é de que Suzana matou Paulo César e depois se suicidou."Pode até ter sido duplo homicídio, mas não tenho nada a ver com isso", disse Josemar, durante o intervalo do julgamento dos réus, em Maceió.
Suzana não atirou em PC Farias nem em si mesma, diz perito
Um dos peritos que trabalharam na confecção do segundo laudo da morte de Paulo César Farias e Suzana Marcolino disse nesta quinta-feira (9) que ela não efetuou os disparos que mataram o casal, na casa de praia do empresário, em 1996.
"Não foi identificada nas mãos de Suzana sequer uma partícula oriunda de tiro. Se ela atirou no seu peito, por que não apareceu sangue nas mãos de Suzana? Por que não apareceu sangue na arma? Isso leva a excluir tecnicamente a possibilidade de que ela tenha empunhado a arma para atingir a si mesma", afirmou Domingos Tochetto.
Essa conclusão já havia sido apresentada no laudo emitido em 1999. Esse documento contesta o primeiro laudo, elaborado em 1996 por peritos de Alagoas e pela equipe do legista Badan Palhares, que defende a tese de que Suzana atirou em PC Farias e depois cometeu suicídio.
O segundo laudo conclui que houve um duplo homicídio. O casal foi encontrado morto na cama na manhã de 23 de junho de 1996. PC Farias tinha 50 anos e Suzana, 28.
Segundo Tochetto, os exames realizados por Palhares na Unicamp encontraram apenas substâncias existentes na água mineral usada pelos peritos alagoanos no teste para verificar resíduos de pólvora nas mãos de Suzana e PC Farias.
"Dos quatro elementos encontrados através do microscópico eletrônico de varredura nas mãos de Suzana Marcolino, três deles estão presentes na água mineral. Os mesmos quatro elementos metálicos que foram localizados nas mãos de Suzana foram localizados nas mãos de Paulo César Farias. Nenhum desses elementos é oriundo de um tiro", disse o perito.
"A ausência de resíduos metálicos, a ausência de sangue na arma, a ausência de sangue na mão dela são provas de que ela não empunhou a arma", disse Domingos Tochetto.Ponto-chave das investigações posteriores foi a análise sobre a altura de Suzana -crucial para avaliar o disparo.
Em 1999, a Folha de S.Paulo publicou fotos que comprovaram que Suzana tinha no máximo 1,57 m, enquanto Badan considerara 1,67 m, embora não tenha registrado isso em seu laudo.
Ontem, Badan admitiu "lapso" ao não incluir a informação, mas procurou defender a tese do 1,67 m. Nesta manhã, a previsão é que o juiz Maurício Breda ouça outros dois peritos responsáveis pelo segundo laudo, Daniel Muñoz e Genival Veloso.
À tarde, devem ser ouvidos os quatro ex-seguranças de Paulo César Farias, acusados de envolvimento na morte do empresário e da namorada dele, Suzana Marcolino.
Devem falar os policiais militares Adeildo dos Santos, Reinaldo de Lima Filho, Josemar Faustino dos Santos e José Geraldo da Silva, que faziam a segurança do empresário e ex-tesoureiro da campanha de Fernando Collor de Mello, em 1989.
A Promotoria defende a tese de que os ex-seguranças são coautores do duplo homicídio qualificado por omissão, já que nada fizeram para impedir o crime. Com o depoimento deles, o julgamento caminha para a reta final. Após a fala de cada um dos quatro réus -que serão questionados pelo juiz, pela acusação e pela defesa-, é a vez dos promotores e dos advogados de defesa falarem. Primeiro fala a acusação, depois a defesa. Ainda pode haver réplica e tréplica.
Somente depois dessa fase é que os jurados são recolhidos a uma sala isolada e respondem a um questionário elaborado pelo juiz, decidindo se os réus são culpados ou inocentes. Se forem culpados, o juiz calcula a pena e a lê no plenário, onde também será comunicada uma eventual inocência dos ex-seguranças. Há possibilidade de que o julgamento se arraste até sábado.
Arma que matou PC Farias sumiu do Fórum de Maceió, diz promotor
A arma que matou o empresário Paulo César Farias e a namorada Suzana Marcolinosumiu do Fórum de Maceió, afirmou o promotor Marcos Mousinho, que atua no julgamento dos quatro seguranças acusados do crime. "Além da arma, sumiram também com os algodões que foram usados no exame resíduo gráfico nas mãos das vítimas", afirmou Mousinho. Segundo ele, a arma sumiu durante a reforma do fórum, entre 2008 e 2010. O promotor diz que não sabe quando desapareceram os seis tubos de ensaio com os algodões.
De acordo com um dos seguranças, os tubos de ensaio com os algodões sumiram durante a fase do processo, quando o caso estava sendo investigado pelo juiz Alberto Jorge Correia de Barros Lima. "Não sei se foi na fase do inquérito ou do processo que esse material sumiu", afirmou o promotor.
Mousinho disse que o prejuízo causado pelo sumiço da arma não é tão grande, porque a simulação pode ser feita com uma arma similar, mas em relação ao material coletado das mãos de PC e Suzana "a perda é total". "Não dá para reexaminar esse material, que foi colhido pelos peritos de Alagoas, no dia do crime", comentou.
O juiz disse que não sabia que a arma do crime havia sumido, mas, para ele, isso não prejudica o julgamento dos seguranças. Com relação aos algodões, o magistrado afirmou que não se lembrava, mas que, se haviam sumido, havia sido na fase de inquérito.
O chefe do Centro de Custódia de Armas e Munições, Nelson Brandão, não quis comentar o sumiço da arma, porque não dirigia o setor naquela época.De acordo com o juiz, várias armas sumiram do fórum durante a reforma do prédio, que foi interditado porque apresentava rachaduras. "Sumiram até com a aparelhagem do som do fórum", comentou Alberto Jorge.
Buraco da bala
Mousinho reclamou também da retirada de parte da parede do quarto por onde passou o tiro que matou Suzana. "A perícia feita pela segunda equipe de peritos só não foi mais prejudicada porque eles tiveram acesso às informações contidas no primeiro laudo", comentou o promotor, referindo-se ao laudo assinado pela equipe chefiada pelo perito Fortunato Badan Palhares.
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