Ao longo de seis meses de um “mandato-tampão” na presidência da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ) fez o papel desejado pelo Planalto. Deu ritmo à PEC do Executivo para definir um teto de gastos públicos para os próximos 20 anos e colocou a reforma da Previdência para tramitar na Casa, as duas prioridades do presidente da República, Michel Temer (PMDB), no ano passado. Agora, às vésperas de outra eleição na Câmara dos Deputados, quando disputará novamente a cadeira principal da Mesa Diretora, Maia pode se consolidar também como uma peça-chave para as articulações pré-2018, ao se comprometer com reformas espinhosas, defendidas por tucanos e pelo Planalto.
Com a cassação pelo STF das liminares que ameaçavam a sua candidatura à reeleição, Rodrigo Maia consolida o seu status de preferido da maioria dos parlamentares desde o início das articulações, ainda no final do ano passado.
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Leia a matéria completaA união das três legendas que dão suporte ao governo na Casa – DEM, PSDB e PMDB – começou a ser efetivamente costurada na Câmara dos Deputados em julho do ano passado, quando Maia venceu a eleição para presidir a Casa com apoio de tucanos e peemedebistas, integrantes das maiores bancadas do Legislativo, junto com o PT.
Veja os candidatos à presidência da Câmara
Antes, Rodrigo Maia havia sido preterido pelo Planalto na escolha do líder do governo Temer na Câmara dos Deputados. A vaga ficou com André Moura (PSC-SE), nome indicado pelo Centrão, bloco informal da Casa, forjado na “Era Cunha”, e que na época ainda reunia mais de dez legendas médias e pequenas.
Quando Maia foi depois lançado à principal cadeira da Casa, o Planalto aprovou. Era uma maneira de “recompensar” o aliado, derrotado outrora pelo Centrão. Mas o presidente Temer não atuou diretamente para a vitória do parlamentar do DEM, já que outros candidatos da base também estavam de olho no mesmo cargo.
Indiretamente, contudo, houve interferência: interlocutores do Planalto admitiram na época terem atuado para desidratar a candidatura de um correligionário – Marcelo Castro (PMDB-PI). Nos planos de um ainda interino presidente da República, a ideia era reforçar o “leque” de apoiadores e um presidente de Legislativo pertencente a outra sigla parecia mais vantajoso.
Ao PSDB, na época, sobrou a promessa do DEM e do PMDB de apoio futuro ao virtual candidato da legenda para presidir a Câmara dos Deputados em 2017 e 2018. Mas, o desempenho de Rodrigo Maia ao longo dos seis meses, atrelado à boa relação que ele mantém com o presidente nacional do PSDB, o senador e presidenciável Aécio Neves (MG), atraíram defensores da sua permanência.
Para “compensar” a ausência na disputa, e ratificar o apoio integral a Maia, o PSDB ganhou a Secretaria de Governo – pasta responsável pela articulação política entre o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional e “sem dono” desde a polêmica exoneração de Geddel Vieira Lima. Para a vaga, deve entrar o deputado federal Antonio Imbassahy (BA), ex-líder da bancada do PSDB.
O Planalto nega à imprensa ter feito qualquer negociação do tipo, mas confirma a nomeação do tucano logo após a realização das eleições no Legislativo. A preocupação do presidente Temer é com os demais candidatos da base aliada à presidência da Câmara dos Deputados, que podem alegar interferência indevida do Planalto na corrida interna.
Tido como articulador, Maia já foi citado na Lava Jato
Se confirmar o favoritismo nas urnas desta quinta, Rodrigo Felinto Ibarra Epitácio Maia, o Rodrigo Maia, naturalmente afasta um carimbo que o incomoda, o de figura-tampão na história do Legislativo, eleito apenas para substituir um polêmico Eduardo Cunha e “acalmar” o parlamento.
Ao contrário do seu pai, Cesar Maia (DEM), que ficou 12 anos à frente da prefeitura do Rio de Janeiro, Maia tem um perfil que se adequa ao parlamento. Em 2012, quando tentou ser prefeito do Rio de Janeiro em uma chapa na qual Clarissa Garotinho (PRB) se apresentava como vice, Maia fez pouco mais de 95 mil votos, amargando um terceiro lugar.
Na classificação do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar), Maia é tido como um “articulador”. No dia a dia do parlamento, mantém bom trânsito até entre os grupos de oposição. Adversários atestam que ele “cumpre acordos” e é “positivamente previsível”.
Mas a forte atuação de bastidores não se repete na condução pública das sessões plenárias, em boa medida deixadas a cargo dos demais integrantes da Mesa Diretora. Quando está na principal cadeira, lê com velocidade matérias já discutidas nos gabinetes, sem nenhuma preocupação em ser ouvido e compreendido no plenário.
Aos 46 anos, Rodrigo Maia está no seu quinto mandato como deputado federal. Em quase todas as legislaturas, esteve ligado a matérias tributárias e trabalhistas, áreas que agora estrão na mira do Planalto e do mercado. Liberal, Maia agrada o empresariado. Nas eleições de 2014, por exemplo, recebeu R$ 550 mil somente do Banco BMG S/A. Na disputa anterior ao Legislativo, em 2010, também houve doação do Itaú Unibanco S/A, BM&F Bovespa S/A e Banco Máxima S/A, entre colaborações de empresas do ramo imobiliário.
Mas os desafios de Maia, se de fato confirmado na principal cadeira da Câmara dos Deputados, não ficarão restritos a escolher a pauta de votações do plenário. Já citado em delações da Odebrecht, no âmbito da Operação Lava Jato, Maia pode se tornar alvo de investigação.
Chamado de “Botafogo” por delatores, em referência ao seu time de futebol, Maia teria pedido ajuda da Odebrecht para resolver pendências da campanha eleitoral de 2012. Em troca, ele daria apoio ao trâmite de uma medida provisória de interesse da empreiteira.
Maia nega a negociação e tem repetido que as doações foram todas registradas na Justiça Eleitoral.
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