O governo federal decidiu aderir à moda da divulgação de listas, mas não é nada do tipo 100 lugares para visitar antes de morrer. O Ministério da Fazenda publicou a relação dos 500 maiores devedores para a União. Fazem parte da lista empresas e pessoas físicas e os débitos se referem a impostos não recolhidos e multas aplicadas por sonegação ou outras irregularidades. A continha não é baixa. O saldo dos 500 maiores devedores chega a R$ 392 bilhões – o valor é 13 vezes maior do que o rombo de R$ 30 bilhões no orçamento do governo.
INFOGRÁFICO: Confira os maiores devedores da União
Tal qual um dono de boteco que expõe no caixa o cheque do cliente na esperança de receber o dinheiro, o governo federal divulgou a lista de devedores para pressionar pelo pagamento. Mas pode não ter efeito. É que algumas empresas devem mais R$ 1 bilhão. Para piorar, muitas estão em processo de falência.
No topo da lista de devedores está a Vale, com quase R$ 42 bilhões, sendo que a maior parte está em contestação judicial. Na sequência estão a Parmalat e a Petrobras. É grande a quantidade de bancos, como Bradesco, Santander e Itaú, que bateram recorde de lucro em 2014, e estão na relação divulgada pelo governo. Empresas do ramo de combustível e de cigarro aparecem com frequência, assim como nomes amplamente conhecidos pelo público, como Casas Bahia, Sadia, Renault, Volkswagen e Unilever. E até o Clube Atlético Mineiro e o governo de Minas Gerais figuram no rol de quem deve muito dinheiro para a União. Dentre os envolvidos na Operação Lava Jato se destacam a empreiteira Mendes Junior e uma empresa de câmbio e turismo pertencente ao doleiro Alberto Yousseff.
O governo alega que há muito tempo já divulga a lista de devedores, mas agora os dados estariam organizados e consolidados, mais facilmente consultáveis. A assessoria de imprensa do Ministério da Fazenda, em nota, ressaltou que o ministro Joaquim Levy tem dito em diversas ocasiões, que é projeto dessa gestão promover um incremento da arrecadação de créditos inscritos em dívida ativa, na busca pela justiça fiscal.
Juntos, os 500 devedores representam 28% de tudo o que está inscrito em dívida ativa. Muitos dos débitos estão sendo discutidos na Justiça e ao menos R$ 43,7 bilhões estão com a cobrança suspensa por decisões judiciais. O governo já conseguiu penhorar – ou recebeu em garantia móveis e imóveis – no valor de R$ 16,2 bilhões. Do total da dívida, pouco mais de R$ 100 bilhões em débitos foram parcelados para o pagamento. Contudo, a maior fatia, de R$ 228 bilhões, refere-se a valores que estão sendo cobrados e que a recuperação depende da iniciativa do devedor ou da localização de bens.
O ministério reconhece que alguns débitos podem caducar caso não haja garantias de pagamento, mas o governo tem a obrigação legal de insistir para receber o pagamento.
União tem parte da culpa ao promover sucessivos programas de refinanciamento
“É lamentável que entre os maus pagadores estejam empresas que foram do governo ou são do governo, como a Vale e a Petrobras”, comenta Gil Castelo Branco (foto), diretor-executivo da ONG Contas Abertas.
Para ele, é incompreensível a presença de bancos entre os grandes devedores. A União teria parte da culpa no montante da dívida acumulada, na opinião de Gil, porque os sucessivos programas de refinanciamentos, com vantagens para os devedores, seriam incentivos para deixar de lado as dívidas.
A ONG Contas Abertas calculou que o total do valor inscrito em dívida ativa chega a R$ 1,5 trilhão – o que representa mais de 50 vezes o dinheiro que o governo federal precisa para cobrir o rombo no orçamento. Gil menciona que o governo federal chegou a divulgar que “venderia” algumas dívidas – prática que está sendo realizada por governos estaduais e está sendo alvo de contestação judicial. “Se o governo não consegue cobrar, por que a iniciativa privada conseguiria?”, questiona Gil. Para ele, falta investimento em estrutura na Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional para cobrar as dívidas.
Quem concorda é Aldemário Araújo Castro, que por três anos atuou no setor de dívida ativa da União. Ele afirma que faltam instrumentos para conseguir cobrar as empresas.
Depois de 90 dias de atraso no recolhimento de um imposto, começa um processo administrativo de busca pelo pagamento. A empresa é notificada e, se não paga nem tenta negociar o débito, o valor é inscrito em dívida ativa e inicia um processo judicial de cobrança. (KB)
Colaborou Gabriel Krambeck
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