O empresário Luiz Abi Antoun, parente distante do governador Beto Richa (PSDB) que foi preso pela Operação Publicano na semana passada, interferia nas fiscalizações da Receita Estadual em Londrina, inclusive encerrando fiscalizações. Um dos casos em que a fiscalização teria sido encerrada nessas condições foi o da GV Alumínios, empresa que pertence a um sócio dos filhos de Abi.
Arrecadação cresce 19,7%, apesar da crise econômica
- Londrina
- Fábio Silveira e Juliana Gonçalves, do Jornal de Londrina
A arrecadação de impostos pela Delegacia da Receita Estadual em Londrina cresceu 19,78% entre janeiro e maio deste ano (11,2% já descontada a inflação), na comparação com o mesmo período de 2014. A informação foi divulgada pelo delegado regional, Marcelo Müller Melle. Ele atribuiu o crescimento da arrecadação, que ocorre num momento de retração da economia, a “alguns setores mais específicos” – como o de comunicações (182% a mais) e o de combustíveis (80%). Questionado se o aumento teria relação com a descoberta do esquema de corrupção na Delegacia de Londrina, Melle foi diplomático: “Não vamos julgar as situações”. Mas acabou admitindo a possibilidade. “Todo esse trabalho do Gaeco e da polícia acaba assustando um pouco os pretensos sonegadores.”
Esse é um dos casos de interferência de Luiz Abi nas ações da Receita Estadual denunciados pelo auditor fiscal Luiz Antônio de Souza ao Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). Souza está colaborando com as investigações a partir de um acordo de delação premiada.
Segundo Souza, a fiscalização foi aberta em 2011, pelo então inspetor regional de fiscalização, Milton Digiácomo, que foi preso na segunda fase Operação Publicano, na semana passada. Segundo Souza, o auditor destacado para essa fiscalização foi Amado Batista Luiz, que também foi preso preventivamente na semana passada. “O fiscal efetivamente iniciou a fiscalização na GV Alumínios, contudo, logo em seguida, veio a ordem de Luiz Abi para encerrar a investigação sem autuação”, disse Souza em depoimento prestado ao Gaeco em 4 de maio.
Ainda conforme o delator, “Luiz Abi passou essa ordem para Márcio de Albuquerque Lima”. Lima era o delegado da Receita em Londrina na época. A nomeação dele é atribuída por Souza a Abi, que embora não tivesse cargo no governo, é considerado pelo Gaeco “eminência parda” na gestão de Beto Richa.
A fiscalização foi encerrada sem que a GV Alumínios tivesse entregado a documentação pedida pela Receita Segundo Souza, o relatório feito pelo auditor diz que a fiscalização foi realizada e que “a empresa estava regular, apesar de sequer ter realizado efetivamente a fiscalização”.
A reportagem não conseguiu contato com a GV Alumínios nesta segunda-feira (15). O advogado de Luiz Abi, Antônio Carlos Coelho Mendes, disse que não daria entrevista. Os advogados de Milton Digiácomo e de Amado Batista Luiz não foram localizados pela reportagem.
Investigações
O Gaeco começa a ouvir nesta semana as 50 pessoas que foram presas na semana passada, na segunda fase da Operação Publicano. Um dos depoimentos mais esperados é o de Luiz Abi, considerado pelos investigadores como responsável pela indicação dos cargos de chefia na Delegacia da Receita Estadual de Londrina e um dos “cabeças” do suposto esquema sob investigação. A Operação Publicano investiga a denúncia de que auditores fiscais, contadores e empresários teriam formado uma “organização criminosa” para favorecer a sonegação de impostos mediante o pagamento de propina.
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