Preocupado em agradar o deputado Ciro Gomes (PSB-CE), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu criar mais um ministério, o 35º de seu governo: a Secretaria Nacional dos Portos. Para comandar o novo órgão, ele vai convidar Pedro Brito, atual ministro da Integração Nacional e um velho aliado de Ciro. O presidente definiu também que Walfrido dos Mares Guia será mesmo o novo ministro das Relações Institucionais e que a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy assumirá a pasta do Turismo. A conclusão da reforma ministerial, que ficou para o fim da próxima semana, depende agora da definição de quem será o novo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, no lugar de Luiz Fernando Furlan.
Como entregou a Pasta da Integração Nacional ao PMDB - o novo ministro, Geddel Vieira Lima, do PMDB da Bahia, tomará posse nesta sexta-feira (16)-, Lula decidiu compensar o PSB, criando a Secretaria Nacional dos Portos. Aliados históricos do presidente, os socialistas tinham, até ontem, dois ministérios - o da Integração Nacional, comandado por Ciro até o início do ano passado, e o da Ciência e Tecnologia, dirigido pelo físico Sérgio Resende, um aliado do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB).
Numa reunião com representantes do partido, o presidente, segundo fontes ouvidas pelo Valor, anunciou que criaria a Secretaria de Portos e pediu que eles indicassem o ministro. No PSB, já se sabia, no entanto, que Lula tinha preferência por Pedro Brito e que ele não aceitaria um nome que não tivesse a chancela de Ciro. A cúpula do partido decidiu, então, indicar Pedro Brito.
A idéia de criação da Secretaria Nacional dos Portos foi do líder do PSB na Câmara, deputado Márcio França (SP) - na verdade, o novo ministério cuidaria também dos aeroportos, mas a proposta acabou não vingando. O mais cotado para assumir o comando da nova Pasta, desde o início das negociações, era o deputado Beto Albuquerque (PSB-RS), vice-líder do governo na Câmara. Albuquerque é especialista no assunto, tendo sido secretário de Transportes no governo de Olívio Dutra (RS) no Rio Grande do Sul. Além disso, tinha a seu favor o fato de ser um dos parlamentares mais leais a Lula no Congresso. Acabou sendo preterido por causa do prestígio de Ciro Gomes junto ao presidente.
Técnico de carreira do Banco do Nordeste, Pedro Brito é um antigo aliado de Ciro, tendo presidido o Banco do Estado do Ceará e dirigido a Secretaria de Fazenda durante sua gestão como governador daquele Estado. No Ministério da Integração Nacional desde 2003, foi chefe de gabinete e secretário-executivo de Ciro antes de assumir o comando da Pasta, em abril de 2006. Antes de tornar-se ministro, conquistou a confiança de Lula ao coordenar dois projetos prioritários: a construção da ferrovia Nova Transnordestina e a polêmica transposição do rio São Francisco.
Desde que o PMDB aumentou as pressões para abocanhar o ministério, o nome de Brito era dado como certo para, pelo menos, um " prêmio de consolação " , como a presidência do BNB ou a chefia da recém-criada Sudene. Um de seus desafios, na nova função, será aplacar a ira do PR (ex-PL), partido que hoje comanda o Ministério dos Transportes e que perderá a área de portos para a nova secretaria.
A predominância do PMDB - o partido terá cinco ministérios a partir de hoje - criou fissuras no PSB. Ontem, ao deixar a reunião do Conselho Político, no Palácio do Planalto, o líder do PSB no Senado, Renato Casagrande (ES), disse que cinco Pastas para PMDB e a perda da Integração Nacional por seu partido criaram um " desequilíbrio na coalizão " . " O presidente não pode provocar um desequilíbrio na base. O PMDB e o PT têm uma participação muito grande" , criticou o senador.
No Conselho Político, que reúne os presidentes dos partidos aliados ao governo, Lula avisou que só concluirá a formação do ministério no fim da próxima semana. "Tenho muitas peças ainda a fechar nesse quebra-cabeça" , teria dito ele, segundo o presidente do PDT, deputado Carlos Lupi, cotado para assumir o Ministério da Previdência. Hoje, o presidente empossará, além de Geddel Vieira, mais dois ministros - Tarso Genro na Justiça e José Gomes Temporão, na Saúde.
O nó da reforma ministerial ainda a ser desatado está na escolha do substituto de Luiz Fernando Furlan, atual ministro do Desenvolvimento. Depois de convidar, sem sucesso, três empresários para o cargo, o presidente sondou Walfrido Mares Guia, atual ministro do Turismo, cotado originalmente para as Relações Institucionais, Pasta responsável pela articulação política. Walfrido chegou a dizer a Lula que aceitaria a função, mas explicou que precisava antes consultar seu partido, o PTB.
Os petebistas, segundo um ministro, reagiram mal à idéia. Consideraram que, na atual estrutura do governo Lula, a Pasta das Relações Institucionais é mais importante que a do Desenvolvimento. Ontem, o presidente desistiu de mexer com o PTB. Walfrido será mesmo o novo articulador político. Para seu lugar, no Turismo, Lula, segundo um ministro, convidará " nas próximas horas " Marta Suplicy, do PT. A dúvida remanescente é se a Infraero, estatal que administra os aeroportos, será transferida para o Turismo ou permanecerá na Defesa. Se depender dos militares, a estatal ficará onde está.
Falta ainda definir quem comandará o Ministério do Desenvolvimento Agrário. A Democracia Socialista, uma das tendências do PT, indicou Joaquim Soriano, mas Manuelzinho da Contag está no páreo para saber quem será o novo ministro.
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