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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sinalizou que o Brasil não deve apresentar uma meta ambiciosa para diminuir a emissão de gases causadores do efeito estufa na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-15), que será realizada em Copenhague, no início de dezembro. "Eu já assumi no dia 23 de setembro na ONU um compromisso, que é um megacompromisso, de diminuir o desmatamento em 80% até 2020", afirmou Lula, para uma plateia de mais de 800 pessoas que assistia ao 12º Congresso do PCdoB, na capital paulista.

"Não me peçam para fazer 25 milhões de habitantes na Amazônia viverem por conta das muriçocas. Eles querem desenvolvimento, se industrializar, ter carro, TV, telefone. Ou será que alguém pensa que a gente vai transformar a Amazônia em um santuário da humanidade?", ironizou o presidente, referindo-se às cobranças de países industrializados em relação ao Brasil. "Não venham cobrar do Brasil, pelo amor de Deus. O Brasil quer participar, vai ter proposta", disse ele, sem, no entanto, revelá-la.

A adoção de uma meta para a redução de emissões é um assunto que divide o governo. Enquanto o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, defende a meta dos 40%, outros, como a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, almejam um número que não prejudique o potencial de crescimento econômico do País. Segundo o governo, a diminuição do desmatamento em 80% até 2020 já diminuiria as emissões em pelo menos 20%.

Durante seu discurso, proferido no Palácio das Convenções do Anhembi, na zona norte da cidade, Lula defendeu que países industrializados assumam mais responsabilidades pelas emissões e sugeriu que a criação de um fundo que compense os países mais pobres pela preservação de reservas florestais tem como objetivo barrar o desenvolvimento.

"Países industrializados há 200 anos, não queiram cobrar igualdade com o Brasil. Nós temos 85% da nossa energia elétrica limpa e renovável. Nós temos 47% da nossa matriz renovável, a Inglaterra só tem 2%. Quem mais emite gás de efeito estufa são nossos amigos americanos. E há muito mais tempo", comparou. "O Brasil tem etanol, e estamos dizendo a eles: querem diminuir as emissões, façam como o Brasil e misturem etanol na gasolina de vocês."

Cobrança da ONU

O presidente afirmou ter ficado "indignado e nervoso" com a manchete do jornal "Folha de S.Paulo" de ontem, segundo a qual a ONU cobrou que o Brasil apresente uma meta clara para reduzir as emissões de gases antes da conferência que será realizada na Dinamarca. "Eu acabei de falar pra vocês que sou um homem de paciência, mas eu agora virei especialista nessas coisas aqui, sobretudo em ONU, e a ONU não tem condição política de cobrar um milésimo do Brasil", afirmou.

"Estou pedindo para a ONU desde o encontro do G-13 em Tóquio que a ONU criasse uma instituição e que tivesse um único número para que todo mundo trabalhasse com uma única referência, que fosse uma espécie de PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) que aferisse a emissão de gases de efeito estufa para cada país, para a gente não ficar trabalhando com números megadiversos. Ela não fez isso", disse.

Lula ressaltou que o Brasil vai explorar os recursos da Amazônia da forma "mais correta e responsável possível". "Acabou tempo que vinha ONG (organização não-governamental) do exterior ou alguém do exterior colocar o dedo no nariz do Brasil. E eu disse na conferência da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) no ano passado: não apontem o dedo sujo de vocês no combustível limpo do meu país. Não façam isso porque nós estamos dispostos a levar essa briga até as últimas consequências.

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