A Operação Lava Jato atingiu em cheio o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com as denúncias desta terça-feira (03). Ele foi acusado pela Procuradoria-Geral da República de ter responsabilidade no esquema de corrupção na Petrobras e também foi denunciado ao Supremo Tribunal Federal sob acusação de obstrução de Justiça no caso.
Janot aponta diretamente Lula como peça-chave dos desvios na estatal. “Pelo panorama dos elementos probatórios colhidos até aqui e descritos ao longo dessa manifestação, essa organização criminosa jamais poderia ter funcionado por tantos anos e de uma forma tão ampla e agressiva no âmbito do governo federal sem que o ex-presidente Lula dela participasse”, afirmou o procurador-geral.
Eixos
A Procuradoria narra que o aprofundamento das investigações mostrou que a organização criminosa tem dois eixos centrais: o primeiro ligado a membros do PT e o segundo, ao PMDB.
“No âmbito dos membros do PT, os novos elementos probatórios indicam uma atuação da organização criminosa de forma verticalizada, com um alcance bem mais amplo do que se imagina no início e com uma enorme concentração de poder nos chefes da organização”, afirmou Janot.
Em relação ao PMDB, Janot diz que há uma divisão entre as bancadas da Câmara dos Deputados e do Senado para a participação no esquema criminoso.
“Estes dois grupos, embora vinculados ao mesmo partido, ao que parece, atuam de forma autônoma, tanto em relação às indicações políticas para compor cargos relevantes no governo quanto na destinação de propina arrecadada a partir dos negócios escusos firmados no âmbito daquelas indicações”, diz o procurador-geral da República.
Acusações
Foram dois os atos do procurador-geral na tarde da terça. Primeiro, ele pediu que Lula seja investigado no inquérito principal que apura a existência de uma organização criminosa operando o esquema de desvio de recursos da Petrobras. Se o STF aceitar, ele passa a ser investigado neste inquérito principal --Lula vinha sendo alvo de apuração pela Lava Jato, mas o processo estava parado devido à indefinição sobre o foro dele.
Além disso, o ex-presidente foi denunciado ao Supremo em um aditamento em inquérito contra o senador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS). Lula é acusado de ter participado da compra do silêncio do ex-diretor Nestor Cerveró, impedindo sua delação premiada e atrapalhando as investigações da Lava Jato. O material está em sigilo e Lula pode virar réu caso a corte aceite a procedência da denúncia, dando início a um processo criminal.
Janot aponta que, mesmo longe do governo, Lula influenciava o Planalto e agia para tumultuar as investigações da Lava Jato, indícios que teriam surgido a partir das interceptações telefônicas autorizadas pelo juiz Sérgio Moro, de Curitiba.
“Os diálogos interceptados com autorização judicial não deixam dúvidas de que, embora afastado formalmente do governo, o ex-presidente Lula mantém o controle das decisões mais relevantes, inclusive no que concerne às articulações espúrias para influenciar o andamento da Operação Lava Jato”, diz.
Mais investigados
Janot, que prepara pedido de inquérito contra a presidente Dilma Rousseff, também mirou a cúpula de sua gestão; pediu a inclusão de três ministros e dois ex-titulares petistas de seu governo como investigados no inquérito que apura organização criminosa.
No mesmo parecer, também foi solicitada a ampliação dos investigados do núcleo do PMDB sob suspeita de participar do grupo criminoso que agiu na Petrobras, como o presidente da Câmara Eduardo Cunha (RJ) e ex-ministros do partido.
No total, Janot pediu ao Supremo a inclusão de mais 29 nomes no principal inquérito da Lava Jato, que já investiga 39 pessoas.
Entre os novos alvos estão os ministros Jaques Wagner (chefe de gabinete da Presidência), Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo), Edinho Silva (Comunicação Social), Giles Azevedo, assessor especial da presidente, os ex-ministros Antonio Palocci e Erenice Guerra, o presidente do Instituto Lula Paulo Okamotto, e o ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli.
No pedido de investigação, Janot escreveu: “Embora as investigações da Operação Lava-Jato tenham avançado bastante, ainda há necessidade de se esclarecer os papéis desempenhados por alguns integrantes dessa organização e se há outros envolvidos, bem como corroborar alguns fatos e informações trazidas no bojo dos acordos firmados. Caberá ao ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato no STF, autorizar ou não a inclusão dos novos investigados no inquérito.