Franklin Martins participou de seqüestro de embaixador
Curitiba O jornalista Franklin Martins, 58 anos, foi acusado, no ano passado, de ter usado sua influência no governo Lula para garantir a nomeação de parentes (irmão e mulher) em cargos públicos. O autor da acusação foi o colunista Diogo Mainardi, da revista Veja. Martins negou ter interferido nas indicações e está processando o colunista.
Mas o prestígio do jornalista junto ao presidente Lula é inegável, tanto que agora ele foi convidado para o Ministério. Natural de Vitória (ES) e criado no Rio de Janeiro, Martins participou ativamente da luta contra a ditadura. Em 1968 ele foi eleito presidente do Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal do Rio de Janeiro e preso logo em seguida. Foram dois meses atrás das grades.
Em setembro de 1969, Martins integrou o grupo, formado por militantes da Ação Libertadora Nacional e do Movimento Revolucionário 8 de Outubro, que seqüestrou o embaixador norte-americano Charles B. Elbrick para forçar o governo a libertar 15 presos políticos.
Depois desta ação, Martins deixou o Brasil para não ser preso. Em 1977, Martins voltou ao Brasil e ficou escondido em São Paulo até 1979, quando saiu a anistia. A entrada de Martins na grande imprensa se deu em 1985, como redator do Globo. Durante oito anos e meio o jornalista foi comentarista político da TV Globo, da Globonews e da CBN. Seu contrato com a emissora não foi renovado em 2006, justamente depois das denúncias de uso de influência no governo Lula.
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Ao dar posse nesta quinta-feira a cinco novos ministros, no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez uma veemente defesa de uma rede nacional de TV pública, disse que a Previdência "vai ser consertada", citou bons resultados da economia e destacou o governo de coalizão de seu segundo mandato, dando especial atenção ao PDT.
Ao justificar a opção de levar o pedetista Carlos Lupi para o Ministério do Trabalho, e não para a Previdência, Lula afirmou ter concluído que ele teria problemas para implementar algumas medidas consideradas essenciais pelo governo, mas não citou a expressão reforma. O presidente disse que conhece o pensamento do PDT e seria complicado cobrar de Lupi medidas que sofreriam resistência de seu partido.
Sobre Luiz Marinho, que vai para a Previdência, Lula disse que o sindicalista tem o perfil ideal para reorganizar a Previdência e estancar o déficit.
Rede pública de TV
Já a rede pública de TV - que tomou boa parte do discurso de Lula - ficará a cargo do novo ministro da Comunicação Social, Franklin Martins.
Também tomaram posse Alfredo Nascimento ,que volta aos Transportes; e Miguel Jorge, no Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Com a confirmação de que Guilherme Cassel continua à frente do Desenvolvimento Agrário, dentro da cota do PT, só falta escolher quem é o novo titular da Secretaria da Pesca, outro cargo ocupado por petista, e também quem vai comandar a Secretaria dos Portos, que ficaria com o PSB.
Lula disse que o governo quer criar uma televisão que divulgue cultura e educação, sem se preocupar com índices de audiência. O presidente afirmou que não quer "inventar a roda" nem uma "TV chapa branca", apenas uma rede séria e preocupada com informação de qualidade.
- Chapa branca parece bom, mas enche o saco. Gente puxando o saco não dá certo. Queremos uma coisa séria, não é para falar bem ou mal do governo, é uma coisa para informar. Para dar a informação tal como ela é, sem pintar de cor de rosa, mas também sem pichar - disse.
O presidente afirmou ainda que o governo quer dar oportunidade aos brasileiros de assistir a programas culturais a qualquer hora do dia. Segundo ele, as TVs privadas oferecem bons programas, mas normalmente eles são veiculados em horários impróprios para o trabalhador.
- Não queremos competir. Queremos fazer o que a TV privada muitas vezes não faz. Não queremos inventar a roda. Não importa se vai dar um ponto de audiência, o que importa é ter coisa de profundidade - afirmou.
Lula também levantou a possibilidade de criar uma rádio pública com abrangência nacional, nos mesmos moldes da TV.
Sujeitinho impertinente
O presidente dedicou especial atenção a Furlan. Disse que Miguel Jorge assume o Ministério do Desenvolvimento numa situação bem diferente de quando Furlan entrou no governo, ressaltando que ele encontrou o país com saldo comercial de US$ 13 bilhões e entrega a pasta com US$ 46 bilhões. Segundo Lula, Furlan foi um dos maiores ministros do Desenvolvimento que o Brasil já teve e ajudou a equipe econômica a fazer com o que país chegasse a US$ 110 bilhões nas reservas internacionais. O presidente disse ainda que o governo vai continuar trabalhando para aumentar as reservas.
- Dinheiro no bolso não faz mal a ninguém, principalmente um país como o Brasil, que precisa de muita credibilidade - disse Lula.
Ao falar de Furlan, Lula disse que ele dava muito trabalho à equipe econômica, que precisava ser firme para não abrir demais a mão diante das propostas de Furlan de desonerar impostos.
- Em todas as políticas de desoneração tem o dedo do Furlan. Sujeitinho impertinente. Tesoureiro tem que ter mão de vaca, tem que estar sempre pronto para dizer não - brincou.
O presidente também brincou com o fato de Miguel Jorge, que está assumindo o ministério, não ter diploma universitário, assim como ele e o vice José Alencar. Já empossado, Miguel Jorge afirmou que mudará o comando do BNDES, mas não adiantou nomes.
A volta do PDT
O presidente elogiou a volta do PDT ao governo. O presidente citou sua relação com o ex-fundador do PDT Leonel Brizola, que foi seu vice na eleição presidencial de 1998, e disse que o PDT está voltando "para onde nunca deveria ser saído". Falando para Carlos Lupi, disse que, "quando as coisas estiveram ruins, quem estará a seu lado serão os trabalhadores brasileiros".
O presidente fez uma defesa enfática do governo de coalizão e da aproximação com antigos adversários políticos, como o novo ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB), e o governador do Mato Grosso, Blairo Maggi (PR). Lula disse que foi alertado sobre o risco de formar um governo cheio de antigos inimigos políticos, e citou a aproximação com Blairo Maggi para justificar a importância da aliança, afirmando que o governador foi um importante aliado no segundo turno.
- Eu posso citar o exemplo do Blairo, que teve muita divergência comigo, mas na hora do pega pra capar, no segundo turno, ele enfrentou, com a maior competência do mundo, os mais reacionários - disse.
Lula disse que a aproximação entre políticos adversários não é um item negativo da política brasileira. Pelo contrário, é uma demonstração de grandeza e despojamento.
- Não é quem perde que tem que ter grandeza, quem tem que ter grandeza é quem ganha as eleições.
Nascimento admite perder portos
Ao falar de sua tristeza em perder Paulo Sérgio Passos, Lula disse que o ex-ministro dos Transportes surpreendeu a todos com seu trabalho à frente da pasta e teve um papel importante na preparação do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC). O presidente disse ainda que Passos foi essencial no desenvolvimento de uma política séria para o setor. Embora Lula já tenha decidido criar a Secretaria Especial de Portos, Nascimento disse que essa questão ainda será discutida no governo. Mas admitiu, no entanto, que seu ministério poderá perder a administração dos portos .
Ao iniciar o discurso, Lula disse que ao fazer mudanças no Ministério há um misto de alegria, pela chegada de companheiros, e de tristeza, por perder outros. Descontraído, Lula brincou com a forma fragmentada de fazer a reforma ministerial:
- Eu tô gostando dessa coisa de posse de ministros porque a Casa está sempre cheia. Quem sabe a gente faz uma troca dessa de vez em quando para a Casa ficar sem cheia - disse.
Logo em seguida, Lula reclamou da equipe do cerimonial, que esqueceu o copo de água.
-Imagina se eu não tivesse ganho a eleição.
O novo ministério do governo Lula deve reunir-se pela primeira vez na segunda-feira. Segundo o ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia, será uma oportunidade de confraternização dos novos ministros com os antigos integrantes do governo.