Indicado para o Ministério dos Transportes também é alvo de denúncias
Num momento em que a reforma ministerial caminha para sua conclusão, problemas surgem na mesa do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Denúncias de irregularidades na campanha eleitoral do senador Alfredo Nascimento (PR-AM) e na maneira como o PR atrai a filiação de deputados colocam a indicação do quase ministro dos Transportes em xeque e o partido na berlinda.
Documento mostra que futuro ministro da Agricultura usou "laranjas"
Um demonstrativo emitido pelo Banco do Brasil pode tornar curta a carreira do deputado Odílio Balbinotti (PMDB-PR), no Ministério da Agricultura. O documento pode ser o que o Ministério Público vem procurando para provar que Balbinotti usou ex-empregados de sua empresa de produção de sementes de soja, em Mato Grosso, como laranjas numa operação financeira.
Reforma
Fragilizado por denúncias divulgadas no fim de semana, o senador Alfredo Nascimento (PR-AM) se encontra na noite desta segunda-feira com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Cotado para voltar ao Ministério dos Transportes, Nascimento deve fazer um último apelo para que a área portuária fique sob seu comando. Nos bastidores do governo e no próprio Ministério, no entanto, a batalha é considerada perdida. Lula deve mesmo criar a Secretaria dos Portos, para atender ao PSB.
A reunião ocorre depois de a revista "Isto É" ter publicado denúncias contra Nascimento, relacionadas à sua primeira passagem pelos Transportes e à campanha eleitoral do ano passado. Está em curso uma investigação da Justiça Eleitoral do Amazonas sobre compra de votos, abuso de poder econômico e falsificação de documentos fiscais. Há suspeitas de superfaturamento das obras da Operação Tapa-Buraco, investigada pelo Tribunal de Contas da União.
O PR, partido do senador, também vive um momento de fragilidade, com as últimas denúncias de inchaço do partido em troca de cargos no governo e liberação de recursos públicos para parlamentares que aderiram à sigla. O PR elegeu 23 deputados e está hoje com 40.
O líder do PR na Câmara, deputado Luciano Castro (RR), saiu em defesa de Alfredo Nascimento e de sua indicação para os Transportes.
- Acho que o presidente tem confiança total no ministro Alfredo Nascimento, conhece seu trabalho e sua honestidade. O partido nem pensa nessa hipótese (de Lula mudar de idéia). Ele (Nascimento) passou dois anos no Ministério dos Transportes. Se ele tivesse cometido alguma irregularidade, isso teria estourado na campanha de Lula.
Luciano Castro também defendeu o crescimento da bancada do PR, dizendo que se trata de um movimento regular:
- O partido está crescendo por se tratar de um partido novo que está organizando seus diretórios em todos os estados, o que os grandes não podem fazer porque estão consolidados. Isso atrai muitos parlamentares.
Durante a reforma, Lula teve problemas com a nomeação de Odílio Balbinotti (PMDB-PR) para o Ministério de Agricultura, alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) em que é acusado de utilizar laranjas para renegociar dívidas. Pressionado, Balbinotti abriu mão do cargo. O incidente forçou o PMDB a indicar outros nomes, cujas fichas foram extensivamente checadas, até que Lula se decidisse pelo deputado Reinhold Stephanes (PMDB-PR).
Pasta da Previdência ainda sem definição na reforma
A conclusão da reforma ministerial ainda depende da definição do titular da Previdência - o mais cotado é o presidente do PDT, Carlos Lupi. O pedetista reconhece sua inexperiência em cargo executivo, mas diz que a sensibilidade o credencia. Em reportagem publicada na edição deste domingo do jornal "O Globo", Lupi diz que "experiência só se adquire com o tempo".
- Minha grande experiência na Previdência é ter a sensibilidade da dor de uma mãe que vive de um salário - disse o político, que foi jornaleiro e conta que concluiu os estudos com trabalho e ajuda da mãe, que ficou viúva quando ele era adolescente.
Carlos Lupi já era dado como certo na pasta, mas como a bancada do PDT apoiou inicialmente a CPI do Apagão Aéreo, Lula passou a trabalhar com a possibilidade de chamar para o cargo o secretário nacional do PDT, Manoel Dias. Para provar que tem a bancada sob controle, Lupi conseguiu fazer com que os deputados ajudassem o governo a sepultar a CPI na votação na Câmara. Mas ele ainda aguarda um telefonema do presidente, confirmando o convite.
A situação no Ministério do Desenvolvimento Agrário também está indefinida, mas é certo que ficará com o PT. É provável que Guilherme Cassel seja mantido. Na Secretaria Especial da Pesca, a dúvida é se Altemir Gregolin será mantido ou se voltará José Fritsch.
Na sexta-feira, Lula deu posse a mais três ministros: Marta Suplicy (Turismo), Reinhold Stephanes (Agricultura) e Walfrido dos Mares Guia .
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