Dilma Rousseff recebe a faixa presidencial de Lula: a presidente ganhou uma “herança maldita” que está na raiz de todas as denúncias de corrupção| Foto: Paulo Whitaker/Reuters
Veja comparação entre Lula e Dilma no início do primeiro mandato
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O padrinho político da presidente Dilma Rousseff (PT), Luiz Inácio Lula da Silva (PT), deixou uma "herança maldita" que está na raiz de todas as denúncias de corrupção e desentendimentos que já levaram à queda de três ministros e troca em outras duas pastas nos últimos quatro meses. Mas os primeiros meses de mandato do petista, mesmo sem uma turbulência política como a que enfrenta a sucessora, também foram cheios de percalços.

Em 2003, a situação econômica do Brasil era muito pior do que hoje. O desemprego era muito alto (o índice nacional sofreu alterações, por isso não é possível comparar os períodos). A taxa Selic era de 26%, contra 12,5% atuais. Para piorar, ainda havia muita desconfiança sobre os rumos do país sob a batuta de um ex-sindicalista. "Era um temor que Lula inspirava em determinados segmentos, de que poderia ser um subversivo", lembra o cientista político Fábio Wanderley Reis, professor benemérito da Universidade Federal de Minas Gerais.

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Em uma reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) em 28 de julho de 2003, o empresário Eugênio Staub, fundador da Gradiente, disse que era "uma crise que só se assemelha àquela vivida em 1965". O líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), comparou o governo de Lula ao do presidente João Goulart, que foi deposto pelo regime militar em 1964. "São as mesmas contradições internas, a mesma falta de comando e a mesma infelicidade na escolha de aliados, como o MST."

As ligações de Lula com o MST levantaram a suspeita de que o governo seria conivente e tolerante com as invasões de terra. A aprovação da reforma da Previ­­dência, no começo de agosto, e o descontentamento de servidores e juízes levantaram ainda a possibilidade de uma "crise social". Reis diz que tudo isso foi rechaçado meses depois.

"O que temos agora é comparável à crise do mensalão. Mas, apesar de um tom negativo e das críticas de que a presidente é limitada politicamente, o que temos é uma tendência de avaliação positiva", avalia Reis. Segundo ele, as dificuldades enfrentadas por Dilma podem ser consideradas "sadias", pois estão provocando uma "faxina" nos órgãos que não atuam corretamente.

Reis diz ainda que Dilma foi levada, pelas circunstâncias, a dar uma continuidade ao governo de Lula, mantendo muitas pessoas no cargo. O cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília (UnB) faz a mesma avaliação. "O PT e o Lula reclamaram tanto da herança maldita do Fernando Henrique que acabaram deixando uma para a Dilma", observa. Para ele, os casos de corrupção que estão pipocando agora são decorrentes de atos praticados durante a gestão de Lula.

Troca-troca

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No início do mandato de Lula, surgiram denúncias contra o ministro dos Transportes na época, Anderson Adauto. Ele era do PL, que, junto com outras legendas, formou o PR – o mesmo envolvido na crise atual. Mas ele permaneceu no cargo. Em janeiro de 2004 foi feita a primeira reforma ministerial, mas o episódio que provocou a primeira crise política ocorreu apenas em fevereiro de 2004. Waldomiro Diniz (homem de confiança do então ministro da Casa Civil, José Dirceu) foi acusado de favorecer bicheiros em concorrências, em troca de propinas.

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