Numa semana em que os holofotes estiveram voltados para o governo de coalizão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comemora os resultados dos encontros com o PMDB e com a bancada do PTB . Com os tucanos, porém, não deve ir além do entendimento para uma agenda mínima de compromissos. Segundo analistas ouvidos pelo O GLOBO ONLINE, ações de interesse dos governadores vistos como possíveis candidatos à presidência em 2010, como José Serra (São Paulo) e Aécio Neves (Minas), devem entrar nesta pauta. Mas sem uma agenda mínima, o encontro pode não passar de uma reunião para tomar cafezinho, alertam.
- Deverá haver o acordo pontual em algumas áreas, que digam respeito ao interesse dos governadores, como a reforma tributária. Esses pontos exigem atuação mais responsável e de comprometimento de Serra e Aécio, que podem ser candidatos em 2010 - avalia o professor Lúcio Rennó, da Universidade Nacional de Brasília (UnB).
O presidente Lula - que tem elogiado Serra e Aécio - pretende ter uma reunião, agora em dezembro, com os dois tucanos. Porém, a falta de uma agenda mínima clara pode transformar a reunião em um encontro "para tomar cafezinho", segundo alerta o professor Geraldo Tadeu Monteiro, presidente do Instituto Brasileiro de Pesquisa Social (IBPS).
- Como disse o Fernando Henrique, o presidente quer apoio como se fosse um cheque em branco. Mas ainda não apresentou concretamente uma proposta. Aparece como uma espécie de cooptação. Acho que esse encontro (com Serra e Aécio) vai ser para distender o ambiente, dar a entender que há uma relação civilizada. Mas não espero nenhuma medida concreta ou declaração de apoio - analisou.
Na semana passada, o presidente Lula chegou a declarar que "os adversários devem deixar de fazer oposição até 2010". Para o professor da UNB, os dois primeiros anos do segundo mandato petista serão fundamentais para definir os rumos da oposição até a próxima eleição presidencial.
- Até 2010, é o Lula querer muito. Com as eleições municipais em 2008 o cenário vai ser outro. Ou seja, o presidente tem dois anos para governar. Passados esses dois anos, dependendo dos resultados, a oposição vai se aproximar ou afastar. Se o Lula for muito bem, é difícil que a oposição seja virulenta e se distancie do governo. Agora, se não for bem, vamos ter uma oposição forte, que vai querer abrir espaço e se distanciar - analisou.
Monteiro, por sua vez, ressalta a importância da oposição para um governo democrático.
- A existência da oposição é fundamental para a democracia. Se não, vai chegar a uma espécie de regime chavista, onde 99% dos votos serão favoráveis ao governo. Tem que ter cobrança, visão crítica - alertou.
Com perspectivas de comandar o governo federal em 2010, Serra e Aécio têm demonstrado compromisso com o país. Monteiro adverte, no entanto, que uma antecipação do processo eleitoral pode ser prejudicial aos potenciais candidatos.
- Qualquer tentativa de antecipar o processo eleitoral pode ser danosa. Pois eles já vão começar a ser cobrados e tudo o que disserem vai virar ato eleitoral - avaliou.
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