A PF investiga suspeitas de pagamento de propina para aprovação de três medidas provisórias que concediam benefícios fiscais ao setor automotivo, sendo duas delas durante o governo Lula.
A empresa LFT Marketing, que pertence a Luís Cláudio Lula da Silva, filho do ex-presidente, recebeu R$ 2,4 milhões do escritório Marcondes e Mautoni, que, na mesma época, recebeu repasses de empresas do setor automotivo.
O depoimento desta quarta estava previsto para acontecer no final do mês passado. A reportagem apurou que a defesa de Lula pediu o adiamento para janeiro, período de recesso parlamentar em Brasília. O ex-presidente estava acompanhado de seu advogado, Cristiano Zanin Martins.
ZELOTES
Deflagrada no fim de março com origem em uma carta anônima entregue num envelope pardo, a Operação Zelotes da Polícia Federal investiga um dos maiores esquemas de sonegação fiscal já descobertos no país.
Suspeita-se que quadrilhas atuavam junto ao Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais), órgão ligado ao Ministério da Fazenda, revertendo ou anulando multas. A operação também foca lobbies envolvendo grandes empresas do país. O esquema fez com que uma CPI fosse instalada no Senado.
Na fase mais recente da operação, a Polícia Federal realizou um mandado de busca e apreensão na empresa LFT Marketing Esportivo, que pertence a Luís Claudio Lula da Silva, filho do ex-presidente Lula, nos Jardins, bairro nobre de São Paulo.
A companhia é suspeita de ter recebido repasses da Marcondes & Mautoni, empresa de lobistas que atuaram na aprovação de medida provisória que prorrogou a isenção de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para a indústria automobilística.
Outro investigado de peso da Zelotes é o ministro do TCU (Tribunal de Contas da União) Augusto Nardes, relator da reprovação das contas da presidente Dilma Rousseff.
De acordo com a investigação, ele teria recebido, através de uma empresa da qual foi sócio até 2005 -atualmente em nome de seu sobrinho- pagamentos da SGR Consultoria, que teria corrompido conselheiros do Carf para favorecer clientes que recorreram ao Carf para discutir multas.
OUTRO LADO
À noite, o Instituto Lula divulgou nota sobre o depoimento que o ex-presidente prestou. O texto afirma que Lula falou à PF a fim de continuar “colaborando, como sempre faz, para esclarecer a verdade”.
A nota também ressalta que “o ex-presidente não é investigado ou testemunha no inquérito”.
O Instituto Lula reafirma a versão que o ex-presidente prestou à polícia, de que “as duas MPs geraram dezenas de milhares de empregos de qualidade em sete parques industriais na Bahia, Pernambuco, Ceará, Amazonas e Goiás”.
“Ambas resultaram de reivindicações e diálogo com lideranças políticas, governadores, sindicalistas e empresários, amparadas em exposições de motivos ministeriais que levaram em conta a geração de empregos, renda, incorporação de tecnologia e arrecadação para os Estados em decorrência dos incentivos federais.”
Por fim, a nota diz que a data e o horário do depoimento foi combinado entre a PF e os advogados de Lula, em dezembro do ano passado.