Dos 27 mortos em chacinas ocorridas duas semanas atrás, quando uma onda de violência atingiu o estado de São Paulo, apenas três tinham antecedentes criminais, segundo a Ouvidoria das polícias. Todos foram mortos por grupos de extermínio nas mesmas circunstâncias: os assassinos estavam mascarados, utilizando toucas ninja.
Os laudos elaborados pelo Instituto Médico Legal (IML) estão sendo analisados pelo Ouvidor Antonio Funari Filho, que poderá pedir à Corregedoria a abertura de inquérito, se constatar a participação de policiais nas execuções. De acordo com a Ouvidoria, foram nove casos de execução entre os dias 12 a 19 de maio.
O coordenador do Movimento Nacional de Direitos Humanos, Ariel de Castro Alves, disse que o número de mortos inocentes, ou seja, sem envolvimento com o crime, deve aumentar. Segundo ele, familiares de pessoas mortas estão "criando coragem" e denunciando os assassinatos.
- Há indícios fortes de que houve matança e que inocentes acabaram sendo atingidos. Certamente, outros casos vão aparecer - disse Ariel.
Formada na semana passada, a comissão especial formada por entidades de direitos humanos pediu nesta terça-feira ao Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH), em Brasília, o acompanhamento dos dados divulgados pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo em relação às mortes na semana do terror.
Os laudos do IML mostram que algumas pessoas foram executadas. A Ouvidoria está procurando testemunhas que viram ou assistiram qualquer uma das mortes. Funari Filho disse que é muito importante encontrar testemunhas para facilitar o trabalho do Ministério Público e da Corregedoria. O ouvidor afirmou que os grupos de extermínio não tinham desaparecido completamente de São Paulo, mas atuavam eventualmente. Em 2005, segundo ele, praticamente não houve registro de casos.
- Eles ressurgiram naquela semana sangrenta, o que é muito preocupante - disse o ouvidor na segunda-feira.
A Ouvidoria de Polícia de São Paulo também vai começar a investigar 31 casos de pessoas mortas por policiais, sem que tenham sido estabelecidas vinculações com os ataques do crime organizado. A Secretaria de Segurança Pública já assumiu que 123 pessoas foram mortas pelas polícias em todo o estado no período de 12 a 19 de maio. Entre os casos que já estão na Ouvidoria, em apenas 62 os policiais teriam matado ao reagir diretamente a ataques.
- O que me preocupa mais é a chamada lista dos inocentes. Muitas pessoas que não estavam no confronto com o crime foram mortas durante aquela semana de violência covarde. Queremos uma polícia democrática, uma polícia que seja constituída por policiais que não sejam assassinos, que não pratiquem a violência covarde - afirmou o ouvidor Antonio Funari Filho.
Segundo ele, além dos 31 casos, outras 17 pessoas foram mortas pela polícia em ações em que ela informa ter tido participação ativa contra criminosos. Ou seja, teria recebido denúncias de que planejavam ataques e foi ao local onde estavam os criminosos para abortar a ação. No total, as mortes atribuídas à polícia e que já estão nas mãos da Ouvidoria somam 110. Segundo ele, a apuração é necessária porque ainda existe a cultura de que 'bandido bom é bandido morto' e que todo pobre é suspeito.
- É preciso evitar que haja impunidade. O criminoso também pode ser vítima de um crime - explicou.
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