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O ex-presidente da Caixa Econômica Federal Jorge Mattoso revelou a integrantes do governo Lula e a alguns parlamentares petistas que recebeu do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci a ordem para quebrar ilegalmente o sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa. Amigos de Mattoso afirmam que ele deverá dar essa declaração em novo depoimento à Polícia Federal, ainda sem data marcada.

No primeiro depoimento à PF, que ocorreu no dia 27 de março, o ex-presidente da Caixa assumiu ter dado a ordem interna para a quebra do sigilo de Francenildo e contou que entregou o extrato pessoalmente ao então ministro da Fazenda. Foi este depoimento que motivou a demissão de Palocci no mesmo dia. Mas até hoje Mattoso não revelou oficialmente que recebera de Palocci a ordem para violar a conta do caseiro.

Foi esse relato, feito reservadamente para alguns integrantes do governo poucas horas antes de seu depoimento na Polícia Federal, que deu a certeza ao presidente Lula de que teria que demitir imediatamente o então ministro da Fazenda. Entre as pessoas com quem Mattoso conversou naquele dia está o chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho. Procurado pelo GLOBO, Carvalho não retornou.

Lula já saberia de nova versão

A partir dessas conversas, Lula determinou que fosse apurada a versão de Mattoso antes do depoimento à Polícia Federal. Por este relato, Mattoso confirmou que Palocci havia pedido para quebrar o sigilo bancário do caseiro na quinta-feira, 16 de março, e que entregou o extrato com a movimentação financeira na noite daquele mesmo dia.

— De certa forma, Mattoso já disse que foi o Palocci que deu a ordem. Isso está claro no governo. Tenho certeza que em breve tudo será esclarecido — confirmou ontem uma fonte palaciana.

Caso Mattoso confirme a história em novo depoimento, ele pode complicar ainda mais a situação de Antonio Palocci. Na primeira vez que foi à PF, Mattoso resolveu poupar Palocci e assumir a culpa. Um parlamentar petista que conversou recentemente com Mattoso disse que ele está muito deprimido e envergonhado. Pressionado pela família, principalmente pela mulher, Mattoso estaria no limite e disposto a mudar a versão.

— Mattoso está deprimido. Não consegue andar na rua. Ele também não esconde a mágoa de Palocci. Ele não agüenta mais assumir sozinho a responsabilidade pela quebra do sigilo — disse um parlamentar próximo de Mattoso.

Mágoas com o ex-ministro

Para um petista Mattoso chegou a dizer em tom de desabafo que Palocci nunca poderia tê-lo envolvido nesse episódio. Por esta versão, o ex-presidente da Caixa esperava que Palocci tivesse assumido a responsabilidade pela quebra do sigilo.

Mattoso estaria decepcionado com o ex-ministro pois ficou com a maior parte do desgaste. O limite da insatisfação de Mattoso teria sido o depoimento prestado por Palocci esta semana à Polícia Federal.

Procurado pelo GLOBO, o advogado do ex-presidente da Caixa, Alberto Toron, disse que não falaria sobre comentários feitos por Mattoso para interlocutores. Reafirmou o teor do depoimento de seu cliente.

— No depoimento à Polícia Federal, Mattoso afirmou que não recebeu qualquer ordem para quebrar o sigilo e que entregou o documento de forma espontânea para Palocci — disse Toron.

Mas petistas próximos a Mattoso afirmam que ele está sem estrutura para agüentar as pressões familiares e sociais. De perfil técnico, o ex-presidente da Caixa não estaria mais disposto a fazer o jogo político montado por Palocci. Ele é economista e ocupou a presidência do banco estatal por indicação da ex-prefeita Marta Suplicy. Na gestão dela na prefeitura de São Paulo, Jorge Mattoso foi secretário municipal de Relações Internacionais, de janeiro de 2001 a dezembro de 2002.

Mattoso é gaúcho de Porto Alegre. Tem carreira acadêmica de prestígio. Em 1978, fez doutorado na universidade de Sorbonne, em Paris. Em seguida, pós-doutorado no Instituto de Economia da Unicamp. Ele é professor da Unicamp desde 1985. Segundo amigos, Mattoso teme manchar sua reputação acadêmica.

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