Afastado há 15 dias do seu mandato na Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) continuaria, na prática, “a mandar na Casa”.
A força do peemedebista é vista principalmente na confirmação do deputado federal André Moura (PSC-SE) como líder do governo Temer na Câmara dos Deputados, em detrimento de Rodrigo Maia (DEM-RJ), nome até então defendido pela cúpula do Planalto.
Moura foi indicado pelo chamado “centrão”, as 13 legendas (PP, PR, PSD, PRB, PSC, PTB, Solidariedade, PHS, PROS, PSL, PTN, PEN e PTdoB) que ficaram conhecidas pelo respaldo que deram a Cunha e que nesta quarta-feira (18) formalizaram um “blocão”.
“Eu espero que o presidente Temer tenha feito a escolha consciente. Eu espero que não tenha sido pressão de Cunha, via ‘centrão’. Se foi pela pressão, acho que terá consequências ruins no futuro para o próprio governo Temer”, afirmou o deputado federal Pauderney Avelino (AM), líder da bancada do DEM, sigla que junto com PSDB e PPS atuou na linha de frente pelo impeachment de Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados e também integra a base de apoio ao presidente interino da República, Michel Temer (PMDB).
Derrotado, Rodrigo Maia tentou evitar fazer declarações que pudessem confirmar a primeira rachadura na base aliada: “Ele [Temer] fez a escolha dele. Está superado. Vamos olhar para frente, colaborar com o Brasil”.
Ao mesmo tempo, Maia reforçou o próprio currículo para a vaga e disse que o poder do “centrão” está “inflado”, pois na prática seria menor do que se imagina. “Eu sempre fui um aliado de Temer. Tenho colaborado com ele há muitos anos, inclusive quando ele foi coordenador político do governo Dilma na questão do ajuste fiscal. Mas qualquer um da base poderia ser indicado”, pontuou ele.
Caso Maranhão
Além de ter sido apontado como o responsável pela nomeação de André Moura para o principal cargo de articulação entre Planalto e base aliada, Eduardo Cunha também está sendo lembrado por parte dos parlamentares como o responsável pela permanência de Waldir Maranhão (PP-MA) na presidência da Câmara dos Deputados.
Nesta quarta-feira (18), o “centrão” teria agido para transformar Maranhão, desgastado em função do episódio da semana passada, em uma espécie de “rainha da Inglaterra”, permitindo que o pepista continue formalmente no comando, e atuando nos bastidores, mas sem conduzir as sessões de votações, que ficariam a cargo da linha sucessória da Mesa.
Ao final da tarde de quarta-feira (18), quem abriu a “ordem do dia” foi o deputado federal pelo Paraná Giacobo (PR), que é o segundo vice-presidente da Casa.
Pouco antes de dar início à pauta de votações, Giacobo disse à reportagem que não havia nenhum “acordo” para ele comandar os trabalhos na prática, e que apenas cumpria o Regimento Interno, assumindo a cadeira na ausência de Maranhão no plenário. Mas Maranhão não deu explicações à imprensa sobre sua ausência. “Se você não vier a essa sessão você vai ser desmoralizado, Maranhão. Você me prometeu que não iria fugir. Honre as calças que você veste”, discursou na tribuna o deputado federal Silvio Costa (PTdoB-PE), que junto com o PT, PDT e PCdoB estavam dando respaldo à atuação efetiva de Maranhão, que votou contra o impeachment de Dilma Rousseff, embora seja um notório aliado de Cunha.
Já DEM, PPS e PSDB querem eleições para definir o novo comando da Casa. O problema é que nem Cunha, nem Maranhão, renunciam à cadeira, o que, pelo Regimento Interno, inviabiliza um novo pleito. Para o deputado federal José Carlos Aleluia (DEM-BA), Maranhão ficará “a serviço” de Cunha, que continuaria a receber inúmeros políticos em sua residência.
“Mais grave do que ter se apropriado de recursos públicos, é ter se apropriado de um Poder Público, como a Câmara dos Deputados. Hoje ele [Eduardo Cunha] manda aqui e isso tem que parar. Ele permanece presidente de fato, influi na Câmara ostensivamente e influi no próprio Executivo”, afirmou Aleluia, que protocolou nesta quarta-feira (18) um mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar convocar eleições para a Casa. Em outra frente, o presidente nacional do PPS, deputado federal Roberto Freire (SP), também apresentou um projeto de resolução com o mesmo propósito.
Outro lado
Para o líder do PSD, Rogério Rosso (DF), o suposto poder de Eduardo Cunha, mesmo afastado, “é lenda”. “Eu escuto de vários deputados, inclusive daqueles que não gostam do Eduardo Cunha, que admiram a forma como ele conduziu a Casa, dando protagonismo, independência, colocando a Casa para trabalhar. Acho que é um pouco de resquício deste período muito intenso que Cunha inseriu nesta Casa”, afirmou Rosso, que presidiu a comissão especial do impeachment na Câmara dos Deputados contra Dilma Rousseff, sob a benção de Cunha.
Rosso também afirma de forma enfática que Cunha não tem qualquer ligação com a formação do “centrão”. “Posso garantir, pelo PSD, que Cunha não tem qualquer influência. O blocão já vem sendo espontaneamente formado. É muito natural a gente formalizar agora”, afirmou ele.