Bem avaliado e com chances consideráveis de ser reeleito, o prefeito Alexandre Kireeff (PSD) confirmou o que vinha dizendo desde a campanha eleitoral de 2012: não vai tentar o segundo mandato na prefeitura de Londrina. A decisão, confirmada por Kireeff nas redes sociais, muda profundamente o cenário da sucessão municipal na cidade. Se Kireeff tentasse se reeleger, era esperada uma polarização entre ele e o deputado federal Marcelo Belinati (PP) – que era favorito em 2012 e acabou perdendo para o atual prefeito no segundo turno por uma diferença de 2.978 votos. Agora a grande probabilidade é de uma disputa com uma candidatura forte, a do parlamentar do PP, e várias outros candidatos com menor densidade eleitoral disputando espaço para crescer.
“É minha posição de contrariedade à ideia da reeleição. Falei sobre isso em 2012”, declarou Kireeff à Gazeta do Povo, para justificar a decisão. Segundo ele, a sua retirada da disputa eleitoral pode “abrir espaço para novas lideranças”. “É uma tradição na politica local: ocupar espaço e não deixar outras lideranças aparecerem”, argumentou o prefeito. A decisão de Kireeff deixou os seus aliados preocupados, com a dificuldade de encontrar uma candidatura forte para manter o grupo no poder.
Pesquisa
No começo de abril, a rádio Paiquerê AM divulgou uma pesquisa, contratada pelo Instituto Multicultural, mostrando que o atual prefeito tem 65% de avaliação “ótimo e bom”. Ele entraria na disputa com 28% das intenções de voto, ante 27% de Marcelo Belinati, o herdeiro político do ex-prefeito Antonio Belinati, que administrou a cidade em três mandatos, nas décadas de 70, 80 e 90. Sem Kireeff como candidato, o deputado federal vai a 41% das intenções de voto, ante 16,5% de todos os outros candidatos juntos, o que garantiria uma eleição no primeiro turno. Apesar dos números favoráveis na ausência de Kireeff na disputa, Belinati diz que seria importante para Londrina que o prefeito fosse candidato. O Instituto Multicultural ouviu 602 eleitores entre 7 e 9 de abril. A pesquisa foi registrada na Justiça Eleitoral sob o número PR-06578/2016 e a margem de erro é de 3% para mais ou para menos.
Sem o atual prefeito na disputa, por enquanto o campo governista está dividido entre duas candidaturas: Márcio Stamm, que é pré-candidato pelo PSB e foi chefe de gabinete de Kireeff, e Bruno Veronesi, que é pré-candidato pelo PSD, partido do atual prefeito. Veronesi presidiu o Instituto de Desenvolvimento Econômico de Londrina (Codel). “Os dois fizeram parte do governo. Confirmando a candidatura deles, vou apoiar ou um ou outro. Ou os dois juntos”, disse o prefeito
Apesar de nos bastidores os aliados do prefeito apostarem na capacidade de Kireeff transferir votos a partir da sua aprovação, ele relativizou essa possibilidade: “transferência de votos não é algo comum ou esperado. Considero que os dois têm com capacidade de apresentar uma proposta consistente para Londrina, capaz de atrair o eleitor”. Kireeff lembrou a sua própria situação nas pesquisas de intenção de voto, em 12 de junho de 2012: “naquela ocasião eu tinha 0,54% da intenção de votos e virei prefeito”.
Kireeff, que ao final do mandato deve voltar para a iniciativa privada, declarou que não disputar a reeleição, não representa uma saída da política. Ele não descarta a possibilidade de disputar outras eleições, para outros cargos políticos.
Coadjuvantes se animam
Com o prefeito Alexandre Kireeff fora do jogo, candidaturas que antes pareciam condenadas a serem “coadjuvantes” no processo eleitoral, veem espaço para crescer e aparecer. À direita, o advogado e professor universitário Luciano Odebrecht (PMN), que disputou uma cadeira na Assembleia Legislativa em 2014, acredita que pode crescer entre eleitores que votariam no atual prefeito. “Muitos amigos dele são meus amigos em comum. Eu tenho muitos votos nas classes A, B e C, assim como o Kireeff. Quando ele sai de cena, pessoas que votariam nele e não votariam em mim, passam a pensar em votar em mim”, diz o advogado.
Odebrecht foca um eleitorado que está em busca de um candidato, já que tem rejeição a Marcelo Belinati (PP). Para ganhar esses votos, o pré-candidato do PMN conta com o fato de ter recebido apoio de Kireeff em 2014 – o advogado concorreu pelo PSD, partido do atual prefeito. “O Kireeff não fez nenhum sucessor e está tudo dividido. O grupo dele não tem pré-candidato, na hora que souberem que eu sou candidato, esses eleitores migram para mim”, completou. Odebrecht acredita que a grande mudança no cenário é que sem Kireeff, desaparece a polarização entre ele e Marcelo Belinati. “Isso abre muito o debate”, pontuou.
À esquerda, o PSol também prevê um cenário mais aberto sem a possiblidade de polarização entre Kireeff e Marcelo Belinati. “Pulveriza mais [o eleitorado]”, resumiu Valmor Venturini, membro das direções estadual e municipal do partido, que deve definir nos próximos dias qual será o seu candidato a prefeito. Venturini avalia que Marcelo Belinati deve sair “fortalecido” com a ausência de Kireeff e o eleitorado de Kireeff, mais à direita, “ficou órfão”. A ausência do atual prefeito abre espaço para novas candidaturas e partidos, no mesmo espaço que era ocupado por ele.
Segundo Venturini, a estratégia do PSol não muda com a ausência de Kireeff: “vamos combater um governo que se diz técnico e vamos discutir politicas publicas. A cidade está acanhada, não debate nada, entregue aos burocratas do secretariado que é muito ruim”, disparou, sinalizando que seu partido sairá como franco-atirador. Venturini previu que o PSol crescerá em cima da fragilização do PT, que além dos escândalos nacionais, ganhou forte rejeição em Londrina, principalmente depois dos dois mandatos do ex-prefeito Nedson Michelti (20001-2008).
Crise
Londrina vai para a disputa eleitoral num cenário de crise: com a arrecadação em queda, Kireeff anunciou em maio medidas para conter gastos e até um programa de refinanciamento da dívida ativa (o Programa de Regularização Fiscal, Profis) para conseguir fechar as contas do ano sem maiores sobressaltos. Apesar de a oposição falar nos bastidores que Kireeff não vai disputar a reeleição por conta da crise da prefeitura, Marcelo Belinati evita o assunto publicamente. “Não cabe a mim essa avaliação”.
Kireeff classifica como “uma bobagem muito grande” esse tipo de argumentação. “Vale a pena lembrar o cenário que enfrentei quando assumi a prefeitura: uma administração desmantelada, uma Sercomtel [empresa municipal de telefonia] quebrada, Caapsml [caixa de previdência do funcionalismo] multada em R$ 70 milhões, aporte de R$ 47 milhões para a Sercomtel, a falta das 79 salas de aula, os contratos emergenciais. Aquilo lá é que era complicado”, rebateu.
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