Em greve de fome desde 26 de setembro para sensibilizar o governo a suspender o projeto de transposição das águas do Rio São Francisco, o bispo de Barra, no oeste da Bahia, Luís Flávio Cappio, recebeu nesta terça-feira a visita de duas mil pessoas que foram lhe prestar solidariedade. O bispo faz a greve na cidade de Cabrobó, interior de Pernambuco, por onde devem começar as obras. Esta terça, dia de São Francisco, data em que é comemorado o descobrimento do Velho Chico, há 504 anos, é também o do aniversário do bispo.
O presidente da Comissão Pastoral da Terra (CPT), dom Thomás Balduíno, responsabilizou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo que vier a acontecer com o bispo de Barra. Dom Thomás pediu ao presidente para que não seja intransigente e reveja a decisão do governo sobre a transposição. Dom Thomás e políticos de Sergipe dizem que a obra interessa a empresários e, mais do que levar água a áreas do Nordeste, irrigará o caixa dois de campanhas políticas.
Dom Cappio usa argumentos parecidos. Em resposta a uma carta de Lula em que o presidente pedia para que ele suspendesse a greve de fome, o bispo afirmou que a transposição é um crime contra o rio, cometido com fins políticos. Para o religioso, o São Francisco precisa ser revitalizado, antes de qualquer outro tipo de intervenção e o governo não pode tomar uma decisão sem antes consultar a população.
Na carta de Lula, o presidente explica que 12 milhões de famílias serão beneficiadas pelo projeto, que retirará apenas 1% da água do rio e, em compensação, garantirá 0,25% do orçamento da União para obras de revitalização. Lula deu a entender que não pretende desistir da obra. Mas admitiu, na noite de segunda, em Brasília, que a atitude do bispo cria um impasse em torno da transposição do rio e disse que continua disposto a negociar com dom Luiz. O presidente recorreu a uma passagem bíblica para explicar sua posição.
- No São Francisco estamos com um problema. Não tenho muito o que fazer. Nem começamos as obras e o frei mandou uma carta para mim e entrou em greve de fome. Mas tenho uma paciência de Jó - disse Lula.
A expectativa da Igreja Católica, e de todos que acompanham o protesto de dom Cappio, é pela reação do governo à carta que ele enviou no último fim de semana ao presidente. Nesta terça-feira, várias manifestações de apoio ao bispo devem acontecer em Cabrobó, onde, apesar de enfraquecido pelo jejum, o bispo continua a rezar missas e a receber visitas.
Em Salvador, diversas entidades ambientalistas mantêm um protesto iniciado na segunda-feira à noite em frente ao prédio do Ibama, responsável pela concessão da licença ambiental para o início das obras de transposição do Rio São Francisco. Após a manifestação, um grupo de 90 pessoas embarcou em dois ônibus com destino a Cabrobó, para prestar solidariedade a dom Cappio. Uma caravana com 25 ônibus e aproximadamente 500 pessoas do estado de Sergipe, lideradas pelo governador do estado, João Alves (PFL), também chega a Cabrobó nesta terça-feira para reforçar os protestos contra a transposição.
Em Feira de Santana, na Bahia, ambientalistas fizeram caminhada em solidariedade a dom Cappio. Os manifestantes saíram da Praça do Nordestino em direção à sede da prefeitura. Os ambientalistas pretendem fazer um jejum de 24 horas para protestar contra o projeto de transposição do Rio São Francisco.
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