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A página oficial do 1º Batalhão de Choque da Polícia Militar de São Paulo (Rota) na internet celebra a "galhardia e lealdade" de seus integrantes nas ações que levaram à deposição do presidente João Goulart, no golpe militar de 1964. A menção à participação "decisiva e influente" no episódio que deu início ao regime militar foi considerada "inaceitável" pela ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, que ouviu a denúncia sobre o site em uma audiência pública na Assembléia Legislativa de São Paulo.

- Eu me senti aviltada por isso, uma página oficial de um governo estadual, no período democrático, que faz uma homenagem à deposição de um presidente legitimamente eleito. Tenho certeza que o governador Geraldo Alckmin tomará providências diante disso - disse a ministra, que pretende tratar desse assunto com o tucano.

- É uma estrutura do Estado de São Paulo, não se pode comemorar o golpe, não se pode comemorar a violação do estado democrático de direito, sob pena de se plantar novas violações - completou.

A página conta a história do batalhão, que desde 1975 passou se chamar Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar). Ali, estão listados os "exemplos" de como o contingente marcou a história do país, com "participação decisiva e influente, demonstrando a galhardia e lealdade de seus homens". A assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo afirmou que somente a Polícia Militar poderia se manifestar sobre o assunto. Procurada, a PM não se posicionou até o fechamento desta edição.

Além do golpe militar, que é tratado como "revolução de 1964", a corporação lista outros momentos históricos, como a campanha do Vale do Rio Ribeira (1970), quando os militares e policiais paulistas sufocaram o grupo de guerrilheiros comandados pelo capitão Carlos Lamarca, morto em 1971. A Comissão de Anistia do governo federal concedeu status de "coronel" a Lamarca em 2007. Outro episódio citado no site foi a participação do batalhão paulista no "último combate que derrubou o Reduto de Canudos", em 1897 - estima-se que cerca de 20 mil sertanejos tenham sido massacrados após a derrota.

Durante a audiência, Maria do Rosário também falou sobre a necessidade de instalação da Comissão da Verdade, para restabelecer a história e a memória sobre o regime militar.

- Não nos contentamos com o cinismo daqueles que escreveram a história oficial - disse a ministra em seu discurso. - Devemos agir diante disso. Construir a democracia é uma tarefa cotidiana. Me incomoda que, todos os dias, no jornal, há novos elogios ao período da ditadura militar, inclusive à Rota, como se naquele tempo tivéssemos mais segurança ou direitos que hoje. Quando eu vejo elogios ao período da ditadura militar e vejo na página de governo um batalhão que se orgulha de ter participado da deposição de um presidente eleito e pelos massacres promovidos pela violência de Estado, vejo que temos muito que afirmar. A ministra reafirmou que pretende trabalhar em "parceria" com o governo de São Paulo, mas anunciou que levará outra queixa a Alckmin. O Condepe (Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana), presidido por Ivan Seixas, se queixou de decretos elaborados pelo governador que visam retirar suas atribuições, inclusive na indicação da lista tríplice para o cargo de ouvidor da polícia.

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