Pagot estaria mandando "recados" ao governo
O diretor-geral afastado do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Luiz Antonio Pagot, ameaçado de ser definitivamente demitido após o escândalo de corrupção nos Transportes, estaria mandando "recados" ao governo federal. E estaria dizendo a quem quiser ouvir que tudo o que fez no comando do órgão foi realizado conforme as "instruções recebidas" de superiores o que incluiria petistas. O objetivo dos "recados" seria alertar o governo de que ele poderá revelar o que sabe nos depoimentos que deve dar na terça-feira no Senado e na quarta-feira na Câmara dos Deputados.
Costa Neto diz ter feito lobby no Planalto para ter diretoria de banco
O deputado federal Valdemar Costa Neto (PR-SP) declarou ter usado o então ministro dos Transportes Alfredo Nascimento para pressionar a presidente Dilma Rousseff a entregar ao PR uma diretoria de banco estatal. Em troca, a presidente teria o apoio do bloco liderado pelo partido no Congresso.
Diante da recusa do senador Blairo Maggi (PR-MT) em assumir o Ministério dos Transportes, o ministro interino, Paulo Sérgio Passos (PR), passa a ser o favorito para comandar a pasta. Mas a possível indicação de Passos, que era secretário-executivo do ministério até a queda do ex-ministro Alfredo Nascimento (PR), tem potencial para acirrar a crise em vez de acabar com ela. Passos é um dos responsáveis por liberar recursos para obras consideradas irregulares e de pedir mais dinheiro para elas.
O Ministério dos Transportes está sem um ministro definitivo desde a quarta-feira, quando Nascimento pediu demissão após uma série de denúncias de corrupção envolvendo a pasta. A presidente Dilma Rousseff considera Passos o nome ideal para comandar a pasta, embora Maggi fosse o preferido do PR. Mas o senador bateu ontem o martelo e informou que, apesar dos pedidos de seu partido, não vai mesmo aceitar o ministério.
Aditivos na interinidade
Paulo Sérgio Passos já foi ministro interino dos Transportes no ano passado, na gestão Lula, quando Alfredo Nascimento, que já ocupava a pasta, se afastou para disputar o governo do Amazonas eleição que perdeu. Passos, um mês após assumir interinamente o ministério, em abril de 2010, pediu ao Congresso R$ 78 milhões para complementar o orçamento de obras com irregularidades graves detectadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Esses empreendimentos chegaram a constar da lista do TCU como obras que deveriam ser paralisadas.
Na ocasião, o Ministério dos Transportes e outros três órgãos, além da Presidência da República, solicitaram ao Congresso créditos suplementares de R$ 3,47 bilhões, dos quais R$ 2,3 bilhões destinados aos Transportes. Da extensa lista de empreendimentos beneficiados, destacam-se pelo menos três cujas irregularidades chegaram a ameaçar a continuidade dos trabalhos: a BR-317 (AM-AC), BR-265 (MG) e BR-101 (RJ).
De acordo com o projeto de crédito suplementar, só a construção do entroncamento da BR-265 com a BR-491 e a MG-170, em São Sebastião do Paraíso, receberam R$ 40 milhões. A BR-101, entre Santa Cruz e Mangaratiba (RJ), R$ 20 milhões. No caso da BR-317, em Boca do Acre (AM), foram mais R$ 18 milhões. No total, para as três obras irregulares foram liberados R$ 78 milhões adicionais.
Foco de resistência
O maior foco de resistência à efetivação do interino vem justamente do ex-ministro Alfredo Nascimento e de seus aliados. Eles consideraram uma "traição" o fato de Passos ter sido chamado ao Planalto pela presidente Dilma na terça-feira, quando Nascimento ainda era ministro, e não ter avisado ao partido ou ao ministro da reunião
Nascimento inclusive cogita usar o argumento de que a liberação de recursos para as obras não foi feita por ele, mas sim por Passos, para se defender no Congresso das acusações de corrupção. Nascimento vai alegar que o ordenador das despesas supostamente irregulares foi seu substituto no ano passado e que ele não teve responsabilidade nenhuma sobre o assunto.
Outro insatisfeito com Passos é o líder do PR no Senado, Magno Malta (ES), também critica Passos pelo atendimento precário aos parlamentares. Parte da base do PR trabalha por nomes alternativos aos de Passos. Uma das alternativas cogitadas é o deputado Jaime Martins (PR-MG). Além de ter presidido a Comissão de Transportes e ter bom conhecimento da área, Martins tem a vantagem de não ser do grupo do secretário-geral do partido e deputado Valdemar da Costa Neto (SP), que a presidente quer ver distante do ministério.