Preso na manhã desta quinta-feira (23) em Brasília, o ex-ministro Paulo Bernardo tem uma longa história dentro do PT. Sua estreia na vida política se deu por meio da diretoria do Sindicato dos Bancários do Paraná, na década de 1980. Foi eleito deputado federal pelo Paraná pela primeira vez em 1995. De lá para cá, acumulou mais dois mandatos na Câmara (1995-1999 e 2003–2005) e cargos em governos municipal, estadual e federal – inclusive dois ministérios (Planejamento e Comunicações).
Paulo Bernardo foi secretário da Fazenda do ex-governador Zeca do PT (no Mato Grosso do Sul) e secretário da Fazenda da prefeitura de Londrina (PR). Na Esplanada, depois do ex-ministro Guido Mantega (Fazenda), Paulo Bernardo quem ocupou cargo do primeiro escalão por mais tempo durante os governos petistas de Lula e Dilma Rousseff. Ficou na Esplanada de 2005 a 2014. Foi ministro do Planejamento do governo Lula depois de ter tido anos de experiência na Comissão Mista de Orçamento do Congresso como deputado federal. No cargo, construiu um forte vínculo com o ex-presidente Lula. Ficou no cargo de 2005 a 2011, quando trocou o Planejamento pelo Ministério das Comunicações – já na gestão Dilma.
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Em 2006, desistiu da reeleição à Câmara (ele ocupou o Planejamento como deputado licenciado). E passou a incentivar a carreira política da esposa, Gleisi Hoffmann (PT). Ela concorreu pela primeira vez ao Senado em 2006, contra Alvaro Dias (hoje no PV, à época no PSDB). Essa experiência serviu de trampolim para 2010, quando foi eleita senadora.
Como ministro do Planejamento, tinha linha direta com Dilma. Por isso, em 2007, Bernardo foi um dos políticos envolvidos na negociação do financiamento federal para a construção do metrô em Curitiba. O então prefeito de Curitiba Beto Richa (PSDB) pretendia que a obra fosse colocada no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento).
Durante sua gestão no Ministério das Comunicações, em 2013, Paulo Bernardo foi o responsável por impulsionar em Curitiba a implantação da tecnologia 4G de telefonia celular. A capital paranaense foi a segunda cidade brasileira a receber a tecnologia.
Briga com Requião
Em 2010, o ex-ministro teve um desentendimento com o então governador do Paraná Roberto Requião (PMDB). O caso começou quando Bernardo disse que Requião não se empenhou para obter recursos federais para o estado. Requião, por sua vez, acusou Bernardo de tentar superfaturar uma obra ferroviária no Paraná. Dias depois, Requião acusou o ex-ministro de ter comprado de forma suspeita uma rádio de Laranjeiras do Sul (Oeste do Paraná).
Paulo Bernardo entrou com uma ação na Justiça contra Requião, alegando danos morais, e solicitou uma investigação ao Ministério Público sobre as denúncias feitas por Requião.
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Enquanto ainda era ministro do Planejamento, Bernardo foi alvo de outra polêmica. Ele usou o avião de uma empreiteira para viajar pelo país, em 2011. Gleisi também teria usado o mesmo avião durante sua pré-campanha para o Senado. O avião era de propriedade da construtora paranaense Sanches Tripoloni, contratada para tocar obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
No mesmo ano, Bernardo devolveu R$ 1,3 mil aos cofres públicos depois de outro escândalo, desta vez envolvendo diárias. Ele havia recebido o valor em diárias de viagem mesmo estando em Curitiba, onde tem residência, entre os dias 30 de abril e 2 de maio. Nesse período, ele não teve agenda oficial. De acordo com a assessoria do ministério, o pagamento foi feito por engano.
Aliança com Fruet
Nas eleições municipais de 2012, Paulo Bernardo e Gleisi Hoffmann foram os principais articuladores da aliança entre o PT e o então candidato à prefeitura Gustavo Fruet (PDT). O objetivo era fortalecer o PT no Paraná, mas a estratégia acabou não dando certo, já que o partido rompeu com o prefeito e decidiu lançar candidatura própria neste ano. Em 2012, porém, a aliança provocou polêmica, pois Fruet havia sido deputado federal pelo PSDB e teve forte atuação na CPI dos Correios, que investigou o mensalão do PT.
Fora dos holofotes
Desde o fim do primeiro mandato da presidente Dilma, o ex-ministro estava fora dos holofotes. Em março do ano passado, Paulo Bernardo ficou “desaparecido” depois de ter sido citado em investigações da Lava Jato. O ex-ministro foi arrolado pelo presidente da empreiteira UTC, Ricardo Pessoa, como testemunha de defesa em um dos processos da Lava Jato que correm na Justiça Federal de Curitiba. Mas o Judiciário teve dificuldades de encontrá-lo para fazer a intimação.
Em agosto, o ex-ministro disse ter se aposentado para cuidar dos filhos. “Foram 39 anos de carreira no Banco do Brasil, incluindo o tempo que passei fora como ministro. Já me aposentei pelo banco e dei entrada na aposentadoria pelo INSS”, disse. A declaração veio um dia depois de ter seu nome cotado para assumir o comando de Itaipu. A nomeação não se concretizou por causa do envolvimento do petista nas investigações referentes ao caso que está sendo investigado agora.
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Leia a matéria completaDenúncia
No mês passado, o procurador-geral da República Rodrigo Janot apresentou uma denúncia ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra o ex-ministro e sua esposa, a senadora Gleisi Hoffmann (PT), pedindo que o casal devolva aos cofres públicos R$ 2 milhões obtidos ilegalmente pelo esquema da Lava Jato. A investigação é baseada em depoimentos de dois delatores: o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa.
Os dois afirmam que a senadora Gleisi Hoffmann (PT) recebeu R$ 1 milhão do esquema da Petrobras para financiar sua campanha ao Senado, em 2010. A senadora nega que tenha pedido o dinheiro e reclama de contradições nos dois depoimentos.
Investigação
Em agosto do ano passado, o Ministério Público Federal afirmou que encontrou documentos que ligavam o ex-ministro e sua esposa a pagamentos suspeitos da Consist, que havia firmado um contrato com Ministério do Planejamento quando Bernardo ainda era ministro. A investigação foi desmembrada da Operação Lava Jato e teve um desfecho nesta quinta-feira (23), com a prisão do ex-ministro em Brasília. O caso é conduzido pela Justiça Federal de São Paulo e não na de Curitiba – sede da Lava Jato.
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