A Justiça de Mônaco determinou o bloqueio de 10 milhões de euros (cerca de R$ 34 milhões) em contas atribuídas ao ex-diretor da Petrobras J orge Zelada.
Anac apreende avião de operador de propina na Petrobras
A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) determinou, no dia 5 de março, a apreensão de um avião do operador Mário Goes, acusado de participar do esquema de corrupção envolvendo a Petrobras. Os investigadores da Força Tarefa da Operação Lava Jato descobriram que a aeronave era parte do pagamento de propina ao ex-gerente de Serviços da Petrobras, Pedro Barusco. A aeronave modelo King Air B200 prefixo PR-MOG foi comprada como forma de ocultar e lavar parte dos recursos desviados da Diretoria de Serviços da Petrobras, segundo o Ministério Público Federal.
A relação entre Goes e Barusco apareceu nas investigações por meio de delação premiada do ex-gerente. Com o dinheiro oriundo de pagamentos indevidos, o acusado é suspeito de ter comprado dois aviões, registrados em nome de sua empresa, a Riomarine Óleo e Gás.
O primeiro foi adquirido em 2008. Era o modelo Baron e custou US$ 600 mil. Barusco participou da aquisição com o “pagamento” de US$ 300 mil e Goes comprou a metade. A aeronave foi vendida para a compra de uma aeronave por avião turboélice, modelo King Air B200, e Barusco contribuiu com mais US$ 200 mil. A aeronave nunca entrou na prestação de bens do ex-gerente.
Goes é apontado por Barusco como o responsável por garantir o pagamento de propina em contratos na Petrobras das empresas UTC, MPE, OAS, Mendes Júnior, Andrade Gutierrez, Schahin, Carioca Engenharia e Bueno Engenharia.
À Justiça Federal, Barusco alegou ter utilizado a aeronave duas vezes. O avião ficou de fora do acordo de delação premiada, em que Barusco devolveu mais de US$ 97 milhões.
O Ministério Público Federal do Paraná, que divulgou a informação, suspeita que a quantia foi obtida por ele de maneira ilegal. Na semana passada, os procuradores receberam informações de que o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque movimentou dinheiro de vários países para Mônaco, e os valores -20 milhões de euros, ou cerca de R$ 68 milhões- também acabaram bloqueados. Duque foi preso nesta segunda-feira (16).
Zelada foi diretor da área Internacional da Petrobras entre 2008 e 2012, substituindo Nestor Cerveró. Ele não é réu em processos envolvendo a Lava Jato, ao contrário de outros ex-diretores.
O procurador da República Deltran Dallagnol, no entanto, afirmou na segunda que já há elementos que mostram enriquecimento ilícito de Zelada. Mas diz que é preciso mais investigação para levar o caso à Justiça.
“Não basta provar que uma determinada pessoa, um funcionário público que ganhou sempre um valor moderado, tem zilhões de reais no exterior. Se nós tivéssemos o crime de enriquecimento ilícito [na legislação], nós estaríamos hoje oferecendo acusação criminal contra Zelada. Nós não temos e devemos prosseguir a investigação.”
O advogado de Zelada, Eduardo de Moraes, disse que não pode se manifestar a respeito porque ainda não teve acesso aos documentos sobre o bloqueio. Mas afirma que o ex-diretor teve uma conduta “ilibada” quando ocupou o cargo na estatal.
Em depoimento prestado em 24 de novembro, o ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco acusou Jorge Zelada de ter recebido propina antes de chegar ao alto escalão da estatal.
Ele afirmou que recolhia o dinheiro e, em determinada ocasião, chegou a entregar R$ 120 mil em mãos, na casa de Zelada, no Rio de Janeiro. O ex-gerente da Petrobras não soube dizer, porém, se Zelada foi beneficiado pelo suborno quando já estava na cadeira na diretoria da Petrobras.
Barusco diz ter conhecimento que houve pagamentos ilegais a Zelada quando ele ainda era gerente geral da companhia. Cita como exemplo as obras de construção das plataformas P-51 e P-52 como negócios em que Zelada participou da divisão da propina.
Prisão
Na segunda-feira (16), Renato Duque foi preso porque a Justiça Federal considerou que havia grave risco ao procedimento de repatriação do dinheiro enviado para o exterior caso ele permanecesse em liberdade. Duque já havia sido detido em 2014 e nega que possua recursos fora do Brasil.
Na semana passada, R$ 182 milhões em contas do ex-gerente Pedro Barusco na Suíça foram repatriados.
Advogado de Zelada deve falar nesta quarta-feira, 18
O advogado Eduardo de Moraes, que representa Jorge Luiz Zelada, ex-diretor da área Internacional da Petrobras que teve bloqueados 11,6 milhões de euros em duas contas em um banco do Principado de Mônaco, afirmou nesta terça-feira que ainda não teve acesso à documentação referente a esse bloqueio nem esteve pessoalmente com Zelada.
“Portanto, neste momento, não tenho como colaborar”, afirmou à reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, por e-mail, o advogado, nesta terça. Segundo ele, nesta quarta, 18, ele já deve ter informações sobre o caso e se disporá a atender a imprensa. A reportagem procurou também o próprio Zelada, que mora no Rio de Janeiro, mas uma mulher que atendeu o telefone negou que o número fosse dele. Ela também afirmou que tem o telefone correto de Zelada, mas está proibida de divulgá-lo.
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