Carro de Carli Filho decolou no mínimo dez metros, dizem peritos
O carro do então deputado Fernando Ribas Carli Filho decolou pelo menos dez metros antes de se chocar com o carro dos jovens Gilmar Rafael Yared, e Carlos Murilo de Almeida. A conclusão é dos peritos que fizeram as medições no local durante a reconstituição do acidente que deixou os dois jovens mortos. O trabalho foi feito nesta segunda-feira (22) e envolveu cerca de 50 policiais entre militares, civis e técnicos. Mais de uma centena de curiosos também acompanhou a diligência que se iniciou às 22 horas e terminou por volta da 0h30 de terça-feira (23). Nem o deputado, nem familiares dele compareceram.
A reconstituiçãodo acidente que teve o envolvimento do ex-deputado Fernando Ribas Carli Filho chegou a reunir mais de cem pessoas no entorno da área onde os peritos trabalhavam na noite de segunda-feira (22). Muitos deles aproveitaram para reclamar de outros motoristas que também abusam da velocidade na área e de problemas na via. A reportagem conversou com oito moradores da região e todos afirmaram que acidentes são comuns na área por causa da sinalização precária.
O pior horário é na saída dos estudantes da Universidade Positivo, segundo a secretária Fabiana Baida, que mora a alguns metros de onde se deu o acidente com o ex-deputado. "Parece até que fazem aposta para ver quem é mais louco no volante", afirmou.
O técnico em meio ambiente Emerson Palhares ratifica a opinião de Fabiana e agrega que os motoristas não sabem que tem uma curva logo depois da inclinação. "Tinha que ter uma sinalização melhor", comentou.
A atendente Francini Schmidt diz que acidentes são comuns no cruzamento. Pessimista, ela diz acreditar que o caso envolvendo Carli Filho não será o último no local. "Até entrar na garagem é difícil. Você dá sinal, mas parece que a qualquer momento alguém vai bater atrás [do carro]", descreveu Francini. A opinião de outros cinco moradores ouvidos é semelhante.
Alguns curiosos acham estranha a falta de informações sobre o caso. É o caso do frentista Roberto Pilar de Oliveira: "Cada um fala uma coisa da velocidade, ninguém parece ter certeza de nada. O veículo era 'tunado' [alterado para ter mais velocidade] ou não?", questionou. O perito Marco Aurélio Pimpão disse que é improvável a hipótese do carro ter sido alterado no motor, mas a polícia ainda aguarda laudos de análises no motor do veículo. "Pode ser que ele estivesse 'chipado' [quando o sensor de combustível é alterado para bombear mais combustível, fazendo com que o veículo ande mais rápido", disse Pimpão.
"Por favor"
Peritos e populares tiveram pequenos atritos ao longo da noite. Às vezes, alguns curiosos atravessavam a zona isolada, para irritação de alguns técnicos. Entre as questões que o Instituto de Criminalística tentava resolver era o que os motoristas envolvidos no acidente podiam visualizar momentos antes da colisão.
Na madrugada do dia 7 de maio, não havia tanta gente nas calçadas. "Gente, sai daí. Afasta", pedia insistentemente um policial por volta das 23h às pessoas que ficaram em uma calçada.
"Custa pedir 'por favor'?", reclamou a assistente social Marília Yared Dias, tia de Gilmar Rafael Yared, um dos dois jovens mortos no acidente. A representante comercial Sônia Borges, amiga de Gilmar, também se queixou da polícia: "A gente parece bicho". Em resposta às críticas, o policial voltou a pedir para todos saírem, mas passou a registrar um "por favor" no final das frases.
Curiosos
Mas nem tudo era tensão na reconstituição. As câmeras da imprensa estavam lá, mas as amadoras eram a maioria. Mas um dos curiosos luzia com equipamento que não ficava devendo nada para as mais modernas câmeras. Marcos Ferreira, que diz ter o hobby de registrar eventos importantes na cidade por conta própria, chegou a levar um assistente de iluminação. "Faço isso há 11 anos", contou Ferreira, que andava de um lado para o outro com seu equipamento.
Dois jovens morreram; deputado renunciou
O violento acidente reconstituído na noite de segunda-feira (22) aconteceu na madrugada do dia 7 de maio. O deputado dirigia um Volkswagen Passat de cor preta, que acabou batendo contra um Honda Fit de cor prata. Após a colisão, os carros foram parar em uma via local paralela à Monsenhor Ivo Zanlorenzi. Pedaços de lataria, vidros e ferros ficaram espalhados por cerca de cem metros. Os dois ocupantes do Honda, morreram no local.
O acidente ganhou repercussão nacional após a Gazeta do Povo revelar que Carli Filho tinha 130 ponto na carteira de habilitação e do exame do Instituto Médico Legal informar que ele conduzia o veículo em estado de embriaguez. O caso resultou na primeira renúncia de um deputado estadual na história do Paraná. Além disso, expôs um histórico de multas de políticos e de 68 mil cidadãos que dirigiam com a carteira de habilitação suspensa.