A reconstituição oficial do acidente causado pelo então deputado do PSB Fernando Ribas Carli Filho que matou dois jovens está agendada para as 22h da próxima segunda-feira (22). O trabalho será realizado no local do acidente, na esquina das ruas Monsenhor Ivo Zanlorenzi, a via rápida que liga o bairro Orleans à região central, com a Paulo Gorski.
Um laudo oficial deverá ser emitido após a simulação e anexado no inquérito. Segundo o delegado titular da Delegacia de Delitos de Trânsito (Dedetran), Armando Braga de Moraes Neto, que comanda a investigação criminal, a simulação é um dos últimos passos antes da polícia passar os dados ao Ministério Público. Os promotores de justiça Marcelo Bauzer Correia, da Vara de Inquéritos Policiais, e Danuza Nadal, da 2.ª Vara de Delitos de Trânsito, passaram a atuar no caso depois que Carli Filho renunciou ao mandato parlamentar e perdeu o direito a foro privilegiado.
"O objetivo [da reconstituição] é estabelecer com precisão o que houve, para evitar qualquer tipo de contestação", disse Braga. Para o delegado, o laudo deverá esclarecer pelo menos cinco pontos:
- onde exatamente os carros colidiram;
- onde o veículo do deputado decolou;
- Se Gilmar Yared, que dirigia pela Rua Paulo Gorski, tinha visão do carro do deputado;
- Se o ex-deputado, que vinha pela Rua Ivo Zanlorenzi tinha visão do carro onde estavam os dois jovens;
- Qual era a velocidade que o ex-parlamentar trafegava.
Laudo paralelo
Um laudo de uma empresa contratada pela família Yared deu conta de que o veículo do deputado se deslocava a 191,52 quilômetros por hora. A empresa fez o cálculo a partir da distância percorrida diante de uma câmera de segurança pelo tempo de filmagem. Para o delegado Braga, a perícia oficial deve responder a todas as questões pertinentes ao caso. "Usaremos essa perícia particular se restar alguma dúvida", afirmou o policial.
As duas perícias devem apresentar informações similares, na expectativa do advogado Elias Mattar Assad, que representa a família Yared. "Matemática é ciência exata, acreditamos que tudo deve convergir", assinalou o advogado. Segundo ele, seus clientes e o engenheiro responsável pela perícia contratada, o engenheiro Walter Kauffmann Neto, presenciará a simulação.
Dois jovens morreram; deputado renunciou
O violento acidente aconteceu na madrugada do dia 7 de maio. O deputado dirigia um Volkswagen Passat de cor preta, que acabou batendo contra um Honda Fit de cor prata. Após a colisão, os carros foram parar em uma via local paralela à Monsenhor Ivo Zanlorenzi. Pedaços de lataria, vidros e ferros ficaram espalhados por cerca de cem metros. Os dois ocupantes do Honda, Gilmar Rafael Souza Yared, 26 anos, e Carlos Murilo de Almeida, de 20 anos, morreram no local.
À polícia, Carli Filho disse não lembrar de nada.
O acidente ganhou repercussão nacional após a Gazeta do Povo revelar que Carli Filho tinha 130 ponto na carteira de habilitação e do exame do Instituto Médico Legal informar que ele conduzia o veículo em estado de embriaguez. O caso resultou na primeira renúncia de um deputado estadual na história do Paraná. Além disso, expôs um histórico de multas de políticos e de 68 mil cidadãos que dirigiam com a carteira de habilitação suspensa.
Depois da colisão, o governo do estado anunciou que passaria a "caçar" os motoristas não devolvessem carteiras de habilitação suspensa 48 horas depois de serem notificados. A Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) anunciou que poderia inclusive prender sob flagrante de crime de desacato quem não devolvesse o documento.
Nesse universo em situação irregular, 26 deputados estaduais já receberam notificação de suspensão de carteira.. Uma lista de motoristas com carteira suspensa que não fizeram a entregara no Detran-PR divulgada pelo governo do estado apontou ainda três dos 30 deputados federais paranaenses e o ministro Paulo Bernardo, do Planejamento.
O próximo alvo indiretamente relacionado com o acidente de trânsito parece ser a URBS. O advogado da família Yared quer perícia nas imagens de radares, que não teriam flagrado o deputado. A Urbs prometeu que entregaria imagens para o perito particular da família Yared.
A população também participou protestando contra a impunidade no trânsito, cobrando respostas da polícia, do Judiciário e da Assembleia Legislativa. Saiu às ruas em passeatas e fez campanha com adesivos nos carros "190 km/h é crime".
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