O juiz federal Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, condicionou nesta quinta-feira a revogação da prisão preventiva do ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, ao esclarecimento da origem dos R$ 583,4 mil depositados na conta de sua mulher, Giselda Rouse de Lima. Os investigadores da Operação Lava Jato suspeitam que o dinheiro pode ter origem ilícita.
Ministro defende encontro com defesa da Lava Jato e fala em autoritarismo
Ao ser cobrado nesta quinta-feira (7) por ter recebido em seu gabinete advogados de empresas investigadas na Operação Lava Jato, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, voltou a defender nesta quinta-feira (7) sua atitude e disse que as críticas partem de “mentalidades autoritárias”.
Chefe da pasta à qual está subordinada a Polícia Federal, Cardozo participou de uma comissão geral, espécie de sabatina, no plenário da Câmara dos Deputados.
Sobre o encontro que teve em fevereiro com advogados da Odebrecht, ressaltou que a reunião foi registrada em ata e que é seu dever receber advogados. Em sua opinião, atitude contrária representa uma “mentalidade autoritária” que tenta criminalizar o exercício da advocacia.
Desde que o encontro veio a público, Cardozo passou a ser cobrado pela oposição. Na sessão desta quinta, as críticas partiram do deputado Elmar Nascimento (DEM-BA), segundo quem pega mal ministro da Justiça receber “advogados de grandes criminosos”.
Cardozo voltou a dizer que no encontro os advogados da Odebrecht reclamaram de vazamentos à imprensa de dados sigilosos da investigação e pediram uma certidão com o objetivo de questionar passos da investigação. Ele ressaltou que essa certidão não foi dada.
Na sessão, o ministro discorreu sobre temas de sua pasta, afirmou que o plano de segurança nacional do governo visará reduzir a taxa de homicídios e crimes violentos, combater organizações criminosas nos presídios e reforçar a interligação das políticas de segurança com as políticas sociais.
Ele também reafirmou sua posição contrária à redução da maioridade penal, tema que a Câmara discute neste momento.
“Em vista da louvável disposição da Defesa para esclarecer os fatos e considerando a relevância do ponto para a prisão preventiva, intime-se a Defesa para, querendo, esclarecer os aludidos depósitos em dinheiro de R$ 583.400,00 entre 2008 e 2014 na conta de Giselda Rouse de Lima, aparentemente sem origem comprovada, demonstrando origem e natureza dos valores”, determinou Moro.
No final de abril, o advogado de Vaccari, Luiz Flávio Borges D’Urso, entrou com um pedido de revisão da prisão preventiva do petista. O defensor alegou não existir provas que sustentem os depoimentos do doleiro Alberto Youssef e do ex-gerente de Serviços da Petrobras Pedro Barusco. Os delatores afirmam que Vaccari operava o pagamento de propina ao PT.
D’Urso diz ainda que só a “palavra” do empresário Augusto Mendonça, proprietário da Setal e delator do esquema de corrupção, afirmando que ele o obrigou a depositar recursos conta da Editora Gráfica Atitude “não pode corroborar” contra ele.
Vaccari diz ainda através de seu advogado que as movimentações financeiras feitas à sua filha, Nayara Vaccari, e esposa foram legais. Assim como o empréstimo de sua cunhada, Marice Côrrea de Lima, a sua filha é uma relação natural entre “tia e sobrinha”.
Além disso, a defesa assinala que Vaccari deixou suas funções de tesoureiro do partido, o que afasta a hipótese da força tarefa da Lava Jato de que no comando dessa secretaria do PT ele poderia interferir na investigação ou até mesmo na instrução dos processos criminais.
A Polícia Civil de São Paulo encaminhou aos investigadores da Força Tarefa da Operação Lava Jato a investigação da origem de R$ 300 mil que um zelador usou para comprar uma casa em Bastos (SP). O comprador é Antônio Carlos Vaccari, irmão do ex-tesoureiro. De acordo com informações da polícia, Antônio não teria renda para comprar o imóvel, Como como zelador, ele ganha R$ 1 mil por mês.
Em depoimento à Polícia, Antônio disse que ganhou o dinheiro do irmão. A defesa de Vaccari informou que a “doação” foi feita de maneira “absolutamente legal, pois João Vaccari tem caixa suficiente para essa operação, fruto de recebimento pelo seu trabalho”.
D’Urso disse que Antônio recebeu R$ 80 mil reais de seu irmão, João Vaccari, como parte da propriedade de uma casa deixada em herança pela mãe deles. O restante, no valor de R$ 170 mil, o ex-tesoureiro petista teria transferido. “Não há qualquer sombra de dúvida quanto à origem lícita desses recursos”, afirmou o advogado em nota.
Pela manhã, o juiz autorizou os depoimentos dos empresários Ricardo Pessoa, da UTC, e José Adelmário Pinheiro Filho, presidente da OAS, na sede da Superintendência Regional da Polícia Federal em São Paulo no próximo dia 15 de maio. Eles serão ouvidos em depoimentos sobre em processos envolvendo políticos que correm no Supremo Tribunal Federal (STF).
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