A idolatria de parte da população ao juiz federal Sergio Moro – à frente da Operação Lava Jato, que é considerada a maior investigação de corrupção e lavagem de dinheiro já deflagrada no país – parece ter potencial para ultrapassar os limites do respeito para ganhar as zonas eleitorais.
Levantamento de opinião realizado pelo Instituto Paraná Pesquisas mostra que, se Moro fosse candidado a presidente da República, poderia ter até 67,8% dos votos. Segundo a pesquisa, se a eleição presidencial fosse hoje, 16,5% dos eleitores votariam com certeza em Moro e 51,3% admitem que poderiam votar no juiz. Veja abaixo os resultados da pesquisa. Os índices foram extraídos da amostra de entrevistados que afirmou já ter ouvido falar de Moro, o que representa 74,1% das pessoas ouvidas.
Lava Jato vai acabar em pizza
Conduções, prisões e condenações à parte, a expectativa é de que, ao final, a Lava Jato não cumpra com o que promete. Pelo menos essa é a perspectiva dos eleitores ouvidos no levantamento da Paraná Pesquisas, que mostra um índice de 38,1% dos eleitores afirmando que a operação “acabará em pizza”.
Aqueles pouco mais otimistas acreditam que o processo vai acabar com menos condenados do que deveria (33,5%). Na mesma linha, 16,7% acham que o resultado será de muitos políticos, empresários e executivos atrás das grades, enquanto 4,8% preferiram afirmar que serão apenas muitos políticos condenados.
Os que preferiram incluir na lista de condenações muitos empresários e executivos somam 4,1% dos ouvidos. O percentual de quem não soube ou não quis responder foi de 2,8%.
Além disso, a maioria dos entrevistados (53,6%) também respondeu que a Lava Jato não vai ter reflexo algum na corrupção brasileira. Esse índice é maior do que a pesquisa de agosto, que mostrava certo conformismo com 48,6% da amostra ouvida.
Com isso, caiu de 41,6% para 36,8% o total de eleitores que acham que a corrupção vai diminuir; e de 8,6% para 7,7% o total que acredita em aumento da corrupção. â
A pesquisa, divulgada nesta terça-feira (8), ouviu 2.022 eleitores em 24 estados brasileiros. As respostas foram coletadas entre os dias 28 de fevereiro e 2 de março. Ou seja, antes de um dos principais desdobramentos da Lava Jato, que foi a condução de Luiz Inácio Lula da Silva, na última sexta-feira (4), para prestar depoimento à Polícia Federal. O encaminhamento do ex-presidente passou pela autorização direta do juiz federal.
Na outra ponta, 29,3% dos ouvidos afirmaram que não dariam voto ao juiz de jeito nenhum. Outros 3% não souberam responder ou não quiseram opinar.
Outsiders
Pesquisas que revelam a tendência dos brasileiros de votar em candidatos “outsiders” não é de agora. Em 2014, levantamento do Datafolha mostrou que, depois de Lula, o personagem mais influente para as eleições à época era o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa. Relator do processo do mensalão no STF, ganhou fama de inimigo da corrupção.
Para cientista político e professora da UFPR Fabricio Tomio, os resultados trazem à tona o fato de que a maior parte dos brasileiros vê com descrédito as atuais lideranças políticas e também os partidos políticos de uma mandeira geral.
“O povo está disposto a votar em alguém de fora desse espaço. Nesse caso, obviamente, o Moro é quem tem mais visibilidade”, analisa o professor.
Para ele, a corrupção também deve pesar nesta conta. No fim de 2015, o Datafolha revelou que 34% dos eleitores entrevistados consideram a corrupção como o maior problema da atualidade, superando temas como saúde, desemprego, educação e violência.
“Se esse [corrupção] é um fator grave, e no entendimento da população é o Moro quem combate este problema, obviamente vemos aí uma relação direta do resultado”.
Maioria vê Lava Jato pelo lado bom
Sem focar no juiz Sérgio Moro, a maior parte dos entrevistados (66,3%) vê positivamente as investigações levantadas em decorrência da Lava Jata. Na comparação com os resultados de uma pesquisa semelhante feita em agosto do ano passado, esse percentual, no entanto, caiu. Há sete meses, 71,5% do universo ouvido afirmou que as investigações eram positivas – 5,2 pontos percentuais a mais do que agora.
Do outro lado do espectro, 24,8% da amostra apontou as investigações como negativas. É um índice maior do que a da pesquisa de agosto de 2015, quando 21,4% disseram não ver com bons olhos os trabalhos desenvolvidos pela Polícia e pela Justiça Federal.
Completando o total de ouvidos, 7,3% disse considerar os trabalhos resultantes da operação indiferentes (nem negativas, nem positivas), enquanto 1,6% não soube dizer ou não respondeu.
Metodologia
O levantamento de opinião do Instituto Paraná Pesquisas ouviu 2.022 eleitores brasileiros com 16 anos ou mais em 160 municípios de 24 estados do país, entre os dias 28 de fevereiro e 2 de março. A margem de erro estimada da pesquisa é de 2 pontos porcentuais para mais ou para menos. O grau de confiança do levantamento é de 95%.
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