O presidente nacional do PT, Rui Falcão, pediu nesta semana que a militância petista demonstrasse sua indignação contra as declarações do publicitário Marcos Valério, que acusou o ex-presidente Lula de ter participado do mensalão. A militância petista que abra o olho. Em vez de indignação o que todos, inclusive militantes, deveriam desejar é que o episódio seja esclarecido. Em vez de protestos, o que se deveria ouvir é um clamor para que o Ministério Público Federal apure as denúncias. Então se saberá se houve ou não comportamento indevido do ex-presidente Lula.

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O Brasil não precisa de ódio contra Valério, indignação contra a imprensa ou emoções descontroladas turvando a razão de políticos e militantes. É muita ingenuidade – ou o seu oposto, perversidade – querer resumir a política como uma luta estrita pelo poder, na qual um lado sempre tem razão e o outro sempre está errado. Com o perdão da paródia, a política tem lá seus cinquenta tons de cinza.

As denúncias de Valério não fazem parte de um plano conspiratório da oposição contra o PT. Falcão e todos os demais petistas que se enveredarem para tentar desqualificar as declarações de Valério estarão somente tornando tudo mais obscuro. Em depoimento ao Ministério Público Federal, Marcos Valério disse que Lula teria usado dinheiro do esquema para pagar despesas pessoais e consentiu que os empréstimos bancários fossem repassados para compra de apoio no Congresso Nacional.

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O Ministério Público Federal tem condições de fazer investigações profundas o suficiente para descobrir se o publicitário falou a verdade. Então, deixem o Ministério Público trabalhar. Se houver provas contra Lula, deve ser proposta uma denúncia contra Valério. Se ele mentiu, deverá ser responsabilizado por isso. A imagem de Lula estará salva e ele poderá adotar as medidas judiciais cabíveis contra o publicitário.

Mas e se, por acaso, ficasse provado o contrário? Como ficariam aqueles que indignaram? Poderiam se sentir traídos ou criar uma ilusão conspiratória. Seres humanos erram. Admitir isso é uma questão de maturidade. Por essa razão, um pouco de prudência faria bem.

Tendências

A superaposentadoria e os "Anonymous" 1

Rezam os boatos que os deputados estaduais que querem instituir a aposentadoria complementar para parlamentares vão recorrer ao Poder Judiciário para obter o benefício. Caso isso ocorra, o que se admite apenas para fins de argumentação, não seria demais lembrar o bordão do grupo de ativistas on-line "Anonymous" – "nós somos legião, não esquecemos, nós não perdoamos, esperem por nós".

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A superaposentadoria e os "Anonymous" 2

Os ativistas têm razão. Nós cidadãos precisamos aprender a trabalhar como uma legião. Assim somos mais fortes. Não podemos deixar os equívocos dos parlamentares caírem no esquecimento nem absolvê-los nas urnas. É preciso cobrar essa conta nas próximas eleições. Em 2014, portanto, não esqueçamos dos parlamentares que querem a superaposentadoria. Eles merecem ser expostos nas redes. E merecem não se reeleger.

Orçamento participativo? 1

Saber que os vereadores de Curitiba aprovaram 612 emendas ao orçamento em votação de menos de duas horas é algo espantoso. Pode até ser que as emendas tenham sido discutidas na Comissão de Orçamento. Entretanto, o mais provável é que o uso corrente das emendas tenha sido apenas com a intenção de fazer média com suas bases eleitorais. Conclusão: apesar das audiências públicas obrigatórias, o debate sobre orçamento da capital é praticamente nulo.

Orçamento participativo? 2

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Sem debate orçamentário, quem perde é a cidade. Foi-se o tempo que o prefeito e os vereadores eleitos eram vistos como seres de inteligência notável que teriam todas as soluções para os problemas da cidade. Soluções colaborativas, que possam trazer a sabedoria da multidão, existem. A coluna defende a implantação de técnicas de orçamento participativo, em que parte dos investimentos são decididos pela população. O chamado orçamento participativo não é um remédio para resolver todos os males de eventual má gestão, mas permite o envolvimento da população e faz os cidadãos ficarem mais conscientes da capacidade de investimento do estado. A nova democracia passa pela inclusão das pessoas na tomada de decisão. Proponho que comecemos um estudo sobre a implantação do orçamento participativo na cidade. Alguém se habilita?

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