Na abertura da 5ª Cúpula do Ibas, grupo de países que além do Brasil comporta a África do Sul e a Índia, a presidente Dilma Rousseff afirmou que os três Estados têm o direito e o dever de participar da busca de soluções para a crise econômica, cujo epicentro está na Europa. Em uma crítica indireta aos países ricos, ela afirmou que o Ibas não pode ficar refém "de paradigmas vazios" de preocupação social, em relação ao emprego e o crescimento econômico.
Ao lado do presidente sul-africano, Jacob Zuma, e do primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, Dilma conclamou o Ibas a se unir para por fim a políticas monetárias que provocam a guerra cambial e estimulam o protecionismo comercial. Segundo ela, é urgente que se respeite os acordos firmados em 2009 para garantir as reformas de governanças no FMI e do Banco Mundial.
A grave crise financeira que vivemos expõe a fragilidade da governança econômica global e as dificuldades que enfrentam as lideranças políticas que estão no epicentro da crise. (.) Não podemos ficar reféns de visões ultrapassadas ou de paradigmas vazios de preocupação social em relação ao emprego e a riqueza dos países. É prioritário solucionar o problema da dívida soberana e reverter o quadro recessivo global. Processos recessivos jamais conduziram país algum a sair da crise. (...)Temos o direito e o dever de participar da busca de soluções para essa situação de crise.
A presidente salientou que a experiência dos três países com crises econômicas e graves problemas sociais os credenciam para participar mais ativamente do processo de decisão global, não apenas dos organismos econômicos, como também no Conselho de Segurança das Nações Unidas.
"Temos enormes problemas sociais em nossos países e soubemos traçar o caminho que nos permitiu enfrentá-los. Por isso, também podemos dar contribuições decisivas nas parcerias globais destinadas a promoção de um desenvolvimento que distribua renda, crie empregos e gere inclusão social", disse a presidente, citando o fundo criado pelo Ibas para financiar ajuda a países pobres dos três continentes.
Dilma Rousseff aproveitou para lembrar a atuação do Ibas frente aos conflitos na Síria e na Líbia. Ela destacou que na Síria houve uma busca pelo fim imediato da repressão e na Líbia mostrou que violações ao direito internacional não geram o fim da violência.
A presidente acrescentou ainda que o Ibas tem condições de praticamente dobrar o comércio trilateral ao longo dos próximos quatro anos. Em 2010, o comércio entre Brasil, Índia e África do Sul alcançou US$ 16 bilhões e a presidente acredita ser possível elevar a corrente de comércio para US$ 30 bilhões em 2015. Para isso, de acordo com Dilma, é necessário não só o intercâmbio comercial como o avanço na integração em áreas como a inovação tecnológica. Ela lembrou, por exemplo, a existência de centros de excelência acadêmica nos três países, que podem interagir para aumentar o dinamismo das três economias.
O presidente da África do Sul, Jacob Zuma, parabenizou a presidente Dilma em seu discurso por ter sido a primeira mulher a abrir a Assembleia Geral das Nações Unidas e disse que concorda com os pontos levantados por ela no discurso, no qual ela pediu a integração da Palestina à ONU e a reforma imediata do Conselho de Segurança. Nesta terça-feira, Dilma reforçou na África do Sul que essa reforma é necessária para que a ONU volte a ter legitimidade.
Já o indiano Manmohan Singh enfatizou a necessidade de aumento da participação dos países do Ibas com recursos no FMI. Da mesma forma que Dilma, afirmou que esse recado deve ser levado na reunião do G-20, que acontece em novembro em Cannes, na França. Ainda nesta terça-feira, Dilma viajará para Moçambique, onde fica até amanhã. Na quinta-feira, ela termina sua viagem com a visita à Angola.