As novas propagandas partidárias do PT têm omitido as grandes personalidades da legenda e investido em um clima de otimismo pelo futuro do país. Na primeira inserção de rádio e TV pós-carnaval, a principal mensagem é de união pelo Brasil. “Tá na hora de mudar o enredo”, diz a propaganda, que traz a presidente Dilma Rousseff (PT) apenas em referência, como boneco de Carnaval. O ex-presidente Lula, por sua vez, não aparece no vídeo.
VÍDEOS: Assista às propagandas do TV
Desde o início de 2016, ano de eleições municipais, o PT vem trabalhando no mote de “reconstrução” do país em suas propagandas. Em outra inserção, o narrador destaca: “Todo mundo tem o direito de defender suas ideias. Mas tem hora em que a gente precisa ser maior do que nós mesmos. Em que a gente precisa conversar, ir além das nossas opiniões. É isso que o Brasil está pedindo de todos nós”.
Os comerciais também fixam na ideia de que as crises econômica e política serão superadas, assim como outros problemas pelos quais o Brasil já passou, como a “escravidão, a ditadura, a hiperinflação e a pobreza extrema”, destaca uma das propagandas. “Agora é hora de novas vitórias”, diz o narrador, que pede ajuda do povo brasileiro para tal. “O povo sabe o caminho. Crise se vence com trabalho e vontade de vencer”, destaca o partido.
A união dos próprios militantes petistas em torno de “um país melhor” também é exaltada. Em um vídeo, o narrador destaca que o compromisso do partido continua sendo o de garantir “um país mais justo e solidário para todos”, mesmo objetivo que tinha ao criar programas como o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida, marcas dos governos petistas. O presidente da legenda, Rui Falcão, também aparece em um dos vídeos pedindo comprometimento da militância.
Sumiço
Enquanto que o povo brasileiro é chamado para se unir pelo país, os petistas históricos Lula e Dilma continuam sumidos da propaganda da legenda. A última aparição dos dois vinculados à imagem eleitoral foi em setembro do ano passado. O vermelho, marca do PT, também ficou em segundo plano na nova campanha. Agora, somente no último segundo de propaganda, a estrela se tinge da cor.
Apenas Rui Falcão aparece em uma das propagandas defendendo as acusações sobre o ex-presidente. “Ele [Lula] tem sido alvo de ataques, provocações e perseguições pelos preconceituosos de sempre. Eles não aceitam que o Lula continue morando no coração do nosso povo. Principalmente daqueles que mais precisam. Apesar deles, mais uma vez, a verdade vai vencer a mentira”, diz Falcão no vídeo. A Operação Lava Jato investiga a relação de Lula com um triplex no Condomínio Solaris, no Guarujá, e com um sítio em Atibaia.
Na semana passada, pouco antes do lançamento dos novos motes de campanha, o secretário de Comunicação do PT, Alberto Cantalice, afirmou que as personalidades petistas devem aparecer no programa partidário, de dez minutos. Pelo Twitter, ele ressaltou que o objetivo das novas inserções é incentivar a “união de esforços” pelo país. “Diferentemente daqueles que difundem o sentimento de ‘quanto pior, melhor’, o PT reafirma seus compromissos com um futuro melhor!”, publicou na rede social.
Análise
A estratégia adotada pelo PT nas novas propagandas partidárias é vista com desconfiança por especialistas. O cientista político Bruno Bolognesi acredita que a campanha pode ser analisada como “desespero de um partido em crise”. “Por mais que se tente montar uma propaganda ‘despartidarizada’, como em 2002, na eleição do ex-presidente Lula, hoje não é assim”, diz.
Para o especialista em comunicação política Daniel Gutierrez, antes de pedir pela união dos brasileiros, o partido deveria se reinventar e atacar o problema pelo qual o país passa, não tentar escondê-lo. “O momento em que o Brasil vive exige muita sinceridade. É preciso admitir o erro para seguir em frente”, acredita, citando as crises políticas e econômicas.
Bolognesi observa que a própria concepção do PT, como um dos únicos partidos brasileiros que possui propostas e direção definidos, fez gerar um anti-petismo, o que compromete a imagem do partido hoje. Uma solução para isto, segundo Gutierrez, seria primeiramente “encarar o erro”. “Não se pode subestimar a inteligência do eleitor, que sabe que sofre com algo que não provocou”, observa.
Ambos concordam, porém, que desvincular a imagem da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Lula do PT pode surtir algum efeito no eleitorado. “Vincular o partido à imagem de alguém por muito tempo deixa a legenda refém das grandes lideranças”, diz Bolognesi. “A pouca popularidade dos dois também não ajuda nas propagandas”, diz Gutierrez.
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