Reprodução do diálogo entre os pilotos
18h45Cabine: Pista à vista, pousando...
Cabine: Pergunte à torre sobre condições de chuva, sobre a condição da pista e se a pista está escorregadia...
Cabine: TAM em aproximação final, a duas milhas de distância, poderia confirmar condições?
18h47Torre: Está molhado e ainda está escorregadio.... Eu reportarei que a 35 está liberada a 3054.
Torre: TAM 3054, 35 à esquerda, autorizado para pousar. A pista está molhada e escorregadia
Torre: Pouso está liberado...
Cabine: Pouso está liberado. Pouso verde, vôo manualSom do piloto automático sendo desconectado...
Cabine: Checado...
Som de três cliques indicando reversão para vôo manual
18h48Som do movimento de aceleração...
Som do aumento do barulho do motor...
Primeiro-oficial: Reverso número um apenas. Spoiler (freio aerodinâmico) nada.
Piloto: Ai...
Piloto: Olhe isso...
Primeiro-oficial: Desacelera, desacelera...
Piloto: Eu não consigo, eu não consigo...
Piloto: Oh, meu Deus.. Oh, meu Deus...
Primeiro-oficial: Vai, vai.. vira, vira...
Primeiro-oficial: Vira, vira para.. Não, vira, vira.
Som de barulhos de batidaMicrofone de cabine: Ah, não... (voz masculina)
Pausa nos barulhos de batida, sons de gritos, sons de barulho de batida
A CPI do apagão aéreo na Câmara dos Deputados divulgou nesta quarta-feira (1º) as transcrições das conversas da cabine do Airbus da TAM, que se chocou contra um prédio da empresa próximo ao Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, no último dia 17, deixando quase 200 mortos.
A transcrição dos diálogos mostra que o piloto tentou frear o avião, mas não conseguiu desacelerar. "Desacelera, desacelera", disse o primeiro-oficial. O piloto respondeu: "Não consigo, não consigo".
O documento mostra os diálogos nos últimos 12 minutos de vôo. A divulgação do documento ocorreu após muita discussão. DEM, PSDB, PT, PMDB, PSOL, PPS, PHS, PP e PV votaram favoravelmente à divulgação dos diálogos. Os votos contrários partiram do PSB, PR e do PTB.
O presidente em exercício da CPI, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) mandou tirar cópias dos diálogos para todos os deputados e jornalistas, mas o arquivo em CD apresentou problemas. Os diálogos, que estavam transcritos em inglês, foram lidos por dois deputados e repassados à imprensa por e-mail e CD.
Os deputados não puderam ouvir o áudio das gravações, embora tivessem o material. Isso porque, segundo o chefe do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), brigadeiro Jorge Kersul Filho, que acompanhou a sessão, é preciso um software específico para isso.
O brigadeiro explicou que, embora a Cenipa tenha o software, não tem um aqruivo específico daquele modelo de avião. Kersul Filho informou que o arquivo necessário deve ser rebebido em breve pela Aeronáutica.
Divulgação
A decisão de divulgar foi tomada depois que o jornal "Folha de S. Paulo" tornou público nesta quarta o que seria o conteúdo desses dados. Segundo o jornal, um erro do piloto motivou o acidente.
Irritados, os deputados convocaram a imprensa e mostraram o cofre da CPI com o material lacrado. E decidiram abrir a sessão.
Sessão fechada
Apesar de autorizarem a liberação da transcrição dos diálogos, logo após aprovaram que a sessão para ouvir Kersul deveria ser sigilosa. A sessão acontece nesta tarde.
Durante a sessão, os deputados discutiram o fato de a legislação internacional sobre acidentes aéreos impedir a divulgação de dados de caixas-pretas de aeronaves, embora a legislação brasileira permita que CPIs tenham acesso ao conteúdo.
O presidente em exercício da CPI, então, questionou Kersul sobre a possibilidade de divulgação e o brigadeiro respondeu que isso ficava à critério dos deputados, uma vez que poderia haver conseqüências negativas, como a degradação da imagem do sistema aéreo brasileiro.
Com a sessão marcada para analisar as caixas-pretas, a CPI adiou o depoimento do comandante da Aeronáutica, Juniti Saito, marcado para a manhã desta quarta.
Vice-presidente da CPI quer sindicância e IPM para apurar vazamento
Um pouco antes da leitura, o vice-presidente da CPI, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse que vai pedir ao Ministério da Justiça a abertura de sindicância para apurar quem vazou as informações das caixas-pretas do Airbus da TAM. Eduardo Cunha também quer que a Aeronáutica abra um inquérito policial- militar para apurar se o vazamento foi feito por militares.
O deputado Ivan Valente (PSOL-SP) disse que na segunda-feira já havia a suspeita de que alguns setores estavam interessados na divulgação de trechos isolados das transcrições, por isso a CPI decidiu lacrar os dados.
- Há interesse em criminalizar pessoas, e isso é muito grave - afirmou.
A CPI aprovou também nesta quarta um requerimento de convocação do ministro da Defesa, Nelson Jobim, para dizer quem teve acesso aos dados das caixas-pretas e pode ter vazado as informações. O deputado Carlos Zarattini (PT-SP) encaminhou requerimento pedindo que se divulgue todos os nomes de quem teve acesso à fita.