O vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar, afirmou nesta segunda-feira que não é preocupante o fato de índios estarem participando de exercícios militares das Forças Especiais do Exército no interior do país. A denúncia, publicada neste fim de semana pelo jornal "Extra", está sendo investigada pelo Ministério Público Federal.
- Não vejo por que tenhamos que ficar tão horrorizados com o fato de os índios participarem espontaneamente de trabalhos de treinamento do Exército na Amazônia. Oh, meu Deus, não há razão nenhuma para nós nos preocuparmos com isso - disse.
Alencar afirmou que não há uma convocação dos índios para este tipo de treinamento. Segundo ele, a iniciativa parte da própria população indígena.
- Eu digo que o índio é até mais brasileiro do que nós. Porque o índio é nativo.
O ministro ressaltou ainda que "não há escola melhor que a das Forças Armadas no Brasil".
- Além de ensinar o exercício militar propriamente dito, dá treinamento comportamental à pessoa. É uma formação extraordinária - afirmou.
Já a procuradora federal dos Direitos do Cidadão, Ela Wiecko, que se mostrou bastante surpresa com o material sobre a denúncia. A Câmara dos Deputados e a Funai também vão cobrar explicações do Ministério da Defesa e do Exército.
- Do ponto de vista dos povos indígenas, esse contato com armas é prejudicial. Não tem nada a ver com os índios - disse a procuradora. - Fiquei surpresa, sobretudo ao ver mulheres nesses exercícios (portando fuzis).
A mesma surpresa foi demostrada pelo procurador-geral da Fundação Nacional dos Índios (Funai), Luiz Fernando Villares e Silva. Segundo ele, a Funai não tinha conhecimento de que tais exercícios eram feitos, apesar de o Exército dizer que são atividades regulares e, até anuais, mesmo que de forma voluntária e sem emprego de munição.
- Não faz parte da cultura dos índios portar armas de fogo - diz Villares, acrescentando que a prática fere o artigo 231 da Constituição, que reconhece aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições.
Em reportagem publicada ontem, na série "Arco, flecha e fuzil", o "Extra" mostrou que populações indígenas e de seus descendentes estariam sendo usadas para simulações de exercícios de guerra. Pelo menos duas fotos mostram índias mirando em fuzis de assalto, como armas Pára-Fal.
Diante da alegação do Exército de que o exercício era para "adestramento" dos militares e não dos índios, o procurador-geral da Funai disse que isso não atenua o problema.
- Não pode do mesmo jeito - conclui Villares.
Antes mesmo da publicação da reportagem, a denúncia já tinha chegado à Comissão de Direitos Humanos da Câmara. Segundo a presidente da comissão, a deputada Iriny Lopes (PT-ES), será enviada uma recomendação ao Ministério da Defesa para que o comando pare com esses exercícios, seja qual for o pretexto.
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