O ministro do Tribunal de Contas da União, Augusto Nardes, relator do processo que rejeitou as contas de 2014 da presidente Dilma Rousseff, afirmou nesta quinta-feira, 8, em entrevista à rádio Estadão, que “há indícios muito fortes” de que as “pedaladas fiscais” continuaram em 2015. Nardes fez o alerta um dia depois de o TCU reprovar por unanimidade as contas da presidente, o que não ocorria desde 1937.
“Temos um procurador que está investigando. É bem provável que ele entre com alguma representação. A informação que eu tenho é que há indícios muito fortes de que as irregularidades continuam 2015”, afirmou o ministro. “Alguém tem que ter coragem de dizer que, se não arrecadou, não pode gastar mais. Vai pedalando vai pedalando e chega uma hora que a bicicleta quebra”.
As “pedaladas fiscais” foram uma das irregularidades apontadas pela corte nas contas do governo Dilma referentes ao ano passado. Tratam-se de uma manobra em que a União atrasava recursos do Tesouro Nacional para os bancos públicos pagarem despesas obrigatórias de programas sociais. O atraso obrigava essas instituições a usar dinheiro próprio para arcar com tais obrigações.
Para o TCU, a prática configura que houve empréstimos indevidos dos bancos ao governo, que é seu controlador, além de ter mascarado resultados do governo em alguns períodos.
Nardes disse também que vem recebendo uma série de ameaças durante o período em que esteve relatando o processo das contas do governo. “Recebi várias ameaças. Recebi telefonemas de gente dizendo que ia acabar comigo. Chamei a Polícia Federal. Agora tenho andado com proteção”, afirmou o ministro do TCU. “É claro que me sinto ameaçado. Eu não estou enfrentando meia dúzia de pessoas. Estou enfrentando uma estrutura de milhares de pessoas que têm cargos, que querem permanecer onde estão”.
Antes do julgamento que reprovou as contas de Dilma, Nardes afirmou que alertou a presidente no ano passado e que conversou diversas vezes com ministros da petista para comunicá-los das irregularidades encontradas na contabilidade do ano passado. “Ninguém pode falar que não sou uma pessoa de diálogo”, disse o ministro.
Questionado sobre ter sido citado no âmbito da Operação Zelotes, que apura o suposto esquema de corrupção no Conselho de Recursos Administrativos Fiscais (Carf), órgão que funciona como uma espécie de “Tribunal da Receita”, o ministro do TCU entende como uma tentativa de desqualificá-lo.
“Isso foi uma tentativa de me desqualificar. Tentaram me vincular em todas as situações possíveis para me desgastar. Estão tentando me atacar de todas as formas”, afirmou.
Os investigadores teriam chegado a Nardes ao seguir o dinheiro recebido por um escritório do advogado José Ricardo da Silva, que prestava serviços de consultoria a empresas suspeitas de pagar suborno a conselheiros do Carf. Recursos dessa consultoria teriam sido transferidos a uma firma que teve o ministro como sócio. Nardes afirma não ser mais acionista da empresa desde 2005.
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