Mesmo morando em Goiás, o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, apresentou à Justiça um certificado de conclusão do curso de Administração na Inesul, em Londrina. Um professor que deu aula para os formandos de 2010 do curso de Administração e uma aluna da turma pela qual teria passado Cachoeira garantem que ele nunca foi visto na instituição.
A estudante reagiu pelas redes sociais à informação da suposta passagem de Cachoeira pela Inesul dizendo: "nunca vi mais magro, pura mentira". "Dei aula para essa turma e não lembro dele. Não foi aluno", afirmou um professor que lecionou para a turma de 2010 do curso de Administração da Inesul e pediu para não ser identificado.
De acordo com a assessoria de imprensa da Procuradoria Regional da República da 1.ª Região, em Brasília, no certificado apresentado pelo bicheiro a informação é que o curso teria sido feito em Londrina e presencialmente. A assessoria informou que a Inesul foi questionada sobre a veracidade do documento. A instituição confirmou que o certificado era válido. Cachoeira usou o certificado da Inesul num pedido de habeas corpus, para alegar que tem profissão e por isso não precisaria ser mantido preso.
Conclusão de curso
De acordo com o departamento jurídico da Inesul, Cachoeira fez o último ano do curso de Administração em Londrina. Ele cursou entre fevereiro e dezembro de 2010 as disciplinas de estágio e o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), para as quais não precisaria comparecer diariamente na instituição.
O departamento jurídico, porém, não informou o nome do professor que orientou o TCC de Cachoeira, alegando tratar-se de uma informação que só o aluno poderia divulgar. Ainda segundo o departamento jurídico, Cachoeira foi transferido para a Inesul da Unievangélica, de Anápolis (GO), cidade do bicheiro.
O diretor do curso de Administração da Unievangélica, Ieso Costa Marques, disse que assumiu o cargo em 2010, depois que Cachoeira já tinha sido transferido para a Inesul e por isso não saberia informar o motivo da transferência. A reportagem procurou a diretoria geral da instituição, que disse que informações sobre a vida acadêmica do aluno não podem ser passadas a terceiros.
Ciap
A Inesul pertence aos mesmos donos do Centro Integrado e Apoio Profissional (Ciap). A ONG foi investigada em 2010 pela Polícia Federal, acusada de desviar cerca de R$ 300 milhões em contratos de parcerias com prefeituras de todo o país, sendo R$ 10 milhões só no contrato com a prefeitura de Londrina. Dinocarme Lima, que aparece no site da instituição como chanceler, foi condenado a 17 anos e 4 meses de prisão pela 2.ª Vara Federal Criminal de Curitiba, em agosto do ano passado. A mulher dele, Vergínia Aparecida Mariani, que aparece como diretora da Inesul, foi condenada a 14 anos e 11 meses de prisão.