| Foto: EVARISTO SA/AFP

Um dia após uma sessão histórica no Senado, quando a candidata eleita em 2014 Dilma Rousseff (PT) perdeu o mandato de presidente da República, o Congresso Nacional manteve a tradição das quintas-feiras, com a realização de sessões “esvaziadas” e não deliberativas. A reunião do Senado durou apenas 20 minutos, tempo reservado para o discurso de dois parlamentares. Já na Câmara dos Deputados, a sessão foi maior, durou cerca de duas horas, mesmo com um plenário “esvaziado”.

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Como é comum nas quintas-feiras e sextas-feiras, deputados federais e senadores mantiveram a agenda de compromissos em suas bases, agora integralmente voltadas para a campanha eleitoral.

Mas, quem manteve os trabalhos em Brasília, sentiu o day after. O senador Cristovam Buarque (PPS-DF), que presidia uma audiência pública na Comissão de Educação, Cultura e Esporte do Senado, para tratar da proposta da Escola Sem Partido, foi obrigado a suspender a reunião após ser alvo de gritos de “golpista”. “Eu quero dizer a vocês que eu fiquei nove anos fora do Brasil porque eu chamava os outros de golpistas”, argumentou o senador ao grupo de estudantes que protestava, na manhã desta quinta-feira (01). “Como vocês acham que eu sou [golpista], eu suspendo a sessão”, concluiu o senador do PPS.

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Rescaldo polêmico

Além disso, tanto nos poucos discursos dos parlamentes nas tribunas quanto nos corredores do Congresso Nacional, o assunto predominante era a sessão do impeachment e o fato de a petista ter conseguido manter o direito de exercer funções públicas, mesmo sofrendo a destituição. O parcelamento da votação de quarta-feira (30) – uma deliberação sobre a perda do mandato e outra sobre a perda dos direitos políticos – surpreendeu parlamentares, que davam o impeachment como certo, mas não esperavam o fatiamento do artigo 52 da Constituição Federal, que trata de crime de responsabilidade.

A “dupla votação” respingou tanto no Senado quanto na Câmara dos Deputados. Na Casa comandada pelo deputado federal Rodrigo Maia (DEM-RJ), aliados de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) já estudam a possibilidade de usar a decisão do Senado para de alguma forma manter os direitos políticos do peemedebista, mesmo em uma eventual cassação. A votação que pode tirar o mandato do ex-presidente da Câmara dos Deputados está marcada para o próximo dia 12.

No Senado, o reflexo da “dupla votação” foi imediato. Aliados do novo presidente da República, Michel Temer (PMDB), especialmente do PSDB e do DEM, reclamaram abertamente da “anistia” dada a Dilma Rousseff, especialmente porque teria sido viabilizada através de um “acordão secreto” articulado entre petistas e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Parlamentares do PSDB e do DEM se sentiram “traídos” e a base de Michel Temer no Senado acordou ainda estremecida.

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Na “ressaca” desta quinta-feira (01), o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), um dos poucos que circulava na Casa à tarde, chegou a sugerir que o DEM terá uma postura “independente” em relação ao Planalto. “Será um apoio crítico, fundamental para que o governo federal não desvie sua rota”, indicou ele. Caiado não quis atrelar a sua declaração ao episódio de quarta-feira (31), mas, quando questionado sobre a “dupla votação”, não foi ameno.

“Esse acordão entre PMDB e PT ficou explícito. O PMDB era o fiel da balança. Se não fossem os votos de peemedebistas, não tinha passado. Agora precisamos saber até onde vai essa aliança temporária e quais entendimentos foram feitos. Também vai trazer consequências para as próximas cassações? Essa manobra, que indiscutivelmente feriu a Constituição Federal, vai servir a quem? Apenas a Dilma Rousseff? O PMDB ainda terá que explicar o que de verdade ocorreu e aonde eles querem chegar”, afirmou Caiado à imprensa.

Reunidos na tarde desta quinta-feira (01), caciques do PSDB também indicaram que devem entrar com uma medida no Supremo Tribunal Federal (STF) contra a decisão do Senado que permitiu a Dilma Rousseff manter seus direitos políticos. O documento deve ser levado ao Judiciário nesta sexta-feira (02).

O senador paranaense Alvaro Dias (PV) já protocolou nesta quinta-feira (01) um mandado de segurança no STF. O partido do deputado federal Paulo Pereira da Silva (SP), o Solidariedade, também já havia comunicado ainda na quarta-feira (31) que vai apelar ao STF.

Discursos

Na tribuna da Câmara dos Deputados, a “anistia” foi destaque no day after. O discurso mais duro foi do deputado federal Laerte Bessa (PR-DF), que chamou de “traidores” os peemedebistas que ajudaram a vetar a inabilitação de Dilma Rousseff. “Renan Calheiros deu um golpe no povo brasileiro. Ele teve a coragem de se juntar com esse PT sujo. O partido de Michel Temer é doente porque tiraram do povo brasileiro a glória de ver Dilma Rousseff fora da política brasileira”, atacou ele, reforçando que desejava ver “essa manobra espúria” modificada no STF.

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Outro deputado federal que publicamente reclamou da decisão do Senado foi o ex-pedetista Marcos Rogério (DEM-RO). Ele disse que a decisão do ministro Ricardo Lewandowski, de acatar o requerimento do PT, permitindo as duas votações, “causou espanto”. “É lamentável ele ter dado aval a esse arranjo, justamente quem deveria zelar pela Constituição Federal. O Senado diminuiu sua estatura”, criticou ele.

Já aliados da ex-presidente da República aproveitaram a decisão “dupla” do Senado para endossar argumentos do PT contra o impeachment. Para a deputada federal Érika Kokay (PT-DF), “o próprio Senado assume que ela é honesta”. “Tanto é golpe que o Senado inocentou Dilma Rousseff, que continua com seus direitos políticos, com possibilidade de disputar as eleições”, sustentou ela.