A ex-presidente Dilmar Rousseff (PT) afirmou na segunda-feira (21) que o ex-presidente da empreiteira Andrade Gutierrez Otávio Azevedo se comportou como um agente político no processo de julgamento das contas de campanha da chapa que a reelegeu em 2014. Em entrevista ao portal Brasil 247, a petista disse que sua defesa tem indicações que Azevedo “é tucano” e fazia parte de uma “armação” para separar as contas dela das do então candidato a vice-presidente, Michel Temer (PMDB), no processo que corre no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A ação pode resultar na cassação de Temer.
“Nós temos indicações que ele é um tucano. Não temos como ter certeza... Estou falando uma coisa (...) pela convicção (...). Ele queria primeiro criminalizar minha campanha. E a segunda questão, ele fazia parte de toda armação para separar minha conta do Temer”, disse Dilma.
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Em um primeiro depoimento, o executivo da empreiteira afirmou que repassou à campanha de Dilma Rousseff em 2014 o valor de R$ 1 milhão que seria fruto de propina. Após denúncia apresentada pela defesa da ex-presidente de que o valor teria sido repassada através de um cheque nominal para Michel Temer, Otávio Azevedo mudou sua versão e negou que tenha pago propina à campanha.
Na entrevista, Dilma classificou como “estranho” o depoimento do executivo. “No meu caso é propina. No do Temer não é propina?”, questionou. “Eu acho que ele se comportou como um agente político utilizando essa investigação como arma política.”
A ex-presidente criticou ainda o presidente do TSE, ministro Gilmar Mendes, que é responsável por colocar o processo em julgamento. No sábado (19), Mendes disse em São Paulo que o impeachment o deixou com um “duplo sentimento” de felicidade e frustração, pelo Brasil ter superado uma “situação de desordem institucional” e porque demorou para identificar essas “mazelas”.
A petista afirmou que está avaliando pedir a suspeição de Mendes para participar do julgamento de sua chapa no TSE por causa dessas declarações. “Ele perdeu todas as condições de me julgar, não pode ter essas manifestações”, falou Dilma. “O que ele já me julgou fora dos autos não tem explicações, [ele] tem se expressado de uma forma que não é compatível com as atitudes de um juiz.”
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Dilma declarou ainda que não vê um futuro bom para o país caso Temer seja cassado no TSE. Isso porque o julgamento deve ocorrer apenas no ano que vem. E, nesse caso, o Congresso teria de eleger outro presidente (pela lei, se a cassação ocorrer ainda neste ano, antes da metade do mandato, uma eleição por voto popular terá de ser convocado). “Eu não defendo o golpe dentro do golpe, eu não defendo a política do quanto pior, melhor, feita pelo senhor Aécio Neves [senador do PSDB]”, afirmou. Ela disse que a única forma de resolver a situação é com eleições diretas – o que só seria possível nas eleições presidenciais de 2018.
Ministro Geddel
A ex-presidente afirmou na entrevista que as denúncias contra o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, que teria pressionado o ex-ministro da Cultura Marcelo Calero para liberar a construção de um edifício em Salvador, demonstram a desvalorização do governo Temer com a Cultura. “Se ocorre em qualquer governo, ele teria de ser afastado”, disse.
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