Os novos prefeitos das duas maiores cidades do país – São Paulo e Rio de Janeiro – começaram o primeiro dia de trabalho após a posse com gestos de apelo popular. No Rio, Marcelo Crivella (PRB) doou sangue. Em São Paulo, João Doria (PSDB) se vestiu de gari e se comprometeu a fazer, pessoalmente, varrição das ruas da cidade de São Paulo uma vez por semana até o fim de sua gestão.
“Toda semana, em todos os eixos, o prefeito estará lá, vestido de gari, ajudando a limpar a cidade para demonstrar que é trabalhando que nós vamos limpar a cidade. Em quatro anos, todas as semanas”, disse o Doria. O gesto dele simboliza o início do programa Cidade Linda, de ações de zeladoria e limpeza urbana na capital. Além de Doria, também ao lado de seu secretariado também vestido como gari. “É bom vocês acordarem muito cedo”, disse à imprensa.
Doria também se comprometeu a ser catador de recicláveis por um dia durante o evento, ao ser abordado por representantes do movimento social Pimp my Carroça.
Só na promessa
A varrição prometida por Doria, porém, ficou só no gesto: cercado pela imprensa e por cidadãos, o prefeito só conseguiu colher algumas folhas e colocá-las no cesto de lixo em uma ação que durou menos de 10 segundos. Doria ganhou um par de luvas de uma gari que a abraçou. “Posso usar?”, perguntou. “Não, é só para tirar foto e depois você me devolve”, retrucou ela.
Após cerca de uma hora sem conseguir varrer, Doria parou para tomar café em um bar da região. A ação causou tumulto: fotógrafos e cinegrafistas começaram a subir nas mesas do estabelecimento e até no balcão para registrar o momento. O secretário de comunicação Fábio Santos pediu que descessem. “É sacanagem com o bar”, mas não foi obedecido.
Entre os garis a ação foi vista sob diferentes ângulos, da ridicularização ao elogio. “Ele vai virar meme até dizer chega”, disse um deles em meio à multidão. Outros viram o prefeito com bons olhos. “É bom que ele vai conhecer a cidade. Falta organização no centro. Junta muito carroceiro e morador de rua e eles fazem uma bagunça, uma sujeira. Se mexer com eles, partem para cima. Já presenciei muita briga, principalmente na Cracolândia”, diz o motorista dos garis Cleber Pedro da Silva, de 38 anos, há oito meses no cargo.
Reclamação
Alguns moradores de rua ficaram revoltados por terem sido retirados do local. Eles foram convidados a ficar em uma quadra para que a ação fosse realizada. “Tenho duas carroças, a barraca e um cachorro. Não cabe nada na quadra, fora que tira o lazer das crianças”, reclamou Débora Moreira Silva, de 37 anos. Ela disse que a população local foi avisada da ação com dez dias de antecedência.
Outros moradores de rua que já estavam na quadra disseram ter recebido promessas de receber uma bolsa-aluguel para que saiam da rua. “Pegaram o nome de todos que moram aqui”, disse Pâmela de Oliveira, de 37 anos, que está na praça há quatro meses. “Nós também ajudamos a limpar. Eu mesmo tirei duas carroças de lixo daqui”, disse um morador de rua que pediu para não ser identificado.
À reportagem, o secretário adjunto de Assistência e Desenvolvimento Social Felipe Sabará disse que a equipe de Doria já estava no local conversando com os moradores de rua cerca de um mês antes da ação. “Juntamos várias ONGs que trabalhavam com eles para nos ajudar e comunicamos que haveria uma ação de limpeza. Eles mesmos sugeriram o local para ficar (o espaço abrigava um estacionamento em terreno invadido ilegalmente, segundo Sabará)”, disse. Ele destacou que, ao longo da limpeza, desde às 6h, todos tiveram acesso a atendimento médico, odontológico, cabeleireiro e até cadastro para bolsa-aluguel e criação de currículos.
No Rio, incentivo aos doadores
O prefeito do Rio, Marcelo Crivella, doou sangue nesta segunda-feira (2) em sua primeira agenda oficial de governo. Cercado pela imprensa, Crivella esteve presente no Hemorio ao lado da família, de secretários municipais e apoiadores. Segundo o prefeito, o objetivo do primeiro ato público como prefeito é incentivar uma mobilização para aumentar os estoques de sangue do órgão, num período do ano em que historicamente há um recuo no número de doadores.
“Uma cidade é tão desenvolvida quanto o seu nível de solidariedade”, justificou o prefeito, acrescentando que convocou secretários de governo para participarem da doação de sangue.
Segundo Crivella, saúde e educação serão prioridades no seu governo. Ele ressaltou que espera conseguir melhorar o atendimento público de saúde através de parcerias público privadas, mas também com o recebimento de dívidas de planos de saúde com a prefeitura, que hoje estariam em cerca de R$ 500 milhões. “Chegou a hora de chamar o Ministério Público, chamar o Tribunal de Contas, e fazer um acerto de contas”, declarou.
Estiveram presentes no Hemorio, no centro da cidade, o secretário municipal de saúde, Carlos Eduardo, e a secretária de Assistência Social, Teresa Bergher, assim como a mulher, o filho e a nora do prefeito. Segundo Patrícia Moura, diretora técnica do Hemorio, a mobilização é importante porque em período de festas de fim de ano as doações diminuem. No entanto, ela reconheceu que os estoques estão atualmente em patamares razoáveis. “Fizemos bastante campanha nesse período, então os estoques estão em níveis satisfatórios”, disse Patrícia.
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