O operador Mário Goes afirmou que a empreiteira OAS pagou propinas relativas às obras do Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes) por meio da corretora Advalor. A afirmação foi dada em depoimento de delação premiada. Segundo Goes, os repasses corresponderam ao contrato do Consórcio Novo Cenpes, liderado pela OAS, e que incluia ainda as empresas Schahin, Construbase, Carioca Christiani-Nielsen e Construcap. O contrato com a Petrobras foi fechado em 2008 por R$ 849,9 milhões. Mas o valor real pago pela estatal, após 17 aditivos, chegou a R$ 1,8 bilhão. Segundo o delator Pedro Barusco, ex-gerente da estatal, 2% do valor do contrato foi pago como propina — metade para o PT e metade para “Casa”, referindo-se a diretores e funcionários da Petrobras.
Delator deixa prisão e se compromete a pagar R$ 38 milhões de multa
Mais novo delator da Operação Lava Jato, o consultor Mario Goes saiu da prisão nesta quinta-feira (30), após seu acordo de cooperação ser homologado pelo juiz Sergio Moro. Ficou acertado que Goes pagará multa de R$ 38 milhões pelos danos que confessou ter praticado como operador de pagamentos de propinas.
Ele instalou a tornozeleira eletrônica nesta tarde, na Justiça Federal, após encerrar seus depoimentos de colaboração. Foram 13 depoimentos, prestados entre terça (28) e quinta-feira. Na segunda-feira (3), Goes irá depor novamente à Justiça Federal, como réu. O depoimento deveria ter acontecido nesta quinta, mas foi adiado em razão do acordo de delação. Goes estava preso desde fevereiro. Seu primeiro depoimento como colaborador foi prestado na terça à Polícia Federal.
O consultor -que é réu em duas ações penais da Lava Jato, acusado de fazer propinas pagas por empreiteiras chegarem à diretoria de Serviços da Petrobras- disse que foi convidado pelo ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco a usar suas empresas para receber “comissões”.
Goes admitiu ter movimentado ao menos R$ 3,4 milhões e outros US$ 6 milhões, no Brasil e no exterior, para o pagamento de vantagens. Procurada, a defesa do réu não se manifestou até a publicação desta reportagem.
Mário Goes contou ainda em depoimento que os repasses por meio da Advalor foram combinados com Agenor Medeiros, executivo da OAS, e que a construtora centralizava o repasse de propina também das demais empresas do consórcio. O contato na corretora, informou, era feito por Miguel Júlio Lopes, um dos sócios, que lhe passava valores, a serem entregues em dinheiro a Barusco. Para viabilizar a operação, Goes simulou ser cliente da corretora e abriu uma conta investimento. Segundo ele, era Lopes quem buscava o dinheiro nas sedes das empreiteiras, no Rio e em São Paulo.
A OAS, segundo Goes, também fez repasses de propina por meio de uma de suas empresas, a Rio Marine. As propinas somaram R$ 10,2 milhões e envolveram obras dos gasodutos Urucu-Coari (R$ 7,5 milhões) e um aditivo do projeto Pilar-Ipojuca (R$2,7 milhões). Para maquiar a operação, a Rio Marine assinou contrato de falsa prestação de serviços junto a empreiteira.
Segundo o delator, a Advalor também repassou propinas para a construtora WTorre, que teria se beneficiado em uma licitação do “projeto Rio Bravo”. Entre R$ 500 mil e R$ 600 mil foram pagos em dinheiro vivo. Goes afirmou que foi à corretora para pegar o dinheiro com Lopes. Todas essas operações, explicou, ficaram registradas em sua conta investimento na corretora.
Suíça
Goes afirmou que, em determinado momento, a Carioca Christiani-Nielsen deixou de usar o esquema da corretora, adotado pela OAS, e preferiu fazer seus depósitos de propina diretamente, em dinheiro ou em depósitos no exterior. Para os depósitos, usou a conta Maranelle, no banco Safra da Suíça, que pertencia a Goes. Ao contrário das outras empreiteiras, que faziam remessas em dólar, a empreiteira preferia fazer os repasses internacionais em francos suíços. Lopes, da Advalor, continuou a participar do esquema, pois era ele quem ia buscar o dinheiro em espécie na empreiteira.
O delator contou que a propina da Carioca era movimentada por Roberto Moscou e Luís Fernando dos Santos Reis. Moscou foi superintendente da construtora e hoje faz parte do conselho de administração. Reis foi diretor comercial da empresa.
Segundo Goes, os depósitos no exterior corresponderam principalmente às obras que a construtora fez para a Petrobras: Terminal Aquaviário de Barra do Riacho, no Espírito Santo, e GNL da Baía de Guanabara, no Rio. Trata-se do Terminal Flexível de Regaseificação de GNL da Baía de Guanabara, que transfere gás natural para gasodutos Sudeste e atende principalmente as termelétricas da região.