Uma carta apreendida pela Operação Lava Jato revela ameaças de uma ex-amante ao empreiteiro Ricardo Ribeiro Pessoa, da UTC Engenharia. Ela promete "entregar" pessoas ligadas ao doleiro Alberto Youssef e pede, em troca do silêncio, o pagamento de R$ 1,55 milhão para se mudar do Brasil e começar "outra vida" no exterior. Ameaças de uma mulher que ele identificou como Mônica Santos haviam sido narradas pelo próprio Pessoa no depoimento que prestou à Polícia Federal após sua prisão, em 14 de novembro. Ele disse na ocasião que havia tido um "breve um relacionamento" com Mônica, 22 anos atrás, e que ela passou a "lhe importunar" por volta de 2012.
Pessoa disse ter pago cerca de R$ 800 mil a Mônica por meio do doleiro Alberto Youssef, embora um advogado o tivesse aconselhado a abrir um boletim de ocorrência policial. O que Pessoa não contou à PF é que as "importunações" voltaram a ocorrer depois dos pagamentos e incluíam ameaças de delatar à Polícia Federal que Youssef era amigo do empreiteiro.
Youssef havia sido preso em março, na primeira etapa da Operação Lava Jato, e Mônica associou o noticiário à pessoa enviada pelo empreiteiro para fazer tratativas com ela. A mulher disse estar "apavorada" com ligações não identificadas. A carta foi apreendida pela PF no apartamento de Pessoa no bairro Cerqueira César, região central de São Paulo. Mônica escreveu: "Sinto-me ameaçada e com certeza do jeito que [a PF e Receita Federal] estão fiscalizando se vierem para cima de mim, entrego quem conheço e mantém negócios com Alberto Youssef e seus amigos com os devidos endereços". Ela contou que esteve com Youssef e concluiu que "é seu amigo pessoal esse doleiro, como ele me confessou pessoalmente que é seu amigo que você confia nos negócios, são palavras dele".
Mônica diz ainda que tem "tudo registrado em cópias e cópias, horários, dias, pois se soubesse que me colocaria exposta a uma quadrilha não iria aceitar". A mulher diz no bilhete que Pessoa a "envolveu com um bandido, e sem eu saber de nada, muito pelo contrário, você me colocou numa enrascada sem fim".
Mônica orienta o empresário a enviar o valor de R$ 1,55 milhão em espécie, em caixas a serem entregues a uma empresa de aluguel de guarda-volumes em Ribeirão Preto ( a 313 km de São Paulo). A mulher disse precisar do dinheiro para "sair do país e começar outra vida em outro país". "Não estou lhe extorquindo e nem lhe chantageando e não tenho medo de sua pessoa e de suas ameaças, porque a ameaçada moralmente aqui está sendo eu", escreveu a mulher. Pelo contexto e as datas citadas na carta, ela teria sido escrita depois de julho e antes de 1º de outubro de 2014.
Com a carta, a PF encontrou cópias do passaporte e de uma carteira de identidade em nome de Mônica. A reportagem tenta localizar Mônica Santos desde que o depoimento de Pessoa veio à tona, na segunda quinzena de novembro. No telefone citado como seu nos autos da Operação Lava Jato, ninguém atende desde o último domingo (7). A reportagem também a procurou num telefone registrado em seu nome em Itabuna (BA), sem sucesso.
Procurada, a assessoria de imprensa da UTC não havia feito comentários sobre esse assunto até o momento
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