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A demora do Supremo Tribunal Federal (STF) em analisar o mandado de segurança da oposição solicitando a instalação da CPI do Apagão na Câmara, onde o governo Lula dispõe de uma maioria confortável, levou as cúpulas do PSDB e do Democratas a cogitar nesta terça-feira a criação de uma outra CPI, só que no Senado, para investigar o mesmo assunto.

Os líderes dos dois partidos, Arthur Virgílio (PSDB-AM) e Agripino Maia (DEM-RN), devem consultar suas respectivas bancadas e, se a maioria concordar com a idéia de o Congresso ter duas CPIs para investigar o mesmo assunto, eles começam ainda nesta quarta-feira a coletar as 27 assinaturas necessárias para apresentação do requerimento de instalação de uma nova comissão parlamentar de inquérito.

A princípio, os Democratas pensaram em propor aos tucanos um esforço para garantir a instalação de uma CPI mista, para driblar a demora do STF em analisar o recurso da oposição. Mas o PSDB considerou que a iniciativa poderia soar como uma afronta ao STF, que deve definir até o fim do mês se a Câmara terá ou não de instalar a CPI do Apagão requerida pela oposição. Os tucanos concordaram, porém, com os argumentos de que a investigação sobre a crise aérea é fundamental e que, no Senado, as chances do governo de controlar a CPI são menores do que na Câmara.

- Na Câmara, o governo tem maioria, já definiu até mesmo o presidente e o relator da CPI, caso o Supremo dê ganho de causa à oposição - confirmou o presidente nacional do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE).

Confiante de que sua bancada deverá concordar com a criação de uma CPI no Senado, Agripino fazia planos de ampliar o objeto da investigação no Senado.

- Temos de investigar esse duopólio das empresas aéreas, a qualidade de seus serviços e, claro, a Infraero - adiantou o líder do DEM.

Segundo Agripino, essa não seria a primeira vez que a Câmara e o Senado promoveriam investigações paralelas sobre o mesmo assunto, como as CPIs da Nike e do Futebol que investigaram os contratos da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) com alguns patrocinadores da seleção brasileira, assim como as negociações de jogadores com times no exterior. A expectativa da oposição no Senado é de que, se as bancadas do PSDB e DEM concordarem em apoiar uma nova CPI do Apagão, a comissão possa ser instalada até o fim deste mês.

De acordo com Arthur Virgílio, dois fatores teriam contribuído para que os tucanos revissem sua posição inicial de não tomar nenhuma iniciativa antes da decisão do STF: o sussurro de que uma CPI poderia provocar uma crise com as Forças Armadas, caso seja comprovada a participação de algum militar em irregularidades, e as insinuações de alguns governistas de que a investigação poderia levantar contratos suspeitos da Infraero assinados no governo Fernando Henrique Cardoso.

- Jogo de chantagem nós não aceitamos. Isso realmente nos irritou e agora também temos pressa em iniciar uma investigação que, a nosso ver, é inevitável - observou Virgílio.

A proposta de uma investigação dupla no Congresso sobre o apagão aéreo, no entanto, não é um assunto pacífico dentro do PSDB. Muitos tucanos estão preocupados com um possível desgaste da oposição, que no ano passado não conseguiu arranhar como queria a imagem do governo Lula com as investigações promovidas pelas CPIs dos Correios e dos Bingos.

O maior temor é que esse instrumento de investigação do Legislativo acabe banalizado e provoque novos arranhões na já combalida credibilidade dos parlamentares brasileiros.

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