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Beto Richa: pacote anticrise do governo do estado impacto no bolso dos contribuintes. | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
Beto Richa: pacote anticrise do governo do estado impacto no bolso dos contribuintes.| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

O bolso do contribuinte paranaense está ameaçado. Além de uma proposta em instância federal que, se aprovada, trará de volta a temida Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), propostas de um “pacote anticrise” enviadas à assembleia na semana passada pelo governador Beto Richa (PSDB) também podem apertar as contas da população.

Os dilemas dos mentores dos pacotaços de Dilma Rousseff e Beto Richa

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Da parte do governo federal, o Congresso deve receber ainda nesta segunda-feira (21) a PEC que recria a CPMF, o chamado “imposto do cheque”, contribuição que incide sobre movimentações financeiras. O texto, no entanto, enfrenta barreiras entre os parlamentares, sobretudo, da oposição. Contrário às medidas de aumento de receita que vêm sendo discutidas pela presidência, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse achar difícil a aprovação do caminho encontrado pelo governo para driblar a crise econômica que afeta gravemente o país.

Infográfico: Veja as principais medidas anunciadas pelo governo federal para aumentar a arrecadação.

A situação financeira também nada confortável do Paraná fez o governador Beto Richa anunciar, no início de setembro, a adoção de alíquotas progressivas para o Imposto sobre a Transmissão Causa Mortis e Doações de Quaisquer Bens ou Direitos (ITCMD) – que acabou sendo retirado do “pacotaço” para tramitar à parte.

A proposta prevê redução ou isenção da cobrança para heranças e doações de bens e dinheiro de até R$ 500 mil, mas aumento para transações acima deste valor. Um dos pontos mais polêmicos disso é a previsão de taxar os imóveis de herdeiros que morem na residência da pessoa que morreu e que não tenham outros imóveis, o que chegou a ser argumentado pela OAB-PR. Hoje, eles não têm de pagar o imposto sobre herança.

No pacote emergencial, foram mantidas medidas como a que aumenta o Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) em compras feitas por internet ou telefone em outros estados. A ideia é que a diferença na taxa cobrada pelo estado de origem em relação ao Paraná, se houver, seja bancada pela empresa que comercializou o produto.

Na prática, porém, as empresas poderão repassar esse custo adicional ao consumidor do estado. Ainda caso a diferença não seja recolhida pelo próprio estabelecimento, o valor deve sobrar integralmente para o comprador, sendo que a determinação, se aprovada, valerá também para as transportadoras dos produtos.

Professor do curso de Ciências Econômicas da PUC-PR, Másimo Della Justina analisa que a postura dos governantes de apelarem para o aumento de tributos em épocas de crise é reflexo da estrutura econômica brasileira, atada à concentração de renda sistemática.

“Quanto tem uma crise, todos acabam prejudicados. Mas quando o Brasil está com a economia forte não necessariamente todo mundo se beneficia com esse desenvolvimento”, argumenta o professor.

Ele acredita que a falta de “gingado” dos responsáveis pelas administrações públicas também impacta as ações emergenciais que precisam ser definidas para controlar o desequilíbrio entre a arrecadação e os gastos. “Quando a economia cresce, o que se deveria fazer era aumentar o preço dos serviços, para baixá-los em tempos de crise. Mas, nem todo mundo tem a mentalidade do José do Egito, dos sete anos de vagas gordas e sete anos de vacas magras, para evitar grandes efeitos”.

Volta da CPMF

Na tentativa de equilibrar o orçamento da União – com déficit previsto de R$ 30,5 bilhões para ano que vem – o Ministério da Fazenda anunciou na semana passada cortes de gastos na ordem de R$ 26 bilhões e a volta do tributo nos moldes da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) para elevar a arrecadação e ajudar a fazer superávit primário (economia para pagar os juros da dívida) em 2016.

Ainda que o texto estabeleça um novo tributo com alíquota de 0,2% e duração de quatro anos, a taxa pode ser elevada pelos parlamentares 0,38%, sendo 0,18% repassados a estados e municípios.

A previsão é de que a volta do imposto, que vai enfrentar a recusa da oposição no Congresso, gere uma arrecadação R$ 32 bilhões à União às custas população, que vai pensar duas vezes antes de recorrer às facilidades das transações bancárias.

Extinta em 2007 pelo Senado Federal, após vigorar por mais de uma década, a CPMF incide sobre movimentações financeiras feitas por pessoas físicas, como saques em dinheiro, transferências, pagamento de fatura de cartão de crédito e pagamento de contas por meio de boletos.

Na mesma leva, entra outra proposta que pode mexer com o dinheiro do cidadão: a elevação das alíquotas do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF), sobre ganho de capital progressivo para operações de venda envolvendo valores superiores a R$ 1 bilhão. As alíquotas que podem variar de 5 a 15 pontos percentuais em relação à taxa cobrada hoje (15% sobre o valor vendido).

Embora os governos justifiquem a elevação tributária como alternativa à crise que afeta o país, Della Justina acredita que as decisões precisam ser pensadas também futuramente, para prever o efeito líquido das medidas. Isso deve se embasar, sobretudo, em outras alternativas que não recaiam diretamente sobre o cidadão - como o corte de gastos.

“Na prática, o governo, pensando que vai ser mais eficiente e arrecadar mais, inventa mais tributos e aborrece o contribuinte. Mas esquece a parte da eficiência. Nesse momento de crise, os governos precisam se olhar no espelho e se perguntar ‘precisamos destes ministérios, destas agências, destas secretarias?’. É uma boa hora de os governos diminuírem seus tamanhos”.

Medida Descrição Impacto Afetados
CPMF Recriação da CPMF, imposto que incide sobre operações financeiras, com alíquota de 0,20%. Objetivo é que a CPMF não dure mais de quatro anos. R$ 32 bilhões em arrecadação Toda a população
Imposto de Renda Aumento da alíquota do Imposto de Renda de pessoa física sobre ganhos de capital. O aumento do IR terá 4 alíquotas, que vão de 15 a 30%, esta para ganhos de capital acima de R$ 20 milhões. R$ 1,8 bilhão Quem apontar aumento de capital na Declaração do IR
Redução do gasto tributário Redução das compensações do Reintegra, programa que devolve parte das receitas obtidas através de exportação de produtos industrializados, de forma gradual. R$ 2 bilhões em economia Empresas exportadoras
Redução PIS/Cofins Redução da alíquota de PIS/Cofins no Regime Especial da Indústria Química. R$ 800 milhões em economia Indústrias do setor químico
Mudança no Sistema S Mudança na dedução de valores do Sistema S. R$ 2 bilhões em economia Entidades do Sistema S, como Sesi e Senac.
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