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Velas pedem paz para o Rio na Cinelândia

Acuada pela violência, a sociedade carioca tenta reagir. Ainda que timidamente, a população se mobiliza em manifestações para gritar contra os homicídios, as balas perdidas, os assaltos e as agressões rotineiras. Na noite desta segunda-feira, cerca de cem pessoas acendem velas, na Cinelândia, para protestar contra a violência. O ato conta com a presença de amigos e parentes de vítimas, além de artistas. O vocalista da banda Detonautas, Tico Santa Cruz, que está usando uma camisa preta onde está escrita a palavra "perseverança", prega a união da sociedade.

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Foi enterrado na manhã desta segunda-feira, no Cemitério de Inhaúma, o corpo do professor de educação física Vladimir Novaes de Araújo, de 28 anos, morto na madrugada de domingo ao ser atingido no peito, na Avenida dos Democráticos, em Manguinhos, por uma bala perdida. Cerca de 200 pessoas participaram do enterro, que terminou com aplausos e gritos de Justiça. O pai da vítima, o jornalista Lênin Novaes, lamentou a falta do princípio de autoridade. Ele pretende cobrar da Secretaria de Segurança melhores investigações sobre os casos de balas perdidas. Só este mês, 30 pessoas já foram vítimas de balas perdidas, sete delas morreram (incluindo Vladimir).

Os amigos e familiares de Vladimir pretendem fazer um protesto na Cinelândia, no dia 10 de abril, data em que Vladimir completaria 29 anos. Eles devem se unir a uma caminhada contra a violência que já está marcada para o mesmo dia, às 18h. O jovem vinha se envolvendo com um projeto social que atende a jovens carentes da Vila Cruzeiro, na Penha, para quem dava aulas de musculação.Janela perfurada por tiro

Vladimir, que voltava do trabalho para casa, na Penha, viajava numa Kombi, que teve a janela perfurada por um tiro. O disparo atravessou o pulmão e atingiu a aorta do professor. Ele era filho do jornalista Lênin Novaes de Araújo, conselheiro da Associação Brasileira de Imprensa (ABI). Além dar aulas de educação física, Vladimir trabalhava à noite como segurança interno do Clube dos Democráticos, no Centro, que virou ponto de encontro de jovens da classe média.

O professor de Educação Física morto. Reprodução: Marcelo Carnaval O tiro que matou o professor teria sido disparado por traficantes na saída de um baile funk , na Favela de Manguinhos. A jornalista Júlia Cruz, ex-mulher de Lênin, contou que Vladimir estava dormindo no momento do disparo. Segundo ela, o motorista da kombi chegou a levá-lo ao Hospital Getúlio Vargas, na Penha, mas morreu ao chegar à emergência. Durante o velório, a mãe do rapaz, Creusa das Graças, com quem Vladimir morava, teve uma crise nervosa e queda de pressão.

No perfil do site de relacionamentos Orkut, o jovem se dizia apaixonado pelo Flamengo e pela Mangueira. Tinha quatro irmãos e começaria uma pós-graduação este ano, segundo o pai.A desgraça das balas perdidas

Uma reportagem exibida pelo "Fantástico", da Rede Globo, em janeiro, revelou que 170 pessoas foram atingidas por balas perdidas na Região Metropolitana do Rio no ano passado - 44 morreram e 126 ficaram feridas. De acordo com esse levantamento, a cada dois dias uma pessoa é ferida por bala perdida. Nas delegacias, esses casos não são registrados separadamente: são considerados homicídio ou lesão corporal se a vítima não morre, o que dificulta traçar um perfil mais detalhado do problema.

Um dos casos mais recentes, conforme informou no domingo a coluna de Ancelmo Gois no jornal "O Globo", aconteceu na sexta-feira, quando uma bala perdida atingiu o gabinete da juíza da 39ª Vara Previdenciária Federal, na Avenida Venezuela, no Centro.Página de Vladimir no Orkut. Reprodução de Marcelo Carnaval No início do mês, a empregada doméstica Vanessa Calixto dos Santos, de 24 anos, morreu dias depois de ser baleada numa localidade conhecida como Rocinha 2, na Cidade de Deus, em Jacarepaguá, quando ia buscar o filho caçula, de 2 anos, num Ciep. Dias antes, a menina Alana Ezequiel , de 13 anos, morreu após ser atingida por um tiro durante confronto entre policiais militares e traficantes do Morro dos Macacos, em Vila Isabel, Zona Norte, na manhã do dia 5 de março.

O levantamento feito pela equipe do "Fantástico" revelou ainda outros dados: dos 170 casos de balas perdidas verificados, 35 eram de crianças com menos de 13 anos e 11 eram de adolescentes (14 a 18 anos). Entre as vítimas adultas, 86 eram homens e 38 mulheres.

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