Especialistas em relações internacionais afirmam que a visita do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, é uma tentativa do Brasil de, ao agir como mediador de conflitos internacionais, mostrar que pode ter um assento permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). Mas alguns deles também advertem que essa visita, em vez de ajudar a ganhar a cadeira, pode afastar o país dela.
Para o professor de Relações Internacionais da PUC-SP, Reginaldo Nasser, ao discutir com Ahmadinejad o programa nuclear iraniano e o processo de paz no Oriente Médio, o Brasil pretende avançar como mediador de conflitos internacionais. Se a iniciativa for bem-sucedida, o país ganha mais respaldo na busca pela cadeira na ONU.
"Estados Unidos, Israel e seus aliados tradicionais na Europa não se manifestaram a favor do encontro entre Lula e Ahmadinejad. Apesar disso, acredito que (o presidente dos EUA, Barack) Obama vê com bons olhos o encontro, pois sabe que é mais fácil o Irã se moderar do que o Brasil se radicalizar", afirma Nasser.
A pesquisadora Cristina Pecequilo, professora de Relações Internacionais da Universidade Estadual Paulista (Unesp), lembra que Ahmadinejad é o terceiro representante do Oriente Médio que visita o Brasil em um curto espaço de tempo. Na última sexta-feira, o presidente Lula se encontrou com o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahamoud Abbas. Uma semana antes, o presidente de Israel, Shimon Peres, esteve no Brasil.
"Essa visita se insere nos esforços do país em conseguir um assento permanente no Conselho de Segurança", comenta Cristina, que lembra que esses esforços passam por um engajamento do país em participar das negociações de paz no Oriente Médio. "Se o Brasil quer um espaço da ONU, é importante que participe dessas discussões."
Na avaliação do historiador Marcos Dias de Araújo, professor de Relações Internacionais da Universidade Tuiuti do Paraná, o Brasil se apresenta nessa discussão como "um mediador muito mais retórico do que com uma proposta efetiva". Ele afirma que, na prática, o encontro envolve muito mais interesses econômicos do que diplomáticos.
Já Heni Cukier, ex-funcionário do Conselho de Segurança da ONU e professor de Relações Internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), afirma que o apoio iraniano ao Brasil pode atrapalhar as pretensões de ter um assento permanente. "O Irã é reconhecido pela ONU por desafiar normas internacionais e por representar uma ameaça aos países vizinhos com sua postura imperialista. Então, só atrapalha o Brasil," sintetiza Cukier. Samuel Feldberg, professor de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP), concorda que o desgaste do país em receber o líder iraniano é maior do que o apoio que recebeu.