Documentos obtidos pela edição desta semana da revista Época indicam que o ex-ministro-chefe da Casa Civil Antonio Palocci recebeu R$ 12 milhões de 30 empresas em 2010, quando coordenou a campanha presidencial de Dilma Rousseff. Entre as empresas das quais o petista recebeu pagamentos, mas não conseguiu comprovar o serviço de consultoria, estão o Grupo Pão de Açúcar, através do escritório do criminalista Márcio Thomaz Bastos, a empresa do setor frigorífico JBS e a concessionária Caoa.
O ex-ministro é investigado pela Justiça Federal do Paraná por suspeita de repasse de dinheiro do esquema da Petrobras para a campanha da presidente Dilma Rousseff em 2010.
De acordo com a revista, o ex-ministro recebeu R$ 5,5 milhões em 11 parcelas do escritório do advogado e ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, morto no ano passado. A origem do dinheiro, segundo a reportagem, é o Grupo Pão de Açúcar, que negociava fusão com as Casas Bahia. Não foi identificado nenhum comprovante da prestação dos serviços da Projeto, consultoria de Palocci. Os repasses, segundo a revista, foram feitos entre dezembro de 2009 e dezembro de 2010. A suspeita do Ministério Público Federal se deve ao fato de, além de não haver contrato por escrito, o Pão de Açúcar dizer que não houve nenhuma reunião com o ex-ministro da Casa Civil. Ele deixou o cargo depois de não conseguir explicar como multiplicou seu patrimônio por 20 em quatro anos.
A Época revela ainda que há uma investigação sigilosa do Ministério Público Federal em torno de 30 empresas que pagaram a Palocci. O período em que coordenou a campanha presidencial de Dilma Rousseff, em 2010, teria sido o que mais prosperou financeiramente.
Dona do Pão de Açúcar investigará pagamento a ex-ministro
A Companhia Brasileira de Distribuição, dona da marca Pão de Açúcar, informou neste domingo (19) que solicitará ao comitê de auditoria interna do grupo empresarial a abertura de investigação sobre suposto pagamento realizado ao escritório de advocacia do ex-ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça), morto no ano passado.
Leia a matéria completaNa lista dos pagamentos suspeitos estão os valores repassados pela JBS, que buscava um sócio no mercado de frango nos EUA. Logo após a consultoria, a JBS recebeu financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). A JBS doou à campanha de Dilma R$ 13 milhões em 2010 e R$ 70 milhões em 2014. Segundo a revista, Palocci recebeu da JBS R$ 2 milhões entre 2009 e 2010. De acordo com a Procuradoria, o ex-ministro diz ter ajudado a JBS na busca pelo sócio norte-americano. A empresa, no entanto, diz que não o contratou.
Já a concessionária Caoa procurava um parceiro no mercado chinês. Logo após os serviços de Palocci, o Congresso teria aprovado um benefício fiscal que ajudou a empresa. O petista também não conseguiu comprovar os serviços prestados a essa empresa. De acordo com a revista, o ex-ministro recebeu R$ 4,5 milhões da empresa entre julho e dezembro de 2010. A Caoa também negou a consultoria.
Em nota, a Projeto, consultoria de Palocci, afirma “que as atividades e recursos não têm nem nunca tiveram qualquer relação com a referida campanha eleitoral”.
Oposição quer ouvir Palocci e José Dirceu
- brasília
- Estadão Conteúdo
Parlamentares da CPI da Petrobras querem convocar o ex-ministro-chefe da Casa Civil Antonio Palocci após a revelação de que ele teria recebido R$ 12 milhões de empresas em 2010. A deputada Eliziane Gama (PPS-MA) informou que vai propor ao colegiado a convocação imediata do ex-ministro. Eliziane quer também acesso aos sigilos de Palocci e de sua empresa de consultoria, a Projeto. A deputada já apresentou proposta para ouvir o petista, mas o requerimento ainda não entrou na pauta de votações da comissão.
Outro foco da oposição é o ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu. Já foram apresentados pedidos de convocação de Dirceu, além da quebra dos sigilos fiscal, telefônico e bancário do petista e de sua empresa a JD Consultoria. Os oposicionistas acreditam que foram montadas consultorias de fachada a empreiteiras envolvidas no esquema de desvio de dinheiro na Petrobras.
“Percebe-se, com o avançar das investigações do ‘Petrolão’, que a engenharia usada por estes ex-ministros é muito parecida: montam-se consultorias para fechar contratos com grandes empresas, o pagamento é feito pelos empresários e o produto que se entrega são benesses do governo [licitações milionárias, parcerias em obras federais e empréstimos oficiais]. E, lógico, isso não seria intermediado se estes consultores não tivessem trânsito livre no Planalto”, disse a deputada em nota.