Embora a iniciativa da Assembleia Legislativa de mostrar à população a prestação de contas dos 54 deputados estaduais tenha sido considerada um avanço, o Portal da Transparência no ar há 18 dias poderia ser melhor. Faltam informações sobre a situação funcional dos servidores de carreira e comissionados; detalhes sobre os gastos administrativos e sobre a posição política; e a frequência dos deputados nas sessões.
Essa é a opinião de especialistas que, a pedido da Gazeta do Povo, avaliaram o conteúdo do novo Portal e apresentaram sugestões para tornar a Assembleia Legislativa mais transparente (veja quadro acima).
Todos concordam que a criação do Portal foi um marco importante na história do Legislativo paranaense, mas dizem não compreender a ausência de informações essenciais, como por exemplo, o cargo do funcionário, o gabinete onde está lotado e o salário. "A contratação de servidores é uma fonte inesgotável de corrupção nas casas legislativas, que envolve nepotismo, clientelismo e divisão de salários", disse Fabiano Angélico, coordenador de projetos da ONG Transparência Brasil.
Ele cita como exemplo as prefeituras de São Paulo e de Campinas, que divulgam até mesmo os salários dos funcionários. Para Angélico, tornar pública a situação funcional completa permitiria maior controle do parlamento.
Os analistas não veem qualquer problema legal em apresentar esses dados. "Inconstitucional seria dizer o que o cidadão fez com o salário, mas quanto o órgão público pagou é mais do que obrigação (divulgar). Vários países do mundo fazem isso", afirma Gil Castelo Branco, economista e consultor da organização não governamental Contas Públicas.
Notas fiscais
A falta do nome das empresas que prestam serviços ou vendem produtos para os deputados também é considerada como uma falha. No Portal, aparecem as despesas do deputado com alimentação, combustível e hotéis entre outros, acompanhado do número do Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ) da nota fiscal, porém sem o nome do fornecedor.
Para Castelo Branco, seria desejável que todos pudessem saber o que foi comprado e o nome da empresa. "Nem todo mundo tem a facilidade de descobrir o nome da empresa apenas com o CNPJ. Isso é pseudotransparência. É preciso divulgar até a nota para maior controle. Se foi de gasolina, quantos litros gastou. Se foi de refeição, quantas pessoas almoçaram para saber se houve excesso. Mas, da maneira como está colocado, não é possível", avalia.
O consultor compara o Portal da Transparência com o site do Senado, que divulga até despesas com festividades e homenagens. Já no Legislativo do Paraná, as despesas administrativas estão agrupadas da maneira mais resumida possível. "Transparência tem que ser plena, não basta divulgar meia dúzia de informações", pondera Castelo Branco.
No Portal da Transparência estão a prestação de contas da verba de ressarcimento de R$ 27,5 mil dos deputados e os gastos gerais da Assembleia Legislativa. A lista de funcionários da Casa até hoje ainda não está disponível.
O presidente da Assembleia Legislativa, Nelson Justus (DEM), tem declarado que o Portal será aperfeiçoado e que está avaliando algumas sugestões recebidas da população via e-mail, que poderão ser disponibilizadas no site, como a postura dos deputados nas votações, o currículo de cada um e a frequência nas sessões plenárias.
Serviço:
O Portal da Transparência pode ser acessado em www.aleppr.com.br.
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