Para analistas, falta conteúdo no Portal
Embora a iniciativa da Assembleia Legislativa de mostrar à população a prestação de contas dos 54 deputados estaduais tenha sido considerada um avanço, o Portal da Transparência no ar há 18 dias poderia ser melhor. Faltam informações sobre a situação funcional dos servidores de carreira e comissionados; detalhes sobre os gastos administrativos e sobre a posição política; e a frequência dos deputados nas sessões.
Gastos incluem contratação de pesquisas
A contratação de pesquisas de opinião pública é um dos "serviços técnicos profissionais" preferidos pelos deputados estaduais. Nessa categoria de despesa podem ser pagos profissionais para prestar consultoria em qualquer área. A novidade é o uso do dinheiro para "ouvir" a população.
Muitos deputados estaduais utilizam a verba de ressarcimento da Assembleia para "comprar espaço" em veículos de comunicação não apenas anúncios, mas também matérias e entrevistas. A justificativa é que essa seria a única forma de divulgar as atividades parlamentares.
O valor repassado não é pouco. O deputado Fernando Scanavaca (PDT) lidera os gastos com "Divulgação da Atividade Parlamentar". Pagou, por exemplo, R$ 2 mil para o jornal Umuarama Ilustrado e R$ 2 mil para a Rádio Bianca.
Segundo a direção do Umuarama Ilustrado, o deputado compra espaços para divulgar realizações e mensagens de felicitações em datas comemorativas da cidade. Coincidentemente, em agosto Scanavaca foi citado 11 vezes no jornal: seis em colunas e quatro em reportagens, todas referentes a eventos, como entrega de viaturas para a Polícia Militar. O gerente da Rádio Bianca, Vanderlei Belini disse que o deputado, além de divulgar mensagens, apoia shows na cidade. "Ele ajuda a trazer os cantores", disse.
Scanavaca foi procurado pela reportagem, mas não retornou às ligações.
Vice-campeão nos gastos, Chico Noroeste (PR) afirma que a compra de espaços nos meios de comunicação é a única forma de prestar contas do seu trabalho aos eleitores da região de Foz do Iguaçu. Ele gastou R$ 6.300 com publicidade R$ 3.420 foram pagos a uma empresa de outdoors e R$ 1.500 a uma rádio local. "A gente não compra o jornal, não compra a rádio. A gente contrata os serviços dos meios de comunicação para que eles possam divulgar nossas atividades."
Ademir Bier (PMDB) pagou R$ 5.750,00 para rádios e jornais da Região Oeste. O valor mais alto R$ 1,5 mil foi para a rádio Portal da Costa Oeste, em São Miguel do Iguaçu. Segundo sua assessoria, grande parte da mídia no interior trabalha vendendo espaços. "Tem vários jornais na região que só publicam matéria daquele que colabora. Infelizmente é assim", diz Luciano de Miguel, assessor de Bier.
Em Ponta Grossa, dois deputados apresentaram notas fiscais referentes ao pagamento ao jornal O Portal , de propriedade de Valter Sâmara, agropecuarista conhecido pela amizade com o presidente Lula. Péricles Mello (PT) repassou R$ 1 mil ao jornal e Jocelito Canto (PTB), R$ 1,2 mil. "É para divulgação do trabalho parlamentar. A Assembleia permite gastos com meios de comunicação", diz Canto.
Mário Roque (PMDB) repassou R$ 1.600,00 ao Jornal dos Bairros, de Paranaguá. O próprietário do periódico, Gilberto Fernandes, admite receber dinheiro para publicar matérias produzidas pela equipe do deputado. "Nem erro eu corrijo. Ele paga este valor por quatro edições no mês", explica sem constrangimento. Segundo o próprio Fernandes, o espaço do deputado em cada edição é de até três reportagens.
O prefeito de Paranaguá, José Baka Filho (PDT), adversário político de Roque, afirma que o patrocínio do deputado refletiu no posicionamento do jornal com relação à prefeitura. "Ele tem sido até cruel. Ele se aliou ao Roque e tem feito um jornal de crítica", afirma. Ao mesmo tempo, Baka também admite que isso aconteceu porque deixou de patrocinar o jornal devido à queda de arrecadação por causa da crise financeira.
Já o deputado Luiz Nishimori (PSDB) procurou ocupar espaços em toda a sua base eleitoral. Ele repassou R$ 2.325,00 a quatro veículos de comunicação só em Maringá. "Não é sempre, só a entrevista que a gente paga. Normalmente, pago algum anúncio, algumas coisas de aniversário de cidades da região, coisas que foram feitas", admite.
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